Amados anjos, saibamos que somos amados
incondicionalmente, mesmo agora que moramos num corpo de carne e osso, um corpo
mortal.
Mesmo enquanto vivemos dentro dos
limites deste lar temporário, nós ainda somos incondicionalmente uma parte de
Deus, o Lar pelo qual tanto ansiamos.
Na verdade, nós nunca deixamos o Lar,
entretanto nós não reconhecemos a chama eterna que permanece acesa para sempre
no nosso ser.
Entremos em contacto com essa luz neste
momento e amemos a nós mesmos, saibamos quem somos.
Uma luz tão bonita e pura arde no nosso
interior.
Como podemos duvidar disto?
Falamos sobre morrer.
Existe muito medo em relação à morte.
Medo de aniquilação, medo de
esquecimento, medo de ser engolido pelo imenso buraco negro associado à morte.
Como acontece com frequência na dimensão
terrena, o ser humano tende a virar as coisas de pernas para o ar e
apresentá-las do modo exactamente oposto ao que são realmente.
Na verdade, a morte é libertação, é a
volta ao lar, a lembrança de quem nós realmente somos.
Quando a morte chega, nós voltamos sem
esforço ao nosso estado natural de ser.
Nossa consciência funde-se com a chama
de luz que é a nossa verdadeira identidade.
As cargas terrenas são retiradas dos nossos
ombros.
A vida dentro de um corpo físico impõe-nos
limitações.
É verdade que nós escolhemos mergulhar
neste estado de limitação devido à possibilidade de experiência que ele tinha a
nos oferecer.
Apesar disso, a retomada do nosso estado
angélico natural é uma sensação de bem-aventurança!
O anjo que vive em nós adora voar e ser
livre para investigar livremente os inúmeros mundos que constituem o universo.
Há tantas coisas para se explorar e
experienciar!
Ao nascer num corpo terreno, nós perdemos
parcialmente o contacto com essa liberdade angélica e com a sensação de não ter
limites.
Voltamos ao instante imediatamente
anterior ao nosso mergulho na nossa encarnação actual.
Em um nível interno, nós nos permitimos
iniciar esta vida terrena.
Foi uma escolha consciente.
Talvez nos tenhamos esquecido disto e de
vez em quando fiquemos em dúvida se realmente querermos estar aqui.
Entretanto houve um momento em que nós
dissemos "sim".
Esta foi uma escolha corajosa.
É um acto de grande bravura trocar
temporariamente a nossa liberdade angélica e nosso sentido de não-limitação
pela aventura de nos tornarmos um ser humano, de nos tornarmos mortais.
Essa aventura guarda uma promessa que
faz com que tudo isso valha a pena.
Sintamos o "sim" que naquele
momento se elevou da nossa alma.
Lembremo-nos também de termos sido
atraídos para a Terra.
Sintamos como nos conectamos com a
realidade da Terra e sintamos o momento em que entramos no embrião que estava
dentro do útero da nossa mãe.
Podemos notar que há um certo peso
envolvendo o planeta Terra, algo meio cinzento ou denso.
Existe muito sofrimento na Terra.
Dor, perda, medo e pensamentos negativos
fazem parte da atmosfera colectiva da Terra.
E foi isto que nós, como alma
recém-encarnada, atravessamos.
A nossa luz encontrou o caminho através
da escuridão e, ao fazer isto, um inevitável véu de ignorância caiu sobre a nossa
consciência angélica original.
Sintamos a tristeza deste acontecimento
e, por trás dela, a nossa coragem e bravura.
Nós estávamos determinados: "Vou
fazer isto! Mais uma vez, vou enraizar-me na realidade da Terra para encontrar
a minha própria luz, para reconhecê-la, para redescobri-la e para transmiti-la
para este mundo, que está precisando tanto dela."
Sim, foi um salto para dentro da
ignorância.
Esquecermos-mos temporariamente de quem somos,
não nos lembrarmos do nosso estado livre de ser, fazem parte de ser um humano.
Nós nos esquecemos que estamos seguros e
livres independentemente de onde estejamos.
Ao nos tornarmos um ser humano, nós começamos
a nos prepararmos para recuperar aquela sensação natural de liberdade e
segurança.
