Este é um dos lugares mais sombrios para
uma alma estar encarnada num corpo humano.
Quando estamos aqui, é-nos extremamente
difícil lembrarmos-nos de quem somos, da nossa origem cósmica, nossa
grandiosidade, nossa amplidão, nossa natureza eterna, porque tudo aqui parece
estar voltado para o nosso esquecimento de nós mesmos, da nossa essência mais
profunda.
Desde a mais tenra idade, aprendemos a
confiar apenas nas nossas percepções sensoriais, naquilo que os nossos olhos,
ouvidos e nariz nos dizem que é a realidade verdadeira.
O mundo material à nossa volta é visto
como a síntese do que é real, sólido e verdadeiro.
Principalmente nesta época, em que a
visão científica englobou tudo, existe um grande cepticismo a respeito da
capacidade de ver mais além da realidade física, sensorial.
Ver com a visão interna, sentir e intuir
com o coração… tudo isto é descartado como não real, como tola superstição.
Isto é um grande paradoxo, pois é
somente no nível da alma que descobrimos quem realmente somos.
É exactamente no mundo interno, e não no
externo, que nos encontramos a nós mesmos.
Nós acabamos nos desviando do caminho,
nesta sociedade, porque muita ênfase é colocada na importância das aparências e
no conhecimento exterior e comprovável.
De acordo com esta sociedade, para que
algo seja considerado real e verdadeiro, precisa ser percebido com os sentidos
ou deduzido pela mente.
Mas, o que dizer de todos os sentimentos
que as pessoas vêm enfrentando, como a solidão profunda e a futilidade, com as
quais muitos têm que lidar?
Este não é apenas um problema
individual, mas fundamental no mundo.
Há uma crise existencial profunda no
mundo, que corrói o coração da maioria dos indivíduos.
Percebe-se uma carência da alma como fonte
de significado na vida diária.
Quem ou o que é essa alma?
Nos dias de hoje, é corajoso aquele que
busca explicitamente a alma; que deixa de lado a compulsão do pensamento
racional restritivo e olha para dentro de si mesmo, procurando o que está vivo
no seu nível mais profundo, principalmente se for diferente dos padrões
existentes e dos conceitos sociais.
E assim, lentamente penetra seu mundo
interior, onde encontra, não só a luz, mas também as trevas.
Pois, justamente quando se abre a porta
do mundo interior, é que o indivíduo se torna consciente de todas as suas
partes sombrias.
É então que ele é testado e terá que
confiar na realidade maior dessa alma, para perceber que mesmo as partes
aparentemente mais sombrias têm significado.
É desesperadamente necessário reconhecer
e sentir a alma, neste mundo.
Este é o caminho de volta ao Lar, de
volta a quem verdadeiramente somos.
A partir da luz que se irradia de lá, é
que podemos incutir novas ideias no mundo e imbui-lo de nova energia, coragem e
confiança.
Há tantas coisas necessárias aqui, que
podem fluir para o mundo através do canal de uma alma desperta!
Há tanta tristeza, tanta dor e
sofrimento neste mundo… e não falamos isto para nos desencorajar, mas para
ressaltar o quanto é importante e urgente que reconheçamos e sintamos a alma em
nossa vida.
Desta forma, nós nos tornamos a luz, não
apenas para nós mesmos, mas também para os outros.
Como nos conectamos com a nossa alma?
Este mundo está tão alienado da alma,
que esta pergunta é raramente feita.
É uma pergunta que nunca é apresentada
às crianças enquanto estão crescendo e frequentando a escola.
Como nos conectamos com o nosso mundo
interior?
E não somente com as nossas emoções e
humores transitórios, mas com o que está por trás do nosso mundo interior.
Existe um mundo mais permanente, o mundo
da nossa alma, da energia do nosso “Eu” único, da energia da nossa alma?
Este provavelmente nem sequer é
reconhecido, portanto não somos ensinados a perguntar por ele ou nos conectarmos
com esse mundo.
E o resultado é esta pobreza espiritual
que existe aqui!
Para explicar o que é a realidade da
alma, imaginamos que estamos na última hora da nossa vida, que a morte está se
aproximando e vamos atravessar o limiar da vida pós-morte.
Nós já fizemos isto diversas vezes,
porque já vivemos muitas vidas na Terra e, em todas elas, atravessamos esse
limiar no final, algumas vezes com mais paz em nosso coração do que em outras.
Mas mesmo quando tivemos uma transição
difícil, com uma sensação de luta em nosso coração, nós também vivenciamos uma
libertação intensa, no momento em que, como alma, desprendemos-nos da forma
física.
