21 de julho de 2020

TERAPEUTA E PACIENTE

Jeshua, está perto de nós em nosso coração, porque estamos profundamente conectados um ao outro.
Existe um nível no qual nós somos um em consciência, uma consciência indivisa, livre, grandiosa e criativa, que é o nosso verdadeiro refúgio.
Nós estamos aqui, manifestados em uma forma corporal, localizada no tempo e espaço, mas é muito mais do que isso, assim conectemos-nos com essa consciência maior, indefinida e mais ampla, que nos conecta com a nossa origem, com o nosso Lar. 
Sintamos Deus dentro de nós, e percebamos como esta energia é realmente simples.
Deus não está acima de nós, ele é uma energia que flui através de nós, através de toda a vida na Terra, e até através dos objectos e coisas materiais que nos rodeiam.
Deus é tudo, e Deus não se sente limitado por formas.
Deus é consciência pura e não adulterada.
Entretanto, o poder divino deseja vivenciar todas estas formas diferentes, todas estas manifestações no tempo e espaço. 
Sintamos agora, por um momento, quem somos em todo esse fluxo… uma centelha de luz num imenso oceano de consciência, mas uma centelha de luz imperecível, que oferece uma contribuição única para o todo.
Sintamos o poder indestrutível dentro de nós, que sempre é, sempre foi e sempre será a centelha da vida eterna.
E nessa centelha de luz, nós somos parte do Criador, parte de Deus.
Nós possuímos uma consciência criativa, e escolhemos as experiências da nossa vida, o caminho de vida com o qual nos comprometemos.
Nas profundezas do nosso ser, há um ponto central, no qual estamos conscientes do projecto da nossa vida e atraímos as coisas que desejamos experimentar a fim de nos desenvolvermos e aprender. 
É por isto que, essencialmente, nós nunca somos vítima do mundo.
Em essência, nós nunca somos totalmente impotentes ou vulneráveis, porque, no fundo do nosso ser, essa centelha de Deus está presente, essa centelha de Deus que diz “sim” para tudo que estamos passando na nossa vida, e que, inclusive, sabe que somos capazes de aprender e nos desenvolver a partir dessas experiências e nos tornarmos maior e mais inclusivo.
Digamos “sim” para essa força dentro de nós, essa fonte de luz através da qual atraímos para nós a vida que vivemos agora, com tudo que faz parte dela.
Nós dissemos “sim” uma vez e, internamente, sabemos que possuímos o poder de realizar essa vida, esse destino, de uma forma positiva, lembrando-nos de quem somos, em meio às nossas preocupações terrenas, no nossa dia-a-dia, em que enfrentamos problemas e resistências.
Voltar para o Lar, para nós mesmos, e compartilhar esse conhecimento e luz com outros, nos trará a mais profunda satisfação.
Nós desejamos ser terapeutas espirituais, o que significa que desejamos espalhar luz e consciência na Terra, a partir da nossa alma.
E este é um desejo puro e autêntico do nosso coração e da nossa alma.
Isto vem directamente da centelha de Deus que somos, porque, para Deus, é natural compartilhar alegria, sabedoria e entendimento.
Isto faz Deus feliz, e faz-nos felizes, porque nós somos Deus em nosso coração e em nossa alma.
E agora perguntamos: “Como exactamente se faz isso?…’espalhar a luz’, oferecer cura aos outros?
É sobre isto que falamos agora, porque na nossa sociedade, existe uma estranha dicotomia entre doente e saudável, inteiro e fragmentado.
O terapeuta supostamente se encontra do lado saudável, aquele que é inteiro e oferece luz e cura aos que estão fragmentados ou doentes.
Visto por esta perspectiva, o terapeuta é maior e está muito à frente, enquanto o paciente está atrasado e é menor.
E o maior tem algo que o menor não possui e que ele compartilha com o menor.
Entretanto, do ponto de vista espiritual, esta é uma imagem falsa.
O que acontece, então, é que, mesmo antes de a pessoa ser tratada por um médico ou terapeuta, ela já está se apresentando como menor do que aquele que a irá tratar, ou seja, o paciente tem um problema e vai ao terapeuta para que este lhe ofereça uma solução. 
Esta imagem do relacionamento entre terapeuta e paciente permeia toda a assistência convencional à saúde.
O médico que procuramos tem o “conhecimento e competência” e, portanto, nós, como pacientes, somos menores e inferiores a ele, porque precisamos do conhecimento dele (de algo que está fora de nós), para ficarmos bons.
Involuntariamente, este modelo também é usado com frequência na “saúde mental”.
