24 de julho de 2020

O TABU CONTRA A INDIVIDUALIDADE

Na dimensão acima da terrena, existem espíritos afins, almas que nos amam de uma forma profundamente pessoal e não apenas abstracta.
São espíritos que nos conhecem e com os quais nós já estivemos, em outros tempos e lugares.
Ao encarnar, nós damos um salto de fé, porque fazemos isto sozinhos.
Entretanto, permanecemos conectados com um grupo de amigos do outro lado.
Alguns deles são mais adiantados do que nós e orientam o nosso caminho de vida com uma visão mais ampla do que nós somos capazes de ter; eles são os que nós chamamos de nossos guias.
Mas existem também outros seres que têm afinidade connosco e estão perto de nós – familiares ou amigos nossos.
Sintamos a presença deles, mesmo não sabendo quem eles são, mas saibamos que somos vistos e ouvidos.
Há um respeito por nós, pelo que é preciso para nos lançarmos nestas profundezas.
A vida na Terra – cada uma de nossas vidas na Terra – é uma contribuição importante e valiosa para o caminho da nossa alma; inclusive as experiências negativas.
Uma dor que vivenciamos agora, neste momento, é como uma pedra que cai na água e provoca muitas ondulações na superfície.
O efeito de uma experiência dolorosa ou traumática cria ondulações ao longo do tempo.
Nós as vivenciaremos novamente em outras épocas e outros lugares.
Como resultado, chegaremos a entender totalmente as experiências passadas e a valorizá-las.
E ao fazermos isto, enviaremos cura para aquele ponto de dor na nossa história. 
Todos os pontos do tempo – todos os momentos do agora na vida e jornada da nossa alma – estão unidos e afectam uns aos outros.
Assim, ao voltarmos no tempo para uma vida passada, nós activamos outros pontos no tempo, outros momentos.
Nós criamos uma corrente que vai nas duas direcções: do passado para o presente e do presente para o passado.
E ao fazermos isto, nós nos enriquecemos; começamos a entender cada vez melhor que somos muito mais do que esta pessoa, masculina ou feminina, jovem ou velha, neste momento particular da história, neste agora.
Esta pessoa, que somos agora, é apenas um dos portais para a nossa alma; existem muitos outros portais possíveis.
Sintamos como a nossa alma é imensamente rica e como são numerosas as experiências que ela tem acumulado.
Todas estas experiências são peças de um quebra-cabeça que faz parte do grande Todo.
Tenhamos respeito pela grandiosidade que somos; nós nem conseguimos abarcá-la com a nossa mente humana.
Digamos “sim” para a nossa alma, do fundo do nosso coração.
Sintamos que aí, no nosso coração, existe uma sabedoria que a nossa mente humana não consegue compreender plenamente, mas que sustenta e apoia tudo o que nós somos e que dá sentido a cada peça individualizada do quebra-cabeça. 
Existe um tempo e um lugar para tudo.
Às vezes nós temos que passar por experiências intensas sem entendermos por quê, e só mais tarde é que chegamos a compreender o nosso valor.
Honremos e respeitemos a nós mesmos, porque tivemos a coragem de mergulhar nas profundezas, com os nossos olhos vendados.
Nós dissemos “sim” para a vida aqui na Terra – agora digamos “sim” para nós mesmos.
E também digamos “sim” para toda a dor, as experiências negativas, o medo e a dúvida que sentimos – tudo isto faz parte da experiência humana.
Não rejeitemos as experiências negativas, pois isto nos causaria uma luta contra nós mesmos que dispersaríamos a nossa energia e nos afastaria mais do Lar.
Simplesmente aceitemos o que somos, incluindo os medos e dúvidas.
Vamos levar-nos agora para o começo da nossa vida.
Vamos para a nossa infância e, por um momento, imaginemos que o nosso corpo vai se tornando mais jovem e menor.
Vejamos o que acontece quando cruzamos a fronteira da puberdade e vamos mais para trás no tempo.
Percebamos como o género é menos importante quando entramos na infância, quando estamos com menos de dez anos.
Lembremos-nos como não éramos tão definidos pelo que estava gravado em nós sobre sermos homem ou mulher.
Lembremos-nos da nossa inocência e voltemos mais um pouco no tempo… até o ponto que ultrapassamos a fase em que aprendemos uma linguagem, conceitos, rótulos, avaliações e julgamento. 
Ao voltarmos completamente para a nossa primeira infância, a nossa consciência se torna mais aberta, mais receptiva.
Ela não julga, ela simplesmente absorve impressões.
Tentemos sentir novamente essa abertura de consciência em relação ao mundo à nossa volta.
É como se tivéssemos acabado de chegar do céu, ainda não tão definidos pelas influências da dimensão terrena.
Nós ainda retemos muito da abertura do alcance da nossa alma. 
Ao voltarmos agora do presente para aquele passado, nós podemos exercer influência nesse tempo, em quem éramos naquela época.
Imaginemos que nós, na nossa condição actual, nos curvemos para aquele bebé que éramos então.
Vejamos que idade nos vem à mente como um momento apropriado.
Sintamos especialmente a percepção que tínhamos e a nossa conexão com a dimensão da nossa alma.