Quanto mais em paz morremos, mais feliz
é a transição, mas, em qualquer caso, no desprendimento do corpo terreno há uma
profunda sensação de alívio, de voltar a um modo natural de ser, que nos é tão
familiar que não entendemos como podemos ter-nos esquecido.
Abandonemos todas as ideias negativas
sobre a morte e imaginemos que estamos no fim da nossa vida.
Desistimos da luta e, no momento em que
soltamos o nosso último suspiro, nós – a nossa alma – deixa o corpo terreno,
muito delicada e suavemente.
Com facilidade, ascendemos para fora do nosso
corpo e, no mesmo instante, sentimos a leveza; não apenas a luz ao nosso redor,
mas a leveza do nosso corpo, a flexibilidade, agilidade e ausência de peso e de
esforço.
Nós somos como um pássaro que,
imediatamente, sai voando para onde o seu coração o leva.
Deixemos a nossa imaginação voar.
Imaginemos o que acontece quando estamos
livre do nosso corpo terreno, e dirijamos-nos para onde o nosso coração nos
atrair, em termos de um novo ambiente.
Talvez vejamos um jardim, ou o mar, ou
uma floresta, que aparece para nós sem esforço; e em tudo o que vemos, percebemos
e sentimos a vida que vem de nosso interior.
Tudo o que vive olha para nós com
benevolência.
Um convite amável emana de tudo o que vemos.
E há uma beleza deslumbrante e
esplêndida!
Sentimos a alegria borbulhando em nosso
coração, e então pensamos: “Ah, é assim que deveria ser! Isto é normal, isto é
natural! Aqui eu estou em casa, no meu Lar!”
Nós vamos encontrar amigos e parentes
falecidos, e também guias que nos receberão com o coração aberto, que
silenciosamente nos permitirão ser quem somos, e que nos estenderão a mão amiga
quando necessário.
Nós acabamos de entrar na dimensão da
alma.
Tudo aí é diferente.
Espaço e tempo parecem muito mais
flexíveis, porque é possível estar em um outro lugar, se assim quisermos e se o
nosso coração for atraído para lá.
O interior tem precedência sobre o
exterior.
Se nos conectamos com alguém no nível
interno, a partir do coração, e nosso chamado é respondido, de repente nós nos
encontramos juntos numa atmosfera física.
Embora não tão física quanto na Terra,
aqui na vida pós-morte, nós ainda conseguimos conversar em termos de formas.
Nós temos um corpo, a outra pessoa tem
um corpo, e nós podemos nos comunicar um com o outro, mas com muito mais facilidade
e menos esforço do que estamos acostumados na Terra.
Além de espaço e tempo serem mais
flexíveis, a forma do nosso corpo também o é.
A forma que assumimos é muito ágil e
fluida.
Nós podemos assumir uma forma física e
parecermos velho ou jovem, a nosso gosto.
A cor do nosso cabelo, dos nossos olhos…
tudo pode ser modificado; e isto nos dá alegria!
Nós escolhemos a forma que nos é mais
apropriada internamente, aquela que nos agrada mais e que facilita a nossa
comunicação com a outra pessoa.
Nesta dimensão da alma, nós percebemos
que o nosso interior dá forma à nossa aparência externa.
O que vive em nosso interior determina o
que está fora de nós, aquilo que nos rodeia.
Sintamos isto por um momento.
O que há no nosso interior que dá forma,
que atrai e cria essas experiências para nós?
Aparentemente, nós não somos a forma, nós
não somos o nosso corpo, porque podemos nos apresentar em diferentes formas.
Nós não somos o lugar onde moramos nem o
papel que desempenhamos, porque isto é muito flexível e dinâmico.
O que permanece constante é aquilo que
chamamos de coração.
Sintamos o nosso coração por um momento.
Sintamos como o nosso coração, nessa
atmosfera diferente que reina desse outro lado, é livre para explorar,
descobrir e encontrar, e sintamos a alegria de tudo isso.
E percebamos, então, quanto nós sabíamos,
quanto conhecimento havia em nós.
Perguntemos à nossa alma se agora ela
quer aparecer para nós numa forma alegre, livre e feliz, que é apropriada para
este momento.
Ou, talvez, sob a forma de uma anciã ou
de um ancião… ou de uma criança – tanto faz.
A alma agora escolhe a forma adequada
para a transmissão mais perfeita de uma mensagem para nós.
Deixemos a nossa alma aparecer para nós
por um momento… e se não ouvirmos nem vermos nada, então sintamos-la.
Sintamos a dimensão do eterno, da qual nós
fazemos parte; e permitamos que ela nos envolva.