Na nossa busca, nós podemos ser enlaçados
por poderes que parecem nos oferecer o que estamos procurando, mas que na
verdade estão tornando-nos dependente de algo fora de nós.
Podemos curvar-nos a julgamentos vindos
de fora de nós mesmos, que nos dizem como devemos nos comportar para sermos
amados.
Estas falsas imagens do Lar, estes
substitutos, tendem a entristecer-nos e deprimir-nos.
Realmente a descida do Céu para a Terra
foi uma viagem dura!
Entretanto a morte transporta-nos de
volta ao plano do amor eterno e da segurança.
É na morte que nós nos entregamos a quem
sempre fomos.
Quando se morre conscientemente, quando
se aceita a morte e se entrega a ela, a morte se torna um acontecimento feliz.
O que acontece quando morremos?
Antes de morrer, nós passamos por um
estágio de partir e se desapegar.
É uma fase em que dizemos adeus à vida
terrena e aos nossos entes queridos.
Isto pode ser difícil, mas, ao mesmo
tempo, oferece-nos a possibilidade de reflectirmos profundamente sobre quem somos,
e o que aprendemos e realizamos na Terra durante a nossa encarnação.
Na dor que podemos sentir ao deixarmos os
nossos entes queridos, torna-se muito mais claro o que nos conecta a eles.
É um laço de amor que é imortal.
Essa ligação é tão poderosa que passa
sem esforço pela fronteira da morte.
O amor é uma fonte inexaurível,
eternamente dando origem a nova vida.
Pois uma coisa é certa: quando partimos
em amor, nós nos encontramos outra vez.
Nós vamos encontrar um ao outro de novo,
sem esforço, porque o caminho mais curto para o outro é sempre o caminho do
coração.
Se nós temos entes queridos que já se
foram, podemos estar certos que eles estão perto de nós, no nível do coração.
Sintamos a presença deles, pois estão
aqui entre nós, saudando-nos.
Eles se sentem privilegiados e livres.
Estão livres da dúvida que atormenta
tantas pessoas na Terra, e anseiam por compartilhar connosco o amor e a bondade
que estão à nossa disposição o tempo todo.
Aqueles que ficam para trás geralmente
associam a fase anterior à morte dos nossos entes queridos com sentimentos de
tristeza e perda.
É natural chorar a partida de um ser
amado; é natural sentir sua falta e desejar sua presença física.
Entretanto, somos encorajados a tentar
sentir que, com a partida deles, abre-se um portal para uma nova dimensão, uma
dimensão onde a comunicação é de natureza tão pura, clara e directa, que se
eleva acima dos métodos de comunicação usados comumente na Terra.
Nós podemos ter uma comunicação directa com
nosso ser amado depois da morte, de coração para coração.
Deste modo, os mal-entendidos que
costumavam separar-nos podem ser facilmente esclarecidos, já que nós passamos a
nos comunicarmos honesta e abertamente um com o outro.
Nossa mensagem será sempre recebida.
Quando nós mesmos tivermos morrido, veremos
as pessoas que estão vivendo na Terra de uma perspectiva diferente.
Seremos mais tolerantes e doces, e
perceberemos que temos um sentido mais ampliado de sabedoria
Nós não ficaremos totalmente equilibrados
de uma hora para outra, porque existem emoções e sentimentos que levamos
connosco e que precisam ser trabalhados.
Nós não seremos perfeitos nem omniscientes
logo que deixarmos a vida física.
E isto realmente não é tão ruim, pois
existe muita coisa a ser experienciada e descoberta do outro lado!
Entretanto, na maioria dos seres humanos
há uma nova perspectiva.
A dimensão da eternidade é tangível e
isto suaviza respeitosamente a nossa visão do que nos ocupava e ocupava as
pessoas directamente ao nosso redor, durante a nossa estadia na Terra.
Agora, o que acontece connosco, ao
atravessarmos as fronteiras da morte?
Depois de passarmos pelo estágio de
lamentação, o estágio de despedida, nós começamos a sentir a morte chegando
mais perto.
O foco da nossa consciência muda.