Nós ainda éramos meio estranhos à vida na Terra; ainda possuíamos o frescor, a pureza e abertura de um recém-chegado.
Vamos até essa criança, em nossa forma actual, e observemos-la com olhar de admiração.
Vejamos as energias celestes nela presentes.
Ajoelhemos-nos diante dessa criança que fomos e perguntemos-lhe: “O que viestes fazer aqui? O que trouxeste da dimensão além da Terra… algo realmente essencial para ti?
Digamos-lhe: “Eu te ajudarei com isso; vim do futuro para apoiar-te e orientar-te nessa tarefa.
Observemos se a criança consegue ver e sentir-nos.
Ou toquemos-la suavemente e fitemos-la nos olhos.
E se sentirmos o poder verdadeiro e a contribuição original dessa criança, coloquemos a mão em seu ombro e digamos-lhe: “Eu te protegerei, apoiarei e garantirei que tenhas sucesso em tua meta.
Ao fazermos isto, sintamos o nosso próprio poder, o nosso conhecimento da vida terrena, a nossa experiência acumulada ao longo dos vários anos do nosso passado.
Sintamos a sabedoria do nosso eu presente e enviemos tudo isso de volta para essa criança.
E ao oferecermos a nossa sabedoria e experiência de vida para ela, nós também receberemos algo dela em troca.
Receberemos a originalidade, a espontaneidade, a autenticidade e verdade dessa criança, que fluem directamente para dentro do nosso coração.
Sintamos novamente, em nosso coração, esta energia que é correcta para nós – a energia da nossa alma. 
Invoquemos, então, a força e a sabedoria que se acumularam dentro de nós, que possuímos agora, nesta vida.
Isto se transforma num escudo de protecção ao redor do nosso coração.
Nossa criança interior traz consigo a sabedoria da dimensão da alma: a pureza, a originalidade, a inocência, mas também a vulnerabilidade.
Ela precisa da nossa sabedoria terrena, da nossa experiência de vida, para ser capaz de se desenvolver, para poder permitir que sua luz brilhe aqui. 
Contamos uma coisa sobre a história humana; sobre o motivo de ter-se tornado tão difícil, para a nossa própria alma, descer à sua vida terrena e entrar energeticamente no nosso abdome – do coração, a sede da alma, para o abdome, sede do eu e personalidade terrenos.
Na história da Terra, existe um tabu contra a individualidade.
Existem forças em acção – que se têm manifestado fortemente, especialmente nas principais religiões – que estão voltadas para a eliminação e repressão da individualidade.
Existem grandes correntes de medo na atmosfera colectiva da Terra, e muito desse medo é o resultado da disparidade entre o poderoso e o impotente.
Os que estão no poder querem ser obedecidos pelos que estão abaixo deles.
Portanto, estão muito atentos à individualidade, à originalidade daqueles que são diferentes, porque estes têm vontade própria.
Os que estão no poder não suportam o livre desenvolvimento do indivíduo.
Em resumo, o poderoso contra o impotente tem sido a história da humanidade há séculos.
Esta talvez seja uma imagem um tanto exagerada, mas estamos usando-a para esclarecer uma questão.
O poder vem sendo exercido sobre as pessoas por meio de pontos de vista particulares sobre a essência do que é ser um humano; como, por exemplo, que, em essência, os seres humanos são pecadores, maus, inferiores e indignos. 
Estes pontos de vista afirmam que apenas através de algo externo ao ser humano, este pode ser salvo do pecado e da dívida que lhe são inatos.
E o que pode salvar os seres humanos é uma autoridade superior a eles; um Deus, por exemplo, que prescreve regras.
E, também, que existem certos humanos representantes desse Deus, que têm acesso especial a essas regras – uma elite que possui um conhecimento privilegiado da moralidade.
Este conceito tem sido imposto às pessoas, e a razão pela qual elas permitiram que isto acontecesse é que o medo foi plantado nelas, em primeiro lugar.
Um medo real pela sobrevivência: medo da fome, da morte, da doença, da violência, que criaram impressões profundas na história humana. 
Mas agora um novo capítulo está irrompendo na Terra, no qual uma energia oposta está nascendo.
Não é uma energia na qual a individualidade é negada, enfatizando a adaptação e conformismo, mas uma energia em que a individualidade é correctamente valorizada e assim também o é a energia original da alma.
A razão pela qual a vida na Terra “saiu dos eixos” de muitas formas – tornando-se violenta, tanto entre pessoas, quanto em relação à natureza – é que se perdeu a conexão com a alma; o coração se fechou e o medo passou a reinar. 
Sintamos o peso dessa história - embora sua influência esteja diminuindo, ela ainda tem um impacto na maneira como as pessoas pensam e sentem.
Entrar em contacto com a nossa alma e realmente acreditar em nossas habilidades e talentos individuais, ainda não é a coisa óbvia e habitual a se fazer.
Colocarmos-nos atrás de nós mesmos e dizermos "sim" ao nosso eu original exige uma força interior profunda.
Nós somos um dos que estão criando uma abertura que recriará o acesso à dimensão da alma.
