Nós somos estimados por Gaia, ainda que
não estejamos conscientes disto e estejamos muito ocupados e presos aos nossos
afazeres diários.
Gaia nos considera e nos convida a nos
conectarmos com Ela, pois deseja incitar a nossa memória e nos trazer a
recordação de algo.
Trata-se de algo velho e precioso que no
mundo moderno parece ter sido esquecido.
Trata-se da segurança natural de estar
na Terra.
Ao nos lembrarmos da segurança natural
do ser, nós podemos observar a natureza ao nosso redor.
Observemos as estações, como elas vêm e
vão por si mesmas, vejamos as plantas e os animais em sua vida diária, ouçamos
o sussurro do vento ou o murmúrio da água.
Deste modo, somos brevemente lembrados
de que as coisas mais importantes na vida acontecem automaticamente, como
resultado de a natureza seguir o seu curso.
A natureza está ao redor de todos nós e
está em nós também, pois nós temos uma natureza e somos parte da natureza como
um todo.
Especialmente no Ocidente, nós ficamos
tão orientados em viver a partir da nossa cabeça, que nos esquecemos de que somos
seres naturais, como as plantas e os animais.
Observemos os animais, como eles se
entregam naturalmente à vida.
Eles quase não podem fazer de outra
maneira.
Eles conhecem emoções, tais como o medo
e a resistência, mas não podem opor-se à vida tanto quanto os humanos podem.
Os seres humanos podem, através do
pensamento excessivo, criar uma prisão para a sua própria natureza e isto
causará problemas após algum tempo.
A vida não pode ser organizada e
controlada pelo pensamento humano.
As forças primordiais da natureza são
mais vastas do que isto.
Mais cedo ou mais tarde nós descobriremos.
Haverá um momento no qual teremos que nos
entregar à natureza.
Frequentemente nós alcançamos tal
momento através de uma crise, uma situação em que ficamos presos e isto nos pede
que libertemos o controlo, porque nós não mais temos domínio em relação às
coisas em nosso interior ou ao nosso redor.
Libertar o controlo é doloroso e pode
ser um conflito.
Entretanto, isto nos levará ao lar.
Nós pensamos que estamos perdidos e nos
afogando no caos, mas estamos realmente nos aproximando mais da segurança
natural do nosso próprio Ser.
A vida nos considera e nos ama.
As crises frequentemente parecem ser
cruéis e injustas, mas na verdade elas sempre mantêm o convite da natureza, ou
se quisermos, o convite de Deus que diz: "Venha para casa, volte para
mim."
Há uma mão orientadora na crise, que
busca apoiar-nos e nos mostrar o caminho.
Todos nós que lemos isto estamos na
jornada interior à integridade e ao aperfeiçoamento do eu.
Nós estamos procurando manter viva a nossa
alma em um corpo humano de carne e sangue.
Nesta jornada nós passamos por
diferentes estágios.
A alma se encarna - ou desce - ao corpo
em diferentes estágios.
Quando nós começamos a jornada interior,
provavelmente ter-nos-emos tornado familiarizados com isto através de nossa
cabeça.
Por exemplo, nós podemos ter sido
atraídos a determinados livros ou pessoas, que lançam uma luz diferente nas
ideias e valores que sempre tomamos por certo.
Nós podemos ser abalados por nossos
pensamentos novos, e, entretanto, estranhamente atraídos a eles.
Nós ficamos fascinados ao lermos e ouvirmos
mais sobre isto.
Nós deixaremos ir algumas estruturas
mais rígidas do nosso pensamento e acederemos a algo novo.
Ler e conversar com outras pessoas
atentas podem ser incentivos úteis neste processo.
É assim que a jornada interior começa
para muitos.
Nós devoramos livros sobre a espiritualidade
como se fossem biscoitos.
Bem em nosso interior algo quer
despertar e mudar, e isto se traduz primeiro como a necessidade por um novo
modo de pensar.
Após algum tempo, começamos a almejar
mais.
Nós começamos a pensar: "Bem, eu
compreendo o que eles estão falando naqueles livros, mas como eu aplico tudo
isto a minha própria vida? Como este conhecimento entra em vigor e como eu o
aplico verdadeiramente aos meus sentimentos e acções na Terra?"
