São espíritos que nos conhecem e com os
quais nós já estivemos, em outros tempos e lugares.
Ao encarnar, nós damos um salto de fé,
porque fazemos isto sozinhos.
Entretanto, permanecemos conectados com
um grupo de amigos do outro lado.
Alguns deles são mais adiantados do que nós
e orientam o nosso caminho de vida com uma visão mais ampla do que nós somos
capazes de ter; eles são os que nós chamamos de nossos guias.
Mas existem também outros seres que têm
afinidade connosco e estão perto de nós – familiares ou amigos nossos.
Sintamos a presença deles, mesmo não
sabendo quem eles são, mas saibamos que somos vistos e ouvidos.
Há um respeito por nós, pelo que é
preciso para nos lançarmos nestas profundezas.
A vida na Terra – cada uma de nossas
vidas na Terra – é uma contribuição importante e valiosa para o caminho da nossa
alma; inclusive as experiências negativas.
Uma dor que vivenciamos agora, neste
momento, é como uma pedra que cai na água e provoca muitas ondulações na
superfície.
O efeito de uma experiência dolorosa ou
traumática cria ondulações ao longo do tempo.
Nós as vivenciaremos novamente em outras
épocas e outros lugares.
Como resultado, chegaremos a entender
totalmente as experiências passadas e a valorizá-las.
E ao fazermos isto, enviaremos cura para
aquele ponto de dor na nossa história.
Todos os pontos do tempo – todos os
momentos do agora na vida e jornada da nossa alma – estão unidos e afectam uns
aos outros.
Assim, ao voltarmos no tempo para uma
vida passada, nós activamos outros pontos no tempo, outros momentos.
Nós criamos uma corrente que vai nas
duas direcções: do passado para o presente e do presente para o passado.
E ao fazermos isto, nós nos enriquecemos;
começamos a entender cada vez melhor que somos muito mais do que esta pessoa,
masculina ou feminina, jovem ou velha, neste momento particular da história,
neste agora.
Esta pessoa, que somos agora, é apenas
um dos portais para a nossa alma; existem muitos outros portais possíveis.
Sintamos como a nossa alma é imensamente
rica e como são numerosas as experiências que ela tem acumulado.
Todas estas experiências são peças de um
quebra-cabeça que faz parte do grande Todo.
Tenhamos respeito pela grandiosidade que
somos; nós nem conseguimos abarcá-la com a nossa mente humana.
Digamos “sim” para a nossa alma, do
fundo do nosso coração.
Sintamos que aí, no nosso coração,
existe uma sabedoria que a nossa mente humana não consegue compreender
plenamente, mas que sustenta e apoia tudo o que nós somos e que dá sentido a
cada peça individualizada do quebra-cabeça.
Existe um tempo e um lugar para tudo.
Às vezes nós temos que passar por
experiências intensas sem entendermos por quê, e só mais tarde é que chegamos a
compreender o nosso valor.
Honremos e respeitemos a nós mesmos,
porque tivemos a coragem de mergulhar nas profundezas, com os nossos olhos
vendados.
Nós dissemos “sim” para a vida aqui na
Terra – agora digamos “sim” para nós mesmos.
E também digamos “sim” para toda a dor,
as experiências negativas, o medo e a dúvida que sentimos – tudo isto faz parte
da experiência humana.
Não rejeitemos as experiências
negativas, pois isto nos causaria uma luta contra nós mesmos que dispersaríamos
a nossa energia e nos afastaria mais do Lar.
Simplesmente aceitemos o que somos,
incluindo os medos e dúvidas.
Vamos levar-nos agora para o começo da nossa
vida.
Vamos para a nossa infância e, por um
momento, imaginemos que o nosso corpo vai se tornando mais jovem e menor.
Vejamos o que acontece quando cruzamos a
fronteira da puberdade e vamos mais para trás no tempo.
Percebamos como o género é menos
importante quando entramos na infância, quando estamos com menos de dez anos.
