A Mãe Terra está aqui entre nós.
É o solo sob os nossos pés.
É um sol exuberante que brilha sobre as
árvores, as plantas, as flores e todos os elementos ao nosso redor.
E também está neste espaço.
Tomemos consciência dela e usemos uma
imagem para a identificar.
Vejamos-la como uma mulher no centro
deste espaço, embora não importe a forma que lhe demos.
Peguemos a primeira imagem que vier à nossa
mente e que nos faça sentir: “Esta é a Mãe Terra.”
Sintamos a sua alegria, o seu contentamento.
Na sua alma vive um prazer que deseja
compartilhar connosco.
Apesar de tudo o que acontece sobre a
Terra e com ela, existe amor e alegria em seu coração.
Há um plano maior no qual tudo se
expressa de uma forma infinitamente mais grandiosa.
A vida é boa e justa.
Ela é bonita do jeito que é.
Conectemos-nos com essa alegria básica,
de modo que também possamos sentir internamente: “Minha vida é boa. Apesar dos
altos e baixos que enfrento; apesar desses momentos difíceis, ainda estou
vivo!”
A vida flui por nós.
E como será que ela flui por nós?
Conversamos sobre masculino e feminino,
sobre o fluxo de dar e receber, sobre a diferença entre estar com o outro e
estar connosco mesmo.
Descubramos o quanto é difícil acolher
plenamente a nós mesmos de modo a recebermos o que realmente necessitamos,
tanto do outro quanto de nós próprios.
Nós nos negamos tantas coisas, e estamos
nos dando conta disto.
Receber é uma energia feminina, e existe
um bloqueio na nossa capacidade de receber, na nossa capacidade de estarmos
abertos e receptivos ao que desejamos vir para nós do universo, do cosmos, do
mundo, de outras pessoas e, inclusive, de nós mesmos – a nossa própria beleza e
sabedoria.
Conversamos sobre a região do nosso
corpo onde a maior parte da dor está armazenada.
Com essa dor vem a incapacidade de
realmente recebermos, de aceitarmos totalmente a nós mesmos, e sermos
verdadeiramente independentes.
Esta parte do nosso corpo é a área do nosso
abdome.
Levemos a nossa consciência até essa área
agora.
Imaginemos que a nossa consciência é uma
flecha de atenção, que desce da nossa cabeça pela nossa coluna vertebral à nossa
cintura, e se aprofunda ainda mais, até alcançar a nossa pélvis.
Preenchamos todo o nosso abdome com a
energia da nossa consciência.
Vejamos se conseguimos tocar o nosso
baixo-ventre com a nossa respiração, leve e suavemente.
Deixemos a nossa respiração descer e
penetrar no nosso abdome, e sintamos aí a nossa própria força.
Sintamos como o nosso abdome nos conecta
com a Terra.
De certa forma, a parte mais baixa do nosso
corpo é onde as nossas emoções mais profundas se revelam; então coloquemos aí a
nossa atenção.
E saibamos que nos é permitido estar aí
exactamente como somos – todos os nossos aspectos são aceites.
Na verdade, nosso abdome é uma cavidade,
e a pélvis é como uma tigela que recebe – um recipiente – e Gaia nos encoraja a
irmos lá agora para encontrarmos e recebermos as crianças, as partes de nós mesmos
que se apresentam a nós.
Estas crianças ainda estão vivas dentro
de nós; elas são as partes emocionalmente espontâneas que nos pertencem.
A primeira criança que desejamos
convidar é a da alegria.
Em nós, como em todas as pessoas, vive
uma criança cheia de alegria de viver, de vontade de viver.
É aquela nossa parte que realmente
desejava estar aqui nesta vida na Terra.
Ela queria participar; ela é ousada e
corajosa e é capaz de aproveitar tudo o que a vida em um corpo humano tem para
oferecer.
Vejamos se conseguimos encontrar essa
criança na cavidade da nossa pélvis, e observemos o que ela quer-nos dizer.
Do que essa criança mais gosta?
O que isto nos diz sobre nós mesmos e o
que mais amamos?
De onde vem o amor que essa criança tem
pela vida?
Então convidemos essa criança para
chegar mais perto.
Imaginemos que estendemos a nossa mão para
ela ou colocamos um braço em seu ombro, acolhendo-a e dizendo-lhe que é um
prazer tê-la connosco; que sabemos que ela pode-nos indicar o caminho para mais
alegria e diversão na nossa vida.
E esta criança nos ajudará a receber
isto.
Esta criança sabe que não tem problema
aproveitar a vida.
Ela sabe que está aqui para se sentir
viva, para sentir profundamente cada aspecto da vida, e para aproveitar a
abundância em cada área da sua vida como um filho de Deus.
Esta criança sabe que a vida existe para
ser celebrada.
Não é sempre para aprendizado,
crescimento e desenvolvimento.