Tendo libertado o mundo exterior, as
pessoas e o nosso corpo, nossa consciência se volta para o nosso interior, cada
vez mais profundamente.
Nossa percepção do mundo externo diminui
e isto nos permite prepararmo-nos para a jornada interior na qual estamos
prestes a embarcar.
Se aceitarmos conscientemente a morte,
experienciaremos um "estar pronto", uma prontidão para realmente nos
desapegarmos.
Para os nossos entes queridos, este é o
momento de deixar-nos partir, pois nós precisamos de todas as nossas forças
para nos voltarmos para dentro de nós mesmos e nos prepararmos.
Morrer não precisa ser um processo
doloroso.
O que realmente acontece é de natureza
grandiosa e sublime!
Morrer é um acontecimento sagrado, no
qual a alma se conecta consigo mesma, de uma forma muito íntima.
Durante a fase final, a pessoa que está
morrendo sente a dimensão terrena – o corpo, os sentidos, as cores e outras
sensações físicas – de uma forma neutra.
Uma outra dimensão está entrando na nossa
consciência, com um brilho tão promissor e convidativo, que não é mais tão
difícil nos entregarmos e deixarmos todas as coisas terrenas para trás.
Nem mesmo a presença dos nossos entes
queridos vai impedir-nos de irmos embora.
A energia do Lar – Deus, Céu, ou como
quer que queiramos chamá-lo – é tão irresistivelmente bondosa, confortadora e
segura, que fica fácil deixarmos ir e devolvermos o nosso corpo cansado e
desgastado para a Terra.
Uma vez que libertemos tudo em paz, nossa
alma se elevará do nosso corpo de forma suave e fluida.
Nós seremos amparados pelas forças
universais de sabedoria e amor.
Se morrermos sem resistência, o ambiente
ao nosso redor será preenchido por uma energia calorosa e amorosa.
Nós experimentaremos uma sensação
indefinível de alívio.
Neste ponto, nós estamos livres, e tudo
se esclarece.
Nós nos lembramos da omnipresença do
Amor, não como um conceito abstracto, mas como uma realidade palpável.
Enquanto estávamos na Terra, chamávamos
esse tipo de amor de "Deus", e mantínhamos uma imagem humana,
distorcida, do que Deus "queria de nós".
Estávamos convencidos de que existiam
algumas exigências desse Deus, exigências que nós geralmente não cumpríamos.
Mas aqui nesta dimensão, nós nos lembramos
qual é a verdadeira vontade de Deus: incorporar-se em nós, inspirar-nos,
experienciar a criação através de nós e finalmente reconhecer-Se na nossa face.
Deus queria tornar-se humano através de nós.
O objectivo da evolução do universo somos
NÓS: Deus feito homem!
Deus é a fonte da criação, e nós somos a
Sua realização.
Nós, que demos forma à luz de Deus,
nunca somos julgados por sermos um humano.
Pelo contrário, somos honrados.
A ideia de um Deus vingativo é mais uma
distorção, o reverso da verdade alimentado pelo medo.
Deus Se reconhece em nós, independente
do que fazemos ou deixamos de fazer.
Quando voltamos a este lado, nos
conscientizamos disto outra vez, e uma carga imensa de autojulgamento e
sentimentos de inferioridade escorregam dos nossos ombros.
Nós sentimos a alegria original de vivermos
de novo, seguros nas mãos de Deus.
Logo depois da nossa chegada ao outro
lado, começaremos a perceber seres de luz ao nosso redor.
Haverá guias para ajudar-nos e pessoas
que conhecemos e que fizeram a passagem antes de nós.
Algumas vezes nos surpreenderemos com
aqueles que encontramos lá: pessoas que encontramos apenas rapidamente, mas que
tocaram o nosso coração profundamente, poderão estar ao lado de nossos amigos
de longa data e parentes nossos.
Todos aqueles com quem tivemos uma
conexão baseada no amor virão cumprimentar-nos em algum momento.
Mais uma vez, ficará muito claro para nós
que dizer adeus não passa de uma ilusão, que a conexão pelo coração é eterna.
Experienciaremos uma sensação de
gratidão e respeito, ao entrarmos neste plano de amor incondicional e
sabedoria.