Esta questão pode perseguir-nos e
conduzir-nos ao desespero, mas nós não podemos apressar a vida.
Entretanto, em um determinado momento,
algo acontecerá na nossa vida que nos ajudará a fazer a passagem da cabeça ao
coração.
Frequentemente é uma crise de algum
tipo.
As mudanças podem ocorrer na área do trabalho,
dos relacionamentos, da saúde, ou a perda de um amado.
Seja o que for, em um determinado
momento, os sentimentos surgirão dentro de nós e serão tão intensos, que não
poderão ser ignorados.
Nós temos que aceitá-los e deixar que
ocorra a transformação.
É quando a alma se arraiga mais
intensamente em nosso coração.
Primeiro a nossa alma desceu à nossa
cabeça, inspirando-nos a absorver novas ideias através de livros, palestras,
etc.
Então a alma bate à nossa porta a um
nível mais profundo, ao nível do sentimento.
Nós ficaremos familiarizados com as
camadas de emoções que nunca soubemos que existiam.
As crises estimularam estas.
Elas farão com que velhas emoções da
infância venham à superfície, talvez até memórias anteriores a esta existência.
Exploraremos estas camadas de emoções e
é assim que o nosso centro cardíaco se abre.
A nossa alma se arraiga mais
intensamente, preenchendo o nosso chacra cardíaco com a sua energia.
A transformação que ocorre neste estágio
pode originar várias complicações.
Nós começamos a encarar o mundo com
olhos diferentes e os nossos relacionamentos com outras pessoas mudam também.
Interiormente, a consciência da unidade
desperta.
A consciência da unidade significa que nós
compreendemos que todos nós, homem, animal, planta, natureza, estamos unidos
através de uma força divina, e que estamos ligados uns aos outros e que cada um
é um reflexo para o outro.
Esta consciência pode ser dominadora e
para muitos de nós a passagem da cabeça para o coração provoca interiormente
uma grande sensibilidade.
Esta grande sensibilidade pode criar
desequilíbrios.
Os limites com os outros ficam
indistintos, nós podemos absorver muitas coisas emocionais de outras pessoas,
sem sabermos como libertá-las e o nosso ânimo pode ir do mau humor à alegria, à
animação.
A passagem da cabeça ao coração,
entretanto, embora poderosa e essencial, não é o último estágio na encarnação da
alma.
A alma quer descer até mais
profundamente, ao abdome.
Quando a alma desce ao nível do nosso
coração, nós despertamos parcialmente.
Nós estamos conscientes dos nossos
pensamentos, nós ousamos encarar as nossas emoções, nós estamos preparados para
nos interiorizarmos e nos defrontarmos com as nossas feridas internas.
Mas também nos sentimos debilitados pela
nossa grande sensibilidade e pela instabilidade que surge devido a isto.
Pelo facto do nosso coração estar tão
cheio de sentimentos, nós perdemos a nossa ancoragem às vezes, e isto pode ser
difícil.
Isto acontece a muitos de nós.
Quando o centro cardíaco está
radicalmente aberto, a nossa sensibilidade pode ser excessiva para nós e podemos
querer nos retrairmos do mundo.
Nós não mais nos expressaremos
criativamente, porque tudo é muito opressivo.
Isto pode fazer com que nos sintamos
ansiosos e deprimidos.
A resposta a este problema não é
retornar à nossa cabeça.
A resposta está em nosso abdome.
Nós estamos preparados para a próxima
etapa no processo de encarnação da alma: a transição do coração ao abdome.
A alma quer fluir até mais intensamente
em nosso corpo.
No meio do nosso abdome, há um espaço ou
ponto do silêncio.
Vamos até lá com a nossa consciência
agora.
Neste espaço não há linguagem, nem
pensamentos, nem conceitos.
Nós podemos ouvir o ruído das folhas ao
vento ou o som do movimento das ondas.
Aqueles sons podem ajudar-nos a nos
conscientizarmos do silêncio que está dentro deste centro.
Neste nível, o nosso conhecimento
espiritual e os sentimentos se tornam instintivos, ou como são chamados, a
segunda natureza.
Não há necessidade de pensar ou até
considerá-los.
Uma profunda inteligência está presente
a partir dos nossos actos e a vida flui através de nós facilmente.