Sugerimos que arrancamos esta imagem “pela raiz”, porque é uma ideia completamente falsa de como é um relacionamento entre paciente e terapeuta.
A verdade é justamente o contrário: nós somos um bom terapeuta, se soubermos fazer-nos pequenos e devolvermos, àquele que vem buscar a nossa ajuda, a grandeza dele.
Isto é algo que essa pessoa perdeu involuntariamente. 
Uma pessoa que tenha problemas espirituais graves está, de certa forma, convencida de que é impotente, de que não consegue suportar a resistência e negatividade da vida, e, por isto, sente-se pequena e indefesa.
Nós, como terapeutas espirituais, somos aquele que convidamos essa pessoa a reencontrar e experimentar novamente sua própria força.
Nós a encorajamos a descobrir a sua própria grandeza, e manter acesa sua centelha divina interior.
E como fazemos isto?
Não é-lhe oferecendo algo que a faça sentir-se melhor, alguma coisa que venha de fora dela, mas acreditando no poder da alma dessa pessoa.
Nós fazemos isso conectando-nos com a alma dela, e, a partir daí, mostrando-lhe, através dos nossos olhos, de nossas palavras, gestos e olhar, que acreditamos nela; mostrando-lhe que reconhecemos a força, a beleza e a sabedoria de sua alma.
E graças a esse reconhecimento, e através da nossa fé e confiança no que essa pessoa realmente é, ela também recebe esperança e confiança.
Este é o caminho da cura espiritual: devolver ao outro a grandeza dele mesmo.
É tentar, de várias maneiras, reconectá-lo com o poder de sua própria alma e, inclusive, desta forma, devolver-lhe totalmente a responsabilidade.
A grande força do trabalho espiritual é mostrar à outra pessoa que ela é a única responsável por seu próprio caminho de vida, e que sua necessidade de cura não é um ponto de fraqueza; que o que ela está enfrentando não é algo que ela não possa administrar, que justamente a aceitação da responsabilidade é que poderá ajudá-la a libertar-se de seus fardos. 
Devolver ao paciente a responsabilidade por sua própria vida não quer dizer abandoná-lo à sua própria sorte.
Significa que o encorajamos a descobrir e experimentar o poder que existe dentro dele; a perceber que ele é muito maior, mais sábio e mais poderoso do que imagina.
Ser um terapeuta espiritual significa receber o outro de alma para alma. 
Visto da perspectiva humana, pode parecer que somos mais fortes ou sabemos mais do que a outra pessoa, e que ela está em apuros e precisa da nossa ajuda.
Mas do ponto de vista da alma, nós dois estamos em um caminho e, neste momento, uma alma tem mais dor do que a outra, o que não tem nada a ver com o caminho no qual nos encontramos como almas, nem com o nível de realizações de cada uma.
Simplesmente uma alma fez uma escolha diferente da outra.
Portanto não há nenhum julgamento a ser feito, e também não é útil fazê-lo.
Nós realizamos um trabalho espiritual porque, no nível da alma, desejamos compartilhar a luz.
O que acontece, quando fazemos este trabalho, é que a nossa luz interior brilha mais intensamente e experimentamos uma satisfação profunda.
Neste sentido, não é tanto o que fazemos pelos outros, mas algo que realizamos porque é o nosso destino realizá-lo, da mesma forma que uma flor em botão deseja desabrochar.
É por isto que fazemos isso; é simplesmente o curso natural dos acontecimentos.
A luz sempre deseja irradiar e aumentar.
Portanto, o verdadeiro trabalho de luz é irradiar a nossa luz para os outros sem nenhum julgamento.
Nós não tentamos resolver os problemas do nosso paciente, porque isto é algo que não podemos fazer, e esta não é a nossa intenção.
Nós permitimos que a nossa luz se irradie sobre a essência dele, ajudando-o a despertar para sua própria essência, para sua própria luz.
Isto é a coisa mais importante que podemos fazer por outro ser humano.
E quando isto se torna disponível por nosso intermédio, nós descobrimos imediatamente um aumento de alegria nesse ser, porque ele pode se aproximar mais da nossa própria essência, da nossa própria força vital, que nos dá coragem e confiança.
Nada pode incutir mais coragem e confiança numa pessoa, do que sentir que ela é o mestre de sua própria vida, e é capaz de moldar sua vida a partir da sua própria força interior. 
Gostaríamos de acrescentar mais uma coisa: nós, que fazemos este trabalho espiritual ou desejamos fazê-lo, às vezes temos dificuldade para libertar a energia negativa da outra pessoa, sua dor e sofrimento.
Tanto que às vezes ficamos oprimidos pelo sofrimento do outro e até nos sentimos sobrecarregado por ele.