A vida existe simplesmente para ser
vivida, como uma criança que vive o momento, sem pensar no futuro ou no
passado.
Permitamos a presença dessa criança em nossa
vida e no nosso abdome.
Façamos contacto regular com ela.
Uma vez que a tenhamos visto uma vez,
poderemos convidá-la com mais frequência no nosso dia-a-dia, especialmente nos
momentos em que estivermos preocupados ou aflitos, quando os nossos pensamentos
estiverem no futuro ou no passado.
Essa é a hora de perguntar o que ela tem
vontade de fazer nesse momento.
Isto ajuda a criança a se aterrar e nos
ajuda a ficar com ela.
Agora vamos convidar outra criança, que
também faz parte do nosso Eu.
Esta é uma criança medrosa; uma criança
que acumulou vários medos e que não tem nenhuma solução para eles.
Esta criança é a portadora dos nossos
medos.
Uma criança é inocente; ainda não
consegue construir muros, cercas ou limites para se proteger.
Ela sente o medo directa e
totalmente.
Esta criança deseja ser vista.
Ela quer vir a nós porque precisa da nossa
ajuda.
Nós somos o pai e a mãe desta criança.
Permitamos que ela esteja aí e observemos
a sua aparência.
Vejamos a contracção ou tensão do corpo
dela e sintamos o que podemos ou queremos fazer por esta criança.
Ajoelhemos-nos diante dela, estendamos-lhe
a mão e digamos: “Vem cá, tu estás em segurança comigo. Não precisas pedir
desculpas pelos teus medos; eu os entendo. Deixa-los aqui comigo.”
Sintamos o nosso próprio poder no momento
em que fizermos isso.
Nós somos capazes de receber os medos
dessa criança.
Nós somos capazes de aceitar esses medos
com equanimidade e não mergulhar neles.
Talvez nos perguntemos: “Como pode ser
isto? Como posso saber se consigo transcender estes medos?”
Mas há uma parte nossa que é maior que
esses medos, que tem confiança e coragem.
Peçamos à criança alegre para entrar,
sentar-se ao nosso lado e confortar a criança medrosa.
Mantenhamos a nossa atenção concentrada
na área do nosso abdome, e então vejamos essas duas crianças sentadas à nossa
frente.
Ambas são belas, inocentes e puras.
Nenhuma é melhor ou maior do que a
outra.
Ambas fazem parte da nossa vida.
Agora, vamos à terceira criança.
Esta é uma criança zangada.
Talvez a vejamos com punhos cerrados e
bochechas vermelhas de indignação.
Muitas vezes, na nossa vida, reprimimos
a raiva, porque não era permitida; nem por nós, nem pelo nosso ambiente, nem
pelas regras e a moral que nos foram ensinadas.
Mas agora ela é permitida.
Esta criança é livre para se apresentar
e não importa por que estava zangada, nem se estava certa ou errada.
A questão é que a raiva é permitida e
que esta criança zangada é aceitável.
Deixemos que esta criança também venha a
nós – convidemos-la para entrar.
Digamos-lhe que gostaríamos de
conhecê-la totalmente, que ela nos pertence.
Nesta vida, fomos feridos, rejeitados;
decepcionamos-nos, e talvez tenhamos nos sentido insatisfeitos com a vida e as
pessoas.
É aceitável que isto seja visto.
É permitido que a raiva e a frustração
façam parte de nós, porque esta criança nos dará uma mensagem importante.
Com certeza, na área do abdome, esta
criança nos permite perceber onde nos privamos, onde não tivemos voz activa,
onde não estabelecemos limites claros para nós mesmos.
Esta é uma criança valiosa.
Não ignoremos os nossos impulsos.
Simplesmente lhe perguntemos o que ela
deseja nos dizer.
Perguntemos-lhe o que ela precisa, o que
a tranquilizaria.
Esta criança nos ajudará a entender e
lidar melhor com o campo de energia do nosso abdome. “O que eu quero? Quais são
minhas necessidades?”
Esta criança tem coragem; ela ousa fazer
perguntas.
Hoje nós vimos como a energia,
especialmente das mulheres, tende a se fixar em doar, cuidar, ser empática,
estar presente para o outro e esquecer-se de si mesma; colocando-se em segundo
plano, com a ideia de que dar é melhor do que receber, ou que se deve dar para
ser reconhecido e, assim, amado.
Isto nos leva para fora do nosso abdome
e faz com que a criança em nós fique mais zangada.
E essa criança está certa, porque algo
está fora de equilíbrio, algo está distorcido.
Nós não precisamos doar tanto.
E como vamos conseguir equilibrar o
fluxo de dar e receber?
Mantendo-nos em contacto com as crianças
do nosso abdome – as três – a criança da raiva, a criança do medo e a criança
da alegria.
Algumas vezes poderemos notar que
estamos doando com base no medo de sermos rejeitadas pelo outro e para
preservar a harmonia.