Isto significa que também nos tornamos extremamente sensíveis: o nosso coração está aberto e nós aprendemos a aceder as nossas emoções e intuição, em vez de agirmos com base nas vozes de medo e coerção que vêm da nossa cabeça.
Nós criamos essa abertura a partir do nosso interior, e não somente nesta vida, mas também em vidas passadas.
Nós somos um trabalhador da luz, um trabalhador consciente; e agora chegou o momento desta luz, esta abertura que criamos – algumas vezes pela necessidade de uma vida de reclusão – ser semeada e poder germinar na Terra entre as pessoas em toda a sociedade. 
Fazer isto pode-nos trazer de volta antigos temores: lembranças de quando estivemos dominados pelo medo e abuso de poder.
Neste sentido, nós estamos dando os primeiros passos em um novo terreno, no qual eles agora podem criar raízes.
Quando nos baseamos apenas na nossa alma, quando falamos e agimos a partir dessa fonte, isto pode provocar um redemoinho de medo e dúvida em nosso interior… até mesmo, medo mortal.
Então torna-se necessário falar a partir do poder do nosso abdome, que é o verdadeiro resultado da descida da energia da nossa alma.
Falar não apenas a partir da energia que vem do nosso coração, mas também da energia que está no âmago do nosso ser terreno, na nossa fisicalidade como homem ou mulher.
Queremos explicar algumas coisas sobre esta energia.
A energia no nosso abdome – essa energia primária – quando está em equilíbrio, é uma energia muito bem aterrada.
Quando estamos totalmente presentes com a nossa consciência no nosso abdome, nós estamos bem ancorados na Terra; nós nos sentimos sólidos; sentimos que podemos ser quem realmente somos; e assim nos sentimos seguros, respeitados.
A partir dessa base, nós ouvimos as mensagens do nosso coração, da nossa alma, e integramos essas mensagens.
Mas, muitas vezes acontece de recebermos mensagens da nossa alma ou da nossa intuição e não sabermos como permanecer bem aterrados.
É como se o acesso ao nosso próprio abdome nos tivesse sido negado; e isto tem muito a ver com a história na qual nós não fomos autorizados a pensar e agir por nós mesmos, ou a nos afastarmos das normas e sermos diferentes.
É exactamente aqui que a energia masculina, a força masculina, se faz necessária para libertar-nos da tradição, para dizer “não” ao que se espera de nós e nos recusarmos a nos adaptarmos a um molde.
Sentirmos-nos livres para agir fora das regras, para explorar e investigar, é onde a energia masculina nos ajuda a nos aprofundar mais no nosso abdome.
É assim que ela se põe em acção para ajudar a luz original da nossa alma: a energia masculina cria espaço para nós. 
A energia masculina é extremamente importante; percebamos que ela nos serve quando é uma energia masculina bem ancorada.
Ao longo do passado, houve uma energia masculina que exercitou o autoritarismo e a coerção, implantando medo nas pessoas.
Esta é uma energia masculina não-aterrada, uma energia desconectada, que se sente deslocada, exilada e, portanto, quer regular e controlar a vida.
Mas a verdadeira energia masculina é como um escudo, uma protecção poderosa para a energia do nosso coração.
E quando ela está presente, nós conseguimos descer mais profundamente da nossa alma para o nosso abdome.
E então nós nos sentimos sustentados pela própria Terra. 
Sintamos o ritmo que se ajusta ao nosso caminho de vida.
Ser verdadeiramente intuitivo tem a ver com perceber o ritmo da vida. “O que é bom para mim? Do que eu realmente preciso?
Isto é uma coisa que nós não podemos sentir apenas com o nosso coração.
Isto exige um alinhamento quase físico, instintivo, no nível do nosso abdome; ou seja, estarmos ancorados na Terra e, a partir daí, tomar as nossas decisões. 
Para concluir, imaginemos que a criança, que vimos no começo, está presente agora no nosso abdome, com sua energia aberta e espontânea, fazendo, assim, uma conexão directa com nosso coração e alma.
E, ao mesmo tempo, sintamos um sólido escudo de protecção ao nosso redor.
Isto cria espaço para a criança, de modo que ela não se esqueça de si mesma e se deixe absorver por estímulos e influências do exterior, como velhas ideias, antigos conceitos de moral, e de como as coisas costumavam ser.
O escudo dentro de nós é a energia masculina que diz “não” a essas influências, enquanto, ao mesmo tempo, ouve atentamente a sua própria fonte de sabedoria. 
Sintamos a protecção intensa de uma energia masculina aterrada, nas nossas costas e cóccix, nas nossas pernas e pés, nos nossos braços e mãos.
Agora a criança pode se enraizar em nós e crescer protegida, de modo a desenvolver a energia natural da nossa própria alma.
Percebamos como ela começa a se animar, a recobrar a vontade de viver, sob essa protecção, e a brincar dentro do nosso abdome. 
Nós somos um portador do archote desta nova era.
Protejamos-nos, de modo a poder permitir que a luz flua e possamos espalhar as sementes deste novo tempo.
E assim concretizaremos o objectivo da nossa vida.

Gratidão,
Luís Barros