Nesse momento, nos afastamos da nossa própria grandeza, da nossa centelha divina, e deslizamos para o nosso lado humano.
Saltamos para o nosso modo antigo: “Ai! Essa pessoa precisa da minha ajuda! Não posso suportar isto, tenho que lhe estender a mão!
Vejamos o que esta abordagem faz para a outra pessoa: nós a consideramos pequena e indefesa, uma vítima que é preciso salvar.
Mas, ao agirmos assim, realmente não fazemos justiça a ninguém e, no fim, não ajudamos em nada.
Mantermos-nos verdadeiramente em nosso poder como ajudante espiritual significa darmos um passo para trás.
Como ser humano, podemos ser tentados a dar um passo à frente e querer suavizar a dor do outro.
Mas como ajudante espiritual, como alma, nós damos um passo para trás.
Nós nos mantemos totalmente presentes, temos compaixão pelo outro e geralmente entendemos muito bem o processo pelo qual ele está passando, mas não nos deixamos envolver por esse processo.
Nós nos mantemos fora do problema.
Nós somos um farol de luz e, ao retroceder, demonstramos que é possível não sermos atraídos por pensamentos que envolvam pequenez, fraqueza e desamparo.
Dando um passo para trás, abrimos espaço para a outra pessoa assumir a nossa própria força.
Nós a encorajamos a assumir essa força, embora esta atitude possa ir contra tudo que aprendemos como ser humano. 
Esta abordagem pode parecer dura ou cruel, mas não é, se a olharmos do ponto de vista da alma.
Imaginemos que nos encontramos num momento de muita fraqueza, no qual vivenciamos muita dor e nos sentimos bastante impotentes, ou quando a vida parece demais para ser suportada.
O que nos pode ser mais útil?
Alguém que nos ofereça ajuda a partir do nível vibracional no qual nos encontramos e, desse nível, nos dê uma palmadinha nas costas?
Ou alguém que tente ajudar-nos partindo da ideia de que não somos capazes de fazer isso por nós mesmo?
Como ajudante, geralmente damos conselhos bem-intencionados a partir da nossa própria visão de como resolver o problema da outra pessoa.
Mas não alcançamos realmente a alma dela, porque não estamos conectados a ela no nível da alma.
Pensemos nos momentos em que nos sentimos extremamente vulneráveis, tristes ou ansiosos.
O que mais nos ajuda nessas horas é alguém que continua acreditando no nosso poder, que ainda continua percebendo a força da nossa alma, do nosso ser, mesmo que não nos vemos totalmente dessa maneira.
Este é o verdadeiro trabalho de um terapeuta espiritual.
E isto algumas vezes significa ter que nos apegarmos à imagem da outra pessoa como um ser poderoso, criativo, livre e amoroso, mesmo que ela não seja capaz de fazer isto sozinha. 
Pode significar que tenhamos que esperar pacientemente, enquanto mantemos essa imagem em mente.
Mas é essencial, no nível da alma, que ambos permaneçamos como iguais.
Senão, deslizamos de novo para a antiga imagem do maior comparado ao menor, do indefeso diante do poderoso; e esta é uma imagem destrutiva, pois mantém a pessoa afastada do seu poder verdadeiro.
No momento em que nos sentirmos fragilizados pela dor ou negatividade dos outros, lembremos-nos do que está realmente acontecendo.
Tenhamos a coragem de dar um passo para trás e não vejamos isto como insensibilidade ou crueldade, mas como uma reavaliação na qual colocamos em perspectiva a verdadeira relação entre nós e aquele que está sofrendo.
Mantenhamos-nos presentes no nosso próprio poder, na nossa própria luz.
Isto é benéfico para nós; não só para a nossa mente, mas também para as nossas emoções e o nosso corpo.
E beneficiamos também a outra pessoa, porque, deste modo, nós lhe apresentamos um farol de luz no qual ela pode se espelhar. 
O trabalho espiritual, no qual nos relacionamos com outra pessoa alma a alma, requer que façamos uma conexão interior com ela, especialmente com a grandeza dela.
E significa, ao mesmo tempo, que libertamos completamente a outra pessoa para ser sua própria grandeza.
E isto é muito importante que seja lembrado, porque libertar o outro é um acto de confiança e é tão importante quanto fazer a conexão. 
Cada um de nós é uma estrela de luz; nossa luz e irradiação são ilimitadas; podemos acreditar na nossa luz e aproveitá-la, e viver plenamente aqui na Terra.
Este é o trabalho de luz para o qual nós viemos.

Gratidão,
Luís Barros