No momento em que percebermos que estamos
doando a partir do medo, voltemos-nos para a criança medrosa e digamos-lhe: “Não
precisas fazer isto. Tu tens permissão para parar de doar. Eu cuido de Ti; Tu
não está só! Tu estás em segurança comigo.”
Estejamos atentos a esta dinâmica do
medo: medo da solidão, medo de rejeição.
E também percebamos que podemos nos
sentir esgotados, vazios e desvitalizados quando doamos demais.
A criança da alegria de viver, do
contentamento, também pode ser um indicador para nós aqui.
Criemos o hábito de lhe perguntar: “Do
que tu gostarias? O que seria bom para fazermos agora?”
Porque não é errado nem egoísmo
conceder-nos esta alegria.
Felicidade e alegria de viver são
certamente sinais de desenvolvimento interior. Naturalmente, este conceito vai
contra as tradições com as quais a espiritualidade vem sendo associada, tais
como estar sempre sério, ser cuidadoso, consciencioso e responsável – todas
aquelas características masculinas pesadas.
Mas a verdadeira espiritualidade é cheia
de alegria e do abraço da vida.
Lembremos-nos desta forma de ver a vida
quando doarmos demais, e quando nos sentirmos exaustos.
Retornemos àquela criança no nosso
abdome, que está conectada com a verdadeira espiritualidade, com a
espiritualidade aterrada.
E observemos a criança raivosa, aquela
da qual nós temos medo.
Certamente as mulheres têm problemas com
esta criança, porque ela vai contra a imagem milenar da feminilidade, segundo a
qual a mulher é subserviente, complacente, generosa, carinhosa, doce e amável.
Existe um tabu contra esta criança
zangada.
Mas é justamente ela que pode oferecer-nos
tanto!
Ela nos faz perceber quando estamos
sendo desleal connosco mesmo.
Ela nos consciencializa do nosso próprio
valor e de quando nós estamos prejudicando-nos.
Então, se sentirmos raiva no nosso dia-a-dia,
ou até mesmo um sentimento menos intenso, como irritação ou descontentamento,
acolhamos-lo.
Tentemos não o desmerecer nem o esconder
para manter a paz, ou porque nos é desconfortável; mas realmente sintamos-lo.
Perguntemos à criança dentro de nós por
que ela está com raiva: “Coloca isto em palavras; permite-me perceber.”
E aceitemos o que ela nos disser
seriamente.
Geralmente nós esperamos mensagens da nossa
alma para encontrar o nosso caminho de vida.
Mas a nossa alma fala connosco através
destas crianças, através do nosso abdome, que está sempre aterrado, é poderoso
e espontâneo.
Nós estamos constantemente recebendo
informações através do fluxo de sensações no nosso abdome, através das nossas
emoções e das nossas crianças interiores.
Dizemos isto alto e com bom-tom: “Levemos
isto a sério!!!”
Não procuremos tão “alto” pelas nossas
respostas.
Quando estamos envolvidos demais com o
fluxo do coração, é fácil cair nas armadilhas de doação em excesso, das quais
acabamos de falar, e que são representadas por aqueles velhos estereótipos,
aquelas velhas imagens da energia feminina.
Façamos a conexão com essas emoções
primitivas no nosso abdome: medo, raiva, alegria, entusiasmo, inspiração.
Estes são os verdadeiros orientadores
que estamos buscando.
Nós nos esquecemos de ouvir estas
crianças no nosso abdome por causa das nossas tradições, como as formas
opressivas de religião, entre outras coisas.
Este é um tempo de mudanças; nós estamos
criando uma nova história; estamos quebrando velhos tabus e por isto somos
respeitados.
É por isto que estamos aqui na Terra –
para mudar a energia colectiva da humanidade e nossa própria energia individual;
para voltarmos a fazer justiça na área do abdome e sermos fiéis à condição humana
que todos nós compartilhamos, tanto as mulheres quanto os homens.
Pois nos homens também existem crianças
interiores reprimidas.
A energia feminina ferida afecta tanto
os homens quanto as mulheres.
Vejamos mais uma vez estas três crianças
no nosso abdome e prometamos-lhes a nossa devoção e dedicação.
Imaginemos que nós e as três crianças damos
as mãos.
Sintamos a energia fluir.
Sintamos o que elas nos oferecem: a
nossa inocência, a nossa força vital, a verdade que elas falam, e sua clareza.
Este é o conhecimento que realmente nos
ajuda.
Vejamos, inclusive, o que nós lhes damos.
Se realmente estivermos abertos para
essas crianças, elas nos verão como seus guias, amparo e defensores, aqueles
que as ouvem, aqueles que estão sempre disponíveis para elas.
É isto que nós lhes oferecemos, e elas
ficam felizes por recebê-lo; sentem-se reconhecidas e apreciadas.
Gratidão,
Luís Barros