Depois que chegarmos ao outro lado,
haverá uma fase de adaptação, para que nos acostumemos com o nosso novo
ambiente e lentamente libertemos a nossa ligação com a vida terrena.
Precisaremos nos ambientarmos.
Haverá guias para amparar-nos, que são
especializados nisso.
Nós ainda teremos um corpo, mas ele será
mais fluido do que o corpo físico com o qual estávamos acostumados.
É bem provável que tenhamos a aparência
do nosso corpo físico mais recente.
Embora haja liberdade para assumir
qualquer aparência que se desejar, a maioria das pessoas gosta de dar uma certa
continuidade por algum tempo.
Nós também ficamos livres para criarmos
as nossas próprias condições de moradia, como por exemplo, uma bela casa com um
lindo jardim, num ambiente natural do qual gostávamos enquanto estávamos na
Terra.
Está tudo bem, se quisermos viver as
nossas fantasias terrenas neste plano, que chamamos de plano astral.
Esta é uma dimensão do reino do ser, que
permite muita liberdade criativa, embora ainda lembremos e estejamos
intimamente ligados à dimensão da Terra física.
Algumas pessoas tiveram dificuldade para
aceitar a morte na Terra, e sua transição para o outro lado pode ter sido menos
pacífica.
Geralmente elas precisam de mais tempo
para se adaptar às novas circunstâncias de sua vida.
Às vezes demora um pouco até que
percebam realmente que morreram.
Alguns estiveram doentes durante muito
tempo e acham difícil se libertar da ideia de estar doente.
Não conseguem acreditar completamente
que estão saudáveis de novo, e muitas vezes é preciso o amparo paciente e
gentil de um guia espiritual para ajudá-los a libertar seus velhos corpos.
O corpo antigo pode se prender à alma,
simplesmente como uma ideia, uma forma-pensamento.
E o mesmo se dá com os hábitos
emocionais e padrões de comportamento.
Eles podem se repetir no plano astral,
até que a alma descubra sua liberdade, seu poder para se libertar e se abrir para
algo novo.
Outra possibilidade é que a alma fique
presa ao plano da Terra, principalmente aos entes queridos, por ter morrido
repentinamente e muito jovem.
Isto pode acontecer no caso de
acidentes, desastres, ou quando a pessoa estava na flor da juventude.
Estas são situações em que a alma não se
sentia pronta nem preparada para a partida.
A morte, nesses casos, é mais ou menos
traumática.
Há um apoio amoroso no outro lado para
essas almas traumatizadas, como sempre há.
Mais cedo ou mais tarde a alma chegará a
um estado de aceitação e entendimento da situação.
Sempre existe um motivo viável para o
que parece ser uma partida prematura do plano da Terra.
Morrer nunca é uma coincidência.
À medida que a nossa estadia do outro
lado se estende, o nosso espírito se expande para níveis de consciência mais
amplos e profundos.
Nós nos desapegamos cada vez mais dos
modos de pensar e sentir com os quais estávamos acostumados na Terra.
Basicamente, nós voltamos gradualmente à
essência de quem somos, à nossa alma, à centelha divina interior.
Quanto mais entramos – ou voltamos – a
esse estado de consciência, mais nos desligamos da nossa personalidade terrena
e da dimensão da Terra.
Passamos a sentir um fluxo de ser que se
estende para além desse aspecto nosso.
Conscientizamo-nos do espaço sem
fronteiras que é a nossa alma e as inúmeras experiências que juntamos na nossa
jornada através do universo.
A partir desse estágio, quando as
pessoas da Terra se conectam connosco, elas sentem uma pessoa que adquiriu
sabedoria e amor espiritual.
Na verdade, ao nosso aproximar mais do
âmago da nossa alma, nós deixamos o plano astral e entramos naquilo que chamamos
de plano essencial, o reino da Essência.
A maioria das pessoas permanece um bom
tempo no plano astral, depois de morrer.
Elas fazem uma revisão de suas vidas na
Terra e reflectem sobre todas as experiências pelas quais passaram.
No planto astral, nós podemos
experienciar tanto alegria quanto depressão, tanto as emoções positivas quanto
as negativas.