Houve um tempo em que nós éramos esse
pássaro livre; em essência, nós somos essa alegria, essa liberdade criativa.
Permitamos que ela penetre o nosso
corpo, e desçamos até ao nosso abdome.
Sejamos livres, e vivamos a partir dessa
liberdade interior!
Qual é o propósito da alma na Terra?
Por que ela está aqui?
A alma quer aprender a despertar nesta
dimensão.
Esta é uma dimensão na qual podemos
facilmente esquecermos-nos de nós mesmos de maneira tão profunda, que nos tornemos
totalmente alienados da nossa essência.
Nossa alma queria estar aqui; ela é um
mensageiro de Deus, uma partícula dessa energia todo-poderosa que chamamos de
Deus.
Nossa alma é uma partícula singular
dessa fonte criativa infinita.
Ela está trabalhando para se desenvolver
ao longo do tempo, mas não deste tipo de tempo que conhecemos na Terra.
O mundo da alma é muito mais vasto e
imensurável do que se pode medir com os padrões terrenos.
Como se disse, tempo e espaço são muito
fluidos e móveis, no nível da alma, e são formados mais a partir do interior do
que do exterior.
Pode-se dizer que a nossa alma está
emergindo neste processo através do desenvolvimento em todos os tipos de vida,
e uma dessas vidas é moldada por nós.
Nós somos uma fusão única da nossa alma
com esta personalidade terrena, portanto ninguém é exactamente igual a nós.
Nós também somos especiais para a nossa
alma.
Esta vida é uma circunstância única, na
qual a nossa alma deseja descobrir e entender profundamente o que significa
viver aqui num corpo, e também doar de si mesma.
Sintamos o quanto a nossa alma é
corajosa e grandiosa, embora, em essência, nós é que nos encarreguemos disto; somos
nós que assumimos o risco deste passo.
Respeitemos a nós mesmos.
Nós somos um grande ser, uma parte
inalienável do próprio Deus, embora constantemente nos façamos tão pequenos e
soframos com o preconceito social e os conceitos de bem e mal.
Quando nos conectamos com a nossa alma, estamos
a nos unir à nossa luz e também ao nosso fogo.
Luz é fogo também, e fogo representa
paixão, entusiasmo, inspiração.
Nós somos uma alma forte, e para podermos
empreender uma aventura de encarnação na Terra, precisamos de muita coragem.
Nós assumimos o risco, porque podemos
chegar a profundezas inconcebíveis.
E, de facto, já chegamos nessas
profundezas, porque esta não é a primeira vez que estamos aqui.
Nós já passamos por abismos
inimagináveis em nossas vidas na Terra e, no entanto, estamos aqui novamente.
Portanto, há em nós uma convicção, uma
paixão, um fogo que nos tornam decididos a estar aqui e deixar a nossa luz
brilhar.
Para nos conectarmos com esse fogo, é
preciso que enfrentemos também as emoções sombrias, nosso lado sombrio, seja
qual for o nome que lhe dêmos.
Tudo o que vive nessas emoções tem uma
mensagem para nós: a raiva, o medo, o ódio, a resistência… tudo que tem sido
rotulado de negativo traz uma força vital dentro de nós.
Conectemos-nos com esse reservatório de
emoções; invoquemos-lo; dêmos-lhe permissão para vir à tona escuro e
fraco.
Há em nós uma força primitiva.
Sintamos-la desde o mais profundo do nosso
ser.
Deixemos que ela venha da Terra através
do nosso chacra raiz, e permitamos-nos senti-la.
Enraizemos-nos na Terra, confiemos na nossa
força e assumamos o nosso poder neste planeta – e não vacilemos, pois nós somos
demasiadamente imensos, belos e ricos em tesouros internos, para ainda fazermos
isso.
Somos precisos na Terra como um farol de
luz, e o primeiro passo para isto é que nos lembremos – que reconheçamos – quem
somos, e que reavivemos a dimensão da nossa alma no nosso dia-a-dia, dentro de nós.
Nós somos um dos que carrega a tocha de
luz neste mundo e somos contrários às visões de mundo restritivas.
E não agimos assim por meio de palavras
ásperas nem pela força, mas através de uma conexão interior com quem realmente somos;
colocando a dimensão da alma em primeiro lugar, como fazíamos naturalmente
quando estávamos naquele outro mundo, antes de virmos para cá.
Reconhecendo novamente aquela realidade
e permitindo que ela se irradie neste mundo em plena convicção, literalmente
trazemos luz para cá.
Somos agradecidos por nossa presença
hoje neste mundo.
Não duvide de quem somos.
Sejamos a luz brilhante e bela que somos!
Gratidão,
Luís Barros