Lembremos-nos como não éramos tão
definidos pelo que estava gravado em nós sobre sermos homem ou mulher.
Lembremos-nos da nossa inocência e voltemos
mais um pouco no tempo… até o ponto que ultrapassamos a fase em que aprendemos
uma linguagem, conceitos, rótulos, avaliações e julgamento.
Ao voltarmos completamente para a nossa
primeira infância, a nossa consciência se torna mais aberta, mais receptiva.
Ela não julga, ela simplesmente absorve
impressões.
Tentemos sentir novamente essa abertura
de consciência em relação ao mundo à nossa volta.
É como se tivéssemos acabado de chegar
do céu, ainda não tão definidos pelas influências da dimensão terrena.
Nós ainda retemos muito da abertura do
alcance da nossa alma.
Ao voltarmos agora do presente para
aquele passado, nós podemos exercer influência nesse tempo, em quem éramos
naquela época.
Imaginemos que nós, na nossa condição actual,
nos curvemos para aquele bebé que éramos então.
Vejamos que idade nos vem à mente como
um momento apropriado.
Sintamos especialmente a percepção que
tínhamos e a nossa conexão com a dimensão da nossa alma.
Nós ainda éramos meio estranhos à vida
na Terra; ainda possuíamos o frescor, a pureza e abertura de um recém-chegado.
Vamos até essa criança, em nossa forma
actual, e observemos-la com olhar de admiração.
Vejamos as energias celestes nela
presentes.
Ajoelhemos-nos diante dessa criança que
fomos e perguntemos-lhe: “O que viestes fazer aqui? O que trouxeste da dimensão
além da Terra… algo realmente essencial para ti?”
Digamos-lhe: “Eu te ajudarei com isso;
vim do futuro para apoiar-te e orientar-te nessa tarefa.”
Observemos se a criança consegue ver e
sentir-nos.
Ou toquemos-la suavemente e fitemos-la nos
olhos.
E se sentirmos o poder verdadeiro e a
contribuição original dessa criança, coloquemos a mão em seu ombro e digamos-lhe:
“Eu te protegerei, apoiarei e garantirei que tenhas sucesso em tua meta.”
Ao fazermos isto, sintamos o nosso
próprio poder, o nosso conhecimento da vida terrena, a nossa experiência
acumulada ao longo dos vários anos do nosso passado.
Sintamos a sabedoria do nosso eu
presente e enviemos tudo isso de volta para essa criança.
E ao oferecermos a nossa sabedoria e
experiência de vida para ela, nós também receberemos algo dela em troca.
Receberemos a originalidade, a
espontaneidade, a autenticidade e verdade dessa criança, que fluem directamente
para dentro do nosso coração.
Sintamos novamente, em nosso coração, esta
energia que é correcta para nós – a energia da nossa alma.
Invoquemos, então, a força e a sabedoria
que se acumularam dentro de nós, que possuímos agora, nesta vida.
Isto se transforma num escudo de
protecção ao redor do nosso coração.
Nossa criança interior traz consigo a
sabedoria da dimensão da alma: a pureza, a originalidade, a inocência, mas
também a vulnerabilidade.
Ela precisa da nossa sabedoria terrena,
da nossa experiência de vida, para ser capaz de se desenvolver, para poder
permitir que sua luz brilhe aqui.
Contamos uma coisa sobre a história
humana; sobre o motivo de ter-se tornado tão difícil, para a nossa própria
alma, descer à sua vida terrena e entrar energeticamente no nosso abdome – do
coração, a sede da alma, para o abdome, sede do eu e personalidade terrenos.
Na história da Terra, existe um tabu
contra a individualidade.
Existem forças em acção – que se têm
manifestado fortemente, especialmente nas principais religiões – que estão
voltadas para a eliminação e repressão da individualidade.
Existem grandes correntes de medo na
atmosfera colectiva da Terra, e muito desse medo é o resultado da disparidade
entre o poderoso e o impotente.
