13 de julho de 2020

DANÇANDO PELA VIDA

Isis, é o pássaro que voa livremente no espaço, desfrutando as energias do Céu e da Terra.
Está dentro de todos nós, portanto, um dia, cada um de nós também voará livre deste corpo e será como um pássaro, passeando por outros lugares do universo.
Para onde quer que vamos, nós carregamos duas energias dentro de nós.
Uma é a energia da alegria, que nos faz seguir adiante, sempre buscando novas formas de nos expressar, sempre procurando vida e aventura.
A energia da alegria é a nossa luz interior; é verdadeiramente a essência da Criação.
Quando sentirmos a energia da alegria, quando a sentirmos verdadeiramente e nos sentirmos plenos, saibamos que não existe mais nada que estejamos procurando além dela.
A energia da alegria é um propósito em si mesma.
Ela é a expressão da vida em nossa forma mais livre e, portanto, não é possível capturá-la – a alegria é a essência da vida.
Mas, há duas energias que trazemos connosco.
A alegria é uma, a energia das trevas ou sofrimento é a outra.
Onde existem trevas ou sofrimento, não existe alegria, somente a ausência desta.
Este é o aspecto nosso que se sente preso, separado e solitário.
No entanto, tem um papel muito significativo a desempenhar na Criação.
A energia da alegria e a energia do sofrimento ou trevas estão profundamente associadas; são duas faces da mesma moeda.
Nas trevas existe sempre um desejo intenso de liberdade, de vida.
A escuridão anseia por ser libertada e, quando a alegria a abraça com aceitação e leveza, ela não consegue resistir e então se abre.
Tudo o que é sombrio, tanto em nós quanto no mundo, anseia por vida, anseia por libertação.
Conectemos-nos agora com a nossa própria escuridão e não a vejamos com um inimigo.
Ela faz parte da Criação e tem um propósito.
Enquanto a nossa parte alegre busca expressão, durante muitas vidas por todo o universo, ela atravessa fronteiras e descobre territórios até então desconhecidos.
Este movimento, por si mesmo, cria as energias de medo, insegurança e ignorância, e assim nós nos confrontamos com a dor e o sofrimento.
Entretanto, em algum ponto por trás desse sofrimento, está a energia da alegria.
Há tanto prazer pela vida em nosso coração e na nossa alma, que no fundo do nosso ser, desejamos associar-nos ao sofrimento.
Como estamos tão repletos de amor, a alegria nos possibilita explorar a vida profundamente e sempre ultrapassar as fronteiras em direcção a novas aventuras.
Conectemos-nos com as áreas sombrias no interior do nosso corpo que nos causam aborrecimento, ou nas quais sentimos uma energia pesada, ou que nos liguem a uma emoção que está constantemente incomodando-nos e que consideramos negativa, que nos bloqueia.
Agora imaginemos que vemos essa área ou emoção em particular como uma energia que está esperando para ser libertada.
Nós podemos olhar para ela da seguinte forma: essa energia sombria dentro de nós, é uma pioneira da consciência; ela é uma parte de nós que está se movimentando para além do que consideramos seguro.
Ela está explorando algo novo, que nós ainda não entendemos e, por isto, nos causa confusão e, talvez, tristeza ou um grande esforço.
Mas, justamente por sermos um espírito tão aventureiro, é que estamos dispostos a aceitar a escuridão e lidarmos com ela.
As palavras “luz” e “trevas” têm sido associadas ao bem e ao mal, ao julgamento, mas estas energias são muito mais divertidas e vastas do que tais conceitos restritos poderiam englobar.
Ambas estão cheias de vida e juntas compõem a essência da Criação.
Então, imaginemos essas duas energias fundindo-se e sintamos isto em nosso coração e em nosso abdome.
O coração é a morada do amor e da alegria, enquanto o abdome é a sede da paixão e emoção e, portanto, também da dor emocional.