O ambiente ao nosso redor espelha a
nossa realidade psicológica interna.
As emoções que temos que trabalhar tomam
a forma de cores, paisagens e encontros.
Nós visitamos os reinos astrais com
frequência nos nossos sonhos, por isto já estamos familiarizados com este campo
de percepção.
Quando nossos livros esotéricos falam de
muitas camadas ou esferas na vida após a morte, que se estendem da escuridão
até a luz, estão se referindo ao plano astral.
No plano astral, nós temos a
oportunidade de trabalhar a bagagem emocional que trouxemos da nossa vida mais
recente na Terra.
Para isto, recebemos ajuda de vários
guias amorosos.
Num certo ponto, nós libertamos todos os
nossos laços terrenos e toda a nossa dor emocional, e então ficamos prontos
para nos movermos para além de todo o plano astral.
É aí que passamos para o plano da
essência.
Quando isto acontece, é como uma segunda
morte.
Nós deixamos para trás tudo o que não nos
pertence verdadeiramente, e nos damos permissão para nos fundirmos com o nosso
Eu maior, nossa Essência Divina.
No momento em que passamos para o plano
essencial, nós nos conscientizamos do poder imenso que nos move.
Nós experienciamos a nossa unidade com
Deus.
O plano da essência, o plano do Eu
eterno, é a sede da consciência divina, da qual toda a criação se origina.
Tomemos um instante para nos conectarmos
com esse plano, aqui e agora. Ele não está lá longe.
Ele permeia tudo, tanto o plano astral quanto
o plano terreno; ele permeia todo o cosmos.
A presença que sentimos aqui é a
presença de Deus, pura e imaculada.
Ela pode ser percebida como um silêncio
profundo, completamente pacífico e, ao mesmo tempo, pleno de vida e
criatividade.
Desta fonte origina-se toda a criação e
para esta fonte ela deverá voltar.
Quando alcançamos o plano essencial
depois da morte, somos capazes de fazer escolhas conscientes em relação ao nosso
objectivo futuro.
Neste plano nós podemos programar, com a
ajuda de professores e guias, uma outra encarnação na Terra, ou planear uma
jornada diferente, dependendo das nossas metas.
No plano essencial, nós podemos ouvir
claramente a voz da nossa alma.
Foi neste plano que nós dissemos
"sim" para a vida na qual nos encontramos agora.
Tomemos um instante para nos lembrarmos
de como era estar nesse plano.
Quanto mais nos conscientizarmos desta
dimensão durante a nossa vida na Terra, mais fácil e tranquila será a nossa morte
e mais fácil será movermo-nos do plano astral para o plano essencial depois.
A morte não é nada mais que uma
transição, uma das muitas transições pelas quais passamos na vida.
A vida na Terra conhece tantos momentos
de transição, de passar por algo e deixar ir. Pensemos nisto.
Houve um tempo em que o corpo no qual
vivemos hoje era muito pequeno, um bebezinho vulnerável.
Entretanto nossa alma, a Essência Divina
no nosso interior, já estava trabalhando através dele naquele tempo.
Ao chegarmos à maturidade, nós fomos
engolidos pelas exigências da vida terrena e nos confrontamos com medos e
dúvidas.
A percepção da nossa Essência Divina, da
nossa alma, foi empurrada para os fundos.
Entretanto, houve momentos na nossa vida
em que a dimensão da consciência divina se abriu novamente.
Isto aconteceu geralmente em momentos
nos quais nós tivemos que deixar ir, quando tivemos que dizer adeus.
Talvez tenhamos tido que nos despedirmos
de um ser amado, talvez tenhamos tido que abandonar um emprego, ou alguma outra
situação semelhante.
Tais acontecimentos são transições que
se assemelham à morte, não no sentido literal, mas em um nível psicológico.
Nessas ocasiões nos foi pedida uma libertação
em um nível profundo, e é justamente nesses momentos de deixar ir que nós podemos
começar a sentir a realidade do nosso Eu eterno, a luz divina que brilha no nosso
interior.
Esta realidade permanece connosco
incondicionalmente, mesmo quando tudo ao nosso redor desaba.