Nossa alma se tornou a nossa natureza,
ela desceu ao nível da consciência instintiva.
Isto nos dá o equilíbrio que precisamos!
Nós podemos permanecer centrados e
calmos no meio de um meio turbulento e exigente.
O centro dos nossos sentimentos (o nosso
coração) quer se conectar com o nosso abdome, a fim de que ele seja
verdadeiramente ancorado e para que nos sintamos seguros na Terra.
Vamos agora visitar este espaço em nosso
abdome. Confiemos que está lá.
Digamos à nossa alma que ela é bem-vinda
lá.
Permitamos que a nossa alma flua da nossa
cabeça, inspirando o nosso pensamento, ao nosso coração, irradiando amor e
bondade, ao nosso abdome, dando-nos confiança, auto-estima, uma sabedoria
interior profunda que nós somos quem somos e que nós estamos bem como estamos.
Sintamos o nosso abdome abrindo-se para nós.
Sintamos como a luz dourada da nossa
alma flui para baixo, para o nosso chacra raiz e se conecta com Gaia, a Terra.
Interiorizemos-mos profundamente.
Estejamos no centro do silêncio e saibamos
que de lá, a nossa grande sensibilidade será equilibrada com a paz e a
tranquilidade.
Neste estado de equilíbrio, nós saberemos
como colocar limites ao redor dos nossos sentimentos.
Nós saberemos quando devemos nos abrir e
quando devemos manter a nossa distância, permanecendo atentos a nós mesmos.
Nós determinamos quando dizemos
"sim" e quando dizemos "não", quando devemos nos conectar,
e quando devemos deixar ir.
A chave está em nosso abdome.
Para ajudar-nos a nos conectarmos com este centro, imaginemos
um animal que represente o poder interior que reside em nosso abdome.
Aceitemos o primeiro animal que venha à
mente.
Lembremos-mos, os animais são criaturas
muito espontâneas, eles vivem através dos seus instintos, de seus reflexos
naturais.
Este animal reflecte a nossa sabedoria
interior instintiva.
Ele está sempre lá. Ele está esperando
por nós.
Nós não precisamos criá-lo, precisamos
somente vê-lo e reconhecê-lo.
Convidemos este animal para que se
aproxime de nós, digamos "olá" para ele e o olhemos no olho.
Agora perguntemos-lhe se ele tem uma
mensagem para nós, ajudando-nos a penetrar mais profundamente em nosso abdome.
Deixemos o animal falar.
O animal agrega a sabedoria do instinto
e nós podemos receber esta sabedoria, porque nós temos uma cabeça e um coração.
Nós podemos sentir e articular esta
sabedoria. Esta é a beleza da cooperação entre cabeça, coração e abdome.
Nenhum deles é melhor ou superior ao
outro.
Na verdade, é a sua cooperação
equilibrada que os torna íntegros e completos.
A nossa cabeça pode-nos dar muito
prazer.
O pensamento pode ser útil e divertido.
Ele nos dá a oportunidade de nos comunicarmos
com outros, pois ele proporciona uma linguagem comum.
O coração oferece a possibilidade de
experimentar a alegria e toda uma variação de emoções que a vida humana
compreende.
É um presente maravilhoso.
O abdome nos dá a nossa base, o nosso
Eu.
Ele nos permite realmente que sejamos
nós, firmes e arraigados, estendendo os nossos próprios limites e usando o nosso
discernimento.
Desta base, a interacção com o nosso
coração e a nossa cabeça, se torna um jogo divertido.
Se estas três camadas estiverem
alinhadas, umas com as outras, nós nos sentiremos íntegros, e a vida digna de
ser vivida na Terra.
Ela pode ser cheia de inspiração, amor e
felicidade.
Nós podemos nos entregar ao que nos
movimenta e nos inspira, enquanto ao mesmo tempo sem perder a nossa base, o nosso
ponto interior do silêncio.
Nós podemos permanecer fechados em nós mesmos,
e ao mesmo tempo dando e recebendo livremente o que a vida nos oferece.
Nós somos maravilhosos e ricos como
seres humanos.
Tenhamos fé na beleza e no poder dos
instrumentos que estão disponíveis para nós, os instrumentos do pensamento, do
sentimento e de ser.
Gratidão,
Luís Barros