O coração deseja descer e abraçar a energia que está no abdome, e é isto que a verdadeira cura significa: que nós acolhemos as nossas emoções e desejos sombrios e nos reconhecemos como seus parceiros na Criação – não como energias das quais temos que nos livrar, mas sim como uma parte essencial do nosso ser.
As trevas desempenham um papel fundamental na nossa vida, e explorar esse papel é a razão de estarmos aqui, o motivo pelo qual estamos encarnados neste corpo.
Quando as emoções – conhecidas como a natureza inferior do ser humano – são inspiradas pela energia do coração, da alegria e do destemor, surge a verdadeira criatividade.
Isto é, nós passamos a vivenciar um tipo de criatividade interior bem fundamentada e real, que podemos expressar verdadeiramente na nossa vida quotidiana. 
Algumas pessoas têm muita energia amorosa em seus corações e assim têm a capacidade de conectar-se com a energia da alegria nos momentos em que se sentem inspiradas.
Entretanto, como as emoções parecem presas ou bloqueadas na região inferior de seus abdómenes, e elas não sabem como lidar com tais emoções, essas pessoas são incapazes de libertar e expressar plenamente sua alegria e inspiração de forma prática.
Assim, elas começam a sentir-se desconectadas deste mundo, da Terra e da sociedade humana.
A chave para superar essa falta de conexão é realmente darmos atenção às partes do nosso ser que estão precisando de cura emocional.
A inspiração por si só não é suficiente; nós precisamos reconhecer a nossa parte sombria como um parceiro e não como uma obstrução que deve ser eliminada.
A alquimia espiritual, a verdadeira transformação, só ocorre quando acolhemos e trabalhamos com a nossa própria escuridão.
Geralmente quando nós “nos trabalhamos” – através de terapias ou modalidades diferentes de cura – nós ainda lutamos com a nossa escuridão, porque ficamos ansiosos para encontrar meios de nos livrarmos dela.
Mas, por trás dessa ansiedade, existe um desrespeito pela função importante que as trevas desempenham no universo.
Em vez de brincar e dançar com essas energias, nós ficamos lutando contra elas e, no fim, isto pode exaurimo-nos, pois é preciso muita energia para lutar contra nós mesmos.
Para iniciar genuinamente o processo de cura, é necessário que libertemos a ideia de luta ou batalha entre luz e trevas em nosso interior.
Respeitemos realmente as nossas partes sombrias; mesmo o nosso lado agressivo e violento não é intrinsecamente mau.
Se nos dirigirmos a esses nossos aspectos com compaixão e desejo sincero de chegar à essência deles de modo a entender completamente o que eles realmente significam, eles nos escutarão; eles virão a nós como uma criança faria.
O que intensifica a escuridão é a energia de julgamento e resistência, enquanto a energia de aceitação e alegria sempre cria unificação.
Este processo dinâmico é algo que não está se desenrolando apenas no nível da nossa vida pessoal; podemos observá-lo claramente no mundo no qual estamos vivendo.
Em todas as tradições religiosas, tem havido muito medo relacionado com as trevas, a paixão, a criatividade e a livre expressão de nós mesmos.
A partir desse medo intenso, desenvolveu-se uma necessidade de controlar o espírito humano.
E, infelizmente, como resultado disso, o medo das trevas passou a ser também medo da alegria.
A energia da alegria não foi bem-vinda nas sociedades humanas durante muito tempo.
Isto pode soar estranho, porque todo mundo na Terra concorda que todos os seres humanos querem ser felizes.
Entretanto, nossas ideias de felicidade tornaram-se tão restritas, tão estreitas, que não deixam espaço para a energia da alegria.
A alegria está sempre fluindo; ela não pode viver dentro de estruturas rígidas e hierárquicas, nem obedecer a falsas autoridades; a alegria é uma energia verdadeiramente revolucionária.
Ela tem sido expressada com frequência nas artes – literatura, poesia e música – e a maioria das pessoas que se entregam ao fluxo da alegria em suas vidas acabam tornando-se excêntricas, fora dos padrões.