E assim acontece também, quando se trata
da morte física.
Se nesse momento nós temos a coragem
suficiente para nos desapegarmos, o plano da eternidade nos acolhe e
experienciamos uma percepção muito forte de quem realmente somos.
Morrer em entrega consciente é um
acontecimento sagrado, pleno de vida e beleza.
A grandiosidade do que está se
desenrolando torna-se tangível para todos os presentes.
Quanto mais as pessoas presentes tiverem
vivenciado "a morte em vida", mais serão tomadas de admiração e
reverência pela transição que estão testemunhando.
Em todas as transições disponíveis na
criação, desde nascimento físico e morte até momentos de intenso desligamento
emocional na nossa vida, a questão mais importante não é se vamos sobreviver,
mas se vamos conseguir manter a conexão com a nossa Essência Divina.
Nós conseguimos ficar em contacto com o
plano da Essência, com as nossas origens, com o pulsar da Criação?
Conectarmo-nos frequentemente com o
plano essencial durante a nossa vida é a melhor forma de nos prepararmos para a
morte e para o que vem depois.
Ao nos conscientizarmos agora – antes da
morte física – que a Essência de quem somos não depende do nosso corpo físico
actual, nem da identidade que assumimos neste mundo, nós nos tornamos livres
para fazer a transição suavemente, quando o momento chegar.
Conectarmo-nos com o plano essencial é
uma escolha que fazemos.
A morte por si só não vai levar-nos mais
próximo dele.
Depois de morrermos, nós seremos praticamente
as mesmas pessoas que somos agora, apesar de que nos serão oferecidas
possibilidades diferentes e uma perspectiva mais ampla.
Entretanto a pergunta crucial continua
sendo a mesma: nos lembramos quem somos? Conseguimos nos conectar
conscientemente com a dimensão da a temporalidade que flui através de nós e que
nos inspira verdadeiramente?
Nós somos imperecíveis, queridos e amados
anjos de Luz. Tenhamos fé nisto!
Permitamo-nos sermos confortados e
amparados por este conhecimento quando a hora da nossa morte chegar; e agora
também, enquanto lutamos com as questões da nossa vida.
Para morrermos em paz é preciso que nos
desapeguemos, no nível interno, de tudo que nos prende à existência terrena.
Pratiquemos constantemente o desapego
enquanto vivemos, e estaremos preparados para morrer.
Poderemos perguntar: "Não é trágico
se desapegar da vida, enquanto se está bem no meio dela?"
A resposta é: "Não, pelo contrário
– isso é a prova de um espírito verdadeiramente poderoso."
O que significa desapegar-se?
Significa prestar atenção na essência,
não nos deixarmos pegar por questões não essenciais.
Significa não criarmos dramas
desnecessários; significa experienciar alegria nas coisas simples da vida.
Praticar o desapego e ficar sintonizado
com o plano da essência implica em estarmos conscientes de uma dimensão oculta,
que se encontra directamente sob e por trás de tudo o que é observável.
Significa renunciar ao julgamento
apressado em termos de bom e ruim, e confiar na Inteligência Cósmica, que
ultrapassa de longe a mente humana.
Muitas pessoas caem na armadilha da
febre do pensamento.
Encaram a vida febrilmente – como
resolver os problemas, como conseguir todas as coisas que elas pensam que precisam
fazer.
Estão excessivamente concentradas em
organizar a vida através da vontade e da mente.
Desapegar-se significa não levarmos tão
a sério este nosso aspecto pensador.
Isto é uma coisa trágica de se fazer?
Não.
Em vez disso, trazemos luz e leveza à nossa
vida.
A nossa necessidade excessiva de
controlo é que faz com que a vida se torne um esforço, pesada e cansativa.
O desapego traz paz à mente, humor e
atenção.
A consciência de que a vida é finita
inspira o desejo natural de cultivá-la e cuidar dela.
E é aí que a nossa Essência Divina pode
fluir sem esforço através de nós, do plano essencial para a nossa realidade
terrena.
Uma vez que isto aconteça, teremos
vencido a morte antes de termos morrido.
Gratidão,
Luís Barros