Os que estão no poder querem ser
obedecidos pelos que estão abaixo deles.
Portanto, estão muito atentos à
individualidade, à originalidade daqueles que são diferentes, porque estes têm vontade
própria.
Os que estão no poder não suportam o
livre desenvolvimento do indivíduo.
Em resumo, o poderoso contra o impotente
tem sido a história da humanidade há séculos.
Esta talvez seja uma imagem um tanto
exagerada, mas estamos usando-a para esclarecer uma questão.
O poder vem sendo exercido sobre as
pessoas por meio de pontos de vista particulares sobre a essência do que é ser
um humano; como, por exemplo, que, em essência, os seres humanos são pecadores,
maus, inferiores e indignos.
Estes pontos de vista afirmam que apenas
através de algo externo ao ser humano, este pode ser salvo do pecado e da
dívida que lhe são inatos.
E o que pode salvar os seres humanos é
uma autoridade superior a eles; um Deus, por exemplo, que prescreve regras.
E, também, que existem certos humanos
representantes desse Deus, que têm acesso especial a essas regras – uma elite
que possui um conhecimento privilegiado da moralidade.
Este conceito tem sido imposto às
pessoas, e a razão pela qual elas permitiram que isto acontecesse é que o medo
foi plantado nelas, em primeiro lugar.
Um medo real pela sobrevivência: medo da
fome, da morte, da doença, da violência, que criaram impressões profundas na
história humana.
Mas agora um novo capítulo está
irrompendo na Terra, no qual uma energia oposta está nascendo.
Não é uma energia na qual a
individualidade é negada, enfatizando a adaptação e conformismo, mas uma
energia em que a individualidade é correctamente valorizada e assim também o é
a energia original da alma.
A razão pela qual a vida na Terra “saiu
dos eixos” de muitas formas – tornando-se violenta, tanto entre pessoas, quanto
em relação à natureza – é que se perdeu a conexão com a alma; o coração se
fechou e o medo passou a reinar.
Sintamos o peso dessa história - embora sua influência esteja diminuindo,
ela ainda tem um impacto na maneira como as pessoas pensam e sentem.
Entrar em contacto com a nossa alma e
realmente acreditar em nossas habilidades e talentos individuais, ainda não é a
coisa óbvia e habitual a se fazer.
Colocarmos-nos atrás de nós mesmos e
dizermos "sim" ao nosso eu original exige uma força interior
profunda.
Nós somos um dos que estão criando uma
abertura que recriará o acesso à dimensão da alma.
Isto significa que também nos tornamos
extremamente sensíveis: o nosso coração está aberto e nós aprendemos a aceder
as nossas emoções e intuição, em vez de agirmos com base nas vozes de medo e
coerção que vêm da nossa cabeça.
Nós criamos essa abertura a partir do nosso
interior, e não somente nesta vida, mas também em vidas passadas.
Nós somos um trabalhador da luz, um
trabalhador consciente; e agora chegou o momento desta luz, esta abertura que
criamos – algumas vezes pela necessidade de uma vida de reclusão – ser semeada
e poder germinar na Terra entre as pessoas em toda a sociedade.
Fazer isto pode-nos trazer de volta
antigos temores: lembranças de quando estivemos dominados pelo medo e abuso de
poder.
Neste sentido, nós estamos dando os
primeiros passos em um novo terreno, no qual eles agora podem criar raízes.
Quando nos baseamos apenas na nossa alma,
quando falamos e agimos a partir dessa fonte, isto pode provocar um redemoinho
de medo e dúvida em nosso interior… até mesmo, medo mortal.
Então torna-se necessário falar a partir
do poder do nosso abdome, que é o verdadeiro resultado da descida da energia da
nossa alma.
Falar não apenas a partir da energia que
vem do nosso coração, mas também da energia que está no âmago do nosso ser
terreno, na nossa fisicalidade como homem ou mulher.