Elas sentem que são diferentes da maioria e não se encaixam no tipo de consciência predominante.
Existem algumas definições de felicidade na nossa sociedade, mas a maioria é, até certo ponto, controladora.
Por exemplo, ganhar dinheiro, ter uma carreira de sucesso, casar e constituir família são objectivos que muitas pessoas desejam alcançar porque pressupõem-se que as fariam felizes.
Mas como se pode observar, nenhuma dessas coisas garante a felicidade de ninguém.
Nós podemos encontrar a felicidade em todas elas, mas a parte essencial da felicidade é algo que está dentro de nós mesmos.
Nada que está do lado de fora pode fazê-la acontecer.
A verdadeira felicidade significa que sentimos que estamos incorporando o espírito da alegria; que se tornou amigo das nossas partes sombrias e somos livres para explorar a vida.
Estejamos abertos para o espírito de Isis, que encontremos a fonte da alegria em nosso coração e, ao mesmo tempo, acolhamos as trevas em nosso interior.
Na verdade, este é um movimento, um fluxo.
Dancemos com a vida; dancemos com o que a vida estiver nos trazendo… seja o que for.
Tentemos não a julgar, não a rotular como boa ou má; a vida é demasiadamente rica e misteriosa para ser abordada dessa forma.
Nós realmente nos libertaremos se pararmos de fazer isso.
Em resumo, existem duas formas de nos abrirmos para a energia de Isis, e é isto que está acontecendo agora por todo o mundo: ou nós nos abrimos para essa energia consciente e livremente, ou ficamos tão envolvidos com crises e sofrimento, que acabamos passando por momentos realmente muito difíceis ou ficando doentes, e então temos que nos abrir para o espírito da vida – seja nesta encarnação ou numa próxima.
Neste momento na Terra, as coisas estão se intensificando.
Há uma necessidade imensa de libertação, de libertação das energias pesadas de dentro das pessoas.
As energias sempre se movimentam, elas são dinâmicas.
E agora existe um tal acúmulo de dor e sofrimento na humanidade, que esta energia precisa vir à superfície e se expressar.
É como alguma coisa explosiva; ela tem que se expressar em algum ponto.
Quanto mais conscientes as pessoas se tornarem, maior é a possibilidade desse processo de cura acontecer de forma equilibrada.
Quanto mais compreensivamente elas abordarem a escuridão, mais branda será a expressão desta.
Mas isto não será possível no mundo inteiro.
Haverá expressões de profunda dor e agressão que poderão ser realmente prejudiciais aos outros.
Mas, mesmo diante das expressões mais violentas de dor, mantenhamos-nos no espaço da compaixão.
A compaixão não julga, ela simplesmente observa.
Nós podemos sentirmos-nos tristes com a falta de conscientização no mundo, com a presença do medo e de mal-entendidos, e com a falta de comunicação; mas, se quisermos preservar o espírito de Isis, se quisermos transmiti-lo aos outros, não julguemos as trevas; mantenhamos-nos tranquilos e deixemos aberto o espaço interno do nosso coração.
O que mantém todos nós juntos como seres viventes é a nossa humanidade, a nossa qualidade humana.
Todos nós somos feitos de luz e trevas, de alegria e dor.
E quando compreendermos profundamente este aspecto, uns em relação aos outros, e ousarmos comunicarmos livremente a respeito disto, uns com os outros, então a cura verdadeira ocorrerá.
Isto é inevitável, porque as coisas não podem ficar como estão.
Prossigamos com leveza, e não nos prendamos às cargas do passado.
Nós somos um explorador do novo, somos um aventureiro.
Trabalhemos junto com o nosso guerreiro interior.
Ele é um guerreiro ferido, mas valente, e está ansioso pelo abraço de Isis, o abraço da alegria, da luz e das risadas.
Isis, está dentro de nós.
  
Gratidão,
Luís Barros