Queremos explicar algumas coisas sobre
esta energia.
A energia no nosso abdome – essa energia
primária – quando está em equilíbrio, é uma energia muito bem aterrada.
Quando estamos totalmente presentes com a
nossa consciência no nosso abdome, nós estamos bem ancorados na Terra; nós nos sentimos
sólidos; sentimos que podemos ser quem realmente somos; e assim nos sentimos
seguros, respeitados.
A partir dessa base, nós ouvimos as mensagens
do nosso coração, da nossa alma, e integramos essas mensagens.
Mas, muitas vezes acontece de recebermos
mensagens da nossa alma ou da nossa intuição e não sabermos como permanecer bem
aterrados.
É como se o acesso ao nosso próprio
abdome nos tivesse sido negado; e isto tem muito a ver com a história na qual nós
não fomos autorizados a pensar e agir por nós mesmos, ou a nos afastarmos das
normas e sermos diferentes.
É exactamente aqui que a energia
masculina, a força masculina, se faz necessária para libertar-nos da tradição,
para dizer “não” ao que se espera de nós e nos recusarmos a nos adaptarmos a um
molde.
Sentirmos-nos livres para agir fora das
regras, para explorar e investigar, é onde a energia masculina nos ajuda a nos
aprofundar mais no nosso abdome.
É assim que ela se põe em acção para
ajudar a luz original da nossa alma: a energia masculina cria espaço para nós.
A energia masculina é extremamente
importante; percebamos que ela nos serve quando é uma energia masculina bem
ancorada.
Ao longo do passado, houve uma energia
masculina que exercitou o autoritarismo e a coerção, implantando medo nas
pessoas.
Esta é uma energia masculina
não-aterrada, uma energia desconectada, que se sente deslocada, exilada e,
portanto, quer regular e controlar a vida.
Mas a verdadeira energia masculina é
como um escudo, uma protecção poderosa para a energia do nosso coração.
E quando ela está presente, nós conseguimos
descer mais profundamente da nossa alma para o nosso abdome.
E então nós nos sentimos sustentados
pela própria Terra.
Sintamos o ritmo que se ajusta ao nosso
caminho de vida.
Ser verdadeiramente intuitivo tem a ver
com perceber o ritmo da vida. “O que é bom para mim? Do que eu realmente
preciso?”
Isto é uma coisa que nós não podemos
sentir apenas com o nosso coração.
Isto exige um alinhamento quase físico,
instintivo, no nível do nosso abdome; ou seja, estarmos ancorados na Terra e, a
partir daí, tomar as nossas decisões.
Para concluir, imaginemos que a criança,
que vimos no começo, está presente agora no nosso abdome, com sua energia
aberta e espontânea, fazendo, assim, uma conexão directa com nosso coração e
alma.
E, ao mesmo tempo, sintamos um sólido
escudo de protecção ao nosso redor.
Isto cria espaço para a criança, de modo
que ela não se esqueça de si mesma e se deixe absorver por estímulos e
influências do exterior, como velhas ideias, antigos conceitos de moral, e de
como as coisas costumavam ser.
O escudo dentro de nós é a energia
masculina que diz “não” a essas influências, enquanto, ao mesmo tempo, ouve
atentamente a sua própria fonte de sabedoria.
Sintamos a protecção intensa de uma
energia masculina aterrada, nas nossas costas e cóccix, nas nossas pernas e
pés, nos nossos braços e mãos.
Agora a criança pode se enraizar em nós
e crescer protegida, de modo a desenvolver a energia natural da nossa própria
alma.
Percebamos como ela começa a se animar,
a recobrar a vontade de viver, sob essa protecção, e a brincar dentro do nosso abdome.
Nós somos um portador do archote desta
nova era.
Protejamos-nos, de modo a poder permitir
que a luz flua e possamos espalhar as sementes deste novo tempo.
E assim concretizaremos o objectivo da nossa
vida.
Gratidão,
Luís Barros