12 de julho de 2020

AS DUAS FACES DE DEUS

Nós estamos abertos para o amor e a abundância que existem aqui, em parte como resultado da nossa própria criação.
Quando pessoas se encontram e compartilham seus sentimentos mais profundos, suas dores e anseios, criam uma sensação de serem aceites e estarem unidas, combinada com uma simplicidade e franqueza, que fazem brotar o melhor em cada um.
Celebremos isto, juntos!
Cada um que volte ao Lar, ao seu coração, à sua própria essência, e perceba o quanto se sente relaxado e feliz em seu âmago…
As coisas são muito mais simples do que nós pensamos.
O desenvolvimento espiritual geralmente é visto como algo complicado, difícil, onde se cresce lentamente, passo a passo, como quem estivesse se esforçando para conseguir um diploma universitário para o qual é preciso dar o melhor de si, trabalhar duro e adquirir conhecimentos e habilidades.
Mas a verdade é muito simples: no nosso coração, nós já sabemos tudo, nós já estamos lá; o lugar aonde desejamos ir já está vivo e vibrante dentro de nós mesmos.
Sintamos a luz viva em nosso corpo.
Ela está aí sem nenhum julgamento sobre bem ou mal, sobre quem podemos ou não podemos ser.
Está silenciosamente presente aí, esperando em todas as células do nosso corpo até que a vejamos e nos conectemos com ela.
Trabalhar com um animal interior, um animal simbólico que combine connosco, funciona muito bem para ajudar-nos a recuperar a nossa essência, porque o animal em si é livre, instintivo e intuitivo.
É nisto que reside a verdade – não na cabeça e nos diversos conceitos que nos são oferecidos pelas tradições da nossa cultura, mas sim no nosso coração.
Sintamos a luz viva que dança dentro de nós e ao nosso redor; libertemos as nossas preocupações e aproveitemos este momento!
Existe algo muito mais vasto que nos sustenta; nós não precisamos conhecer e entender tudo com nosso eu humano.
Sintamos o grande fluxo de luz viva que percorre toda a natureza e nós também, porque fazemos parte da natureza.
Hoje estamos falando sobre o poder masculino e o feminino.
A intenção destas duas energias é realizarem juntas a dança da felicidade, da alegria, do prazer e, inclusive, do êxtase.
Mas o que aconteceu, ao longo da nossa história, foi que elas se tornaram alienadas, de modo que homens e mulheres têm dificuldade para construir uma ponte entre si.
Algumas vezes, inclusive, cada um vive em sua própria ilha, e isto fere a ambos.
A vida foi feita para ser celebrada em entrega e espontaneidade.
Imaginemos, por um instante, que vamos para o início da criação.
Na verdade, nunca houve um começo, mas para facilitar o entendimento, falaremos de um início.
Imaginemos que a essência de Deus, da Criação, seja um fogo pleno de potencial, mas que ainda não exista nenhuma distinção, nenhuma diferenciação, apenas o Um.
Sintamos o poder intensamente concentrado desse centro ígneo.
Sintamos um silêncio amplo e profundo que é todo-abrangente, mas que, ao mesmo tempo, tem uma urgência, uma necessidade forte e premente de se abrir, de desabrochar, como uma flor na Primavera.
Há um desejo de criar, no coração de Deus; um anseio para experimentar a variedade, a diversidade, a riqueza das possibilidades da criação.
Assim, dessa força nuclear, desse fogo da criação viva, brota uma diferenciação que dá origem aos fluxos de energia masculina e feminina, ambas nascidas do Um; as duas faces de Deus.
Imaginemos, simbolicamente, como o primeiro homem e a primeira mulher despertam dessa Fonte de unidade.
Cada um toma forma em um corpo diferente.
Ainda sem familiaridade com a forma, o Um se move tanto no homem quanto na mulher.
Imaginemos a surpresa e a admiração quando um vê o outro, quando a mulher e o homem olham um para o outro pela primeira vez!
Por um lado, há o reconhecimento da semelhança, já que ambos se originaram dos mesmos anseios da Fonte: a vida que desejava se abrir, celebrar, experimentar… Mas há também diferenciação, o facto de eles serem diferentes um do outro; e também existe a atracção entre os dois pólos.
Há uma admiração e um desejo de conhecer um ao outro.
Quando tudo é um, quando tudo está em um estado de unidade, há pouca chance de exploração, descoberta, investigação e aprendizagem.
Tudo isto só surge com a dualidade.
A intenção original da dualidade é a alegria, a abundância, a descoberta um do outro e a diversão.
A intenção e profundidade de um relacionamento entre homem e mulher é experimentar, um no outro, uma espécie de segredo e mistério, e estar sempre procurando por isto, de maneira feliz e alegre.
Relembremos essa sensação mais uma vez!
Como alma, nós vimos directamente do Um, somos um emissário directo, uma centelha de Deus, do fogo original, e estamos plenos de profunda sabedoria e da antiga lembrança do Lar, que pensamos que perdemos, mas conservamos ainda.
A partir desta fonte profunda do Um que somos, nós escolhemos um corpo masculino ou um feminino, e optamos pela experiência de ser um homem ou uma mulher nesta vida.
Portanto nós não somos o masculino nem o feminino, mas escolhemos as experiências de estarmos vestidos com um corpo masculino ou um feminino.
Agora olhe para o nosso próprio corpo, para o nosso próprio sexo, masculino ou feminino.
Observemos-lo com admiração neutra, como algo que somos, mas que também não somos.
Nós somos mais do que isso, nós somos ilimitados em nosso ser.
Quando olhamos para a nossa própria feminilidade ou masculinidade desta forma, nós nos distanciamos disso e, por uns instantes, retornamos ao nosso lar básico, à energia da nossa alma que escolhemos ser uma mulher ou um homem.
Nós – almas velhas, que já viajamos tanto pelo universo – visualizemos a nossa própria energia feminina como uma menina e tomemos-la pela mão.
Olhemos, então, para a nossa energia masculina, e vejamos-la como um menino, um filho que nos pertence, e estendamos a nossa mão para ele também.
Nós amamos essas duas crianças e seguramos as mãos de ambas. 
Dêmos-nos um tempo para permitir que esta imagem penetre em nós.
Honremos estes dois aspectos de nós mesmos.
Sintamos a nossa própria eternidade como alma e, ao mesmo tempo, respeitemos estas formas, de homem ou mulher, de menino e menina.
Percebamos com qual dos dois nós temos mais facilidade de acesso, com qual deles nos conectamos sem dificuldade.
Observemos quem está bem.
As crianças estão felizes e satisfeitas, ou uma delas está se sentindo só e esquecida?
Seguremos firme as mãos das duas crianças.
Sintamos que somos o mestre, um mestre poderoso, mas amável, que pode acolher os dois elementos dentro de si.
Tratemos as crianças com reverência e respeito, e finalmente vejamos como elas se relacionam.
Peçamos-lhes para segurarem as mãos uma da outra.
Observemos se elas conseguem perceber uma à outra, se gostam de estar juntas, ou se existe uma certa distância ou desconfiança entre elas.
Este não é um exercício mental; a intenção é ajudar-nos a nos conectarmos com partes de nós mesmo que nos pertencem, que nos conduzem à nossa essência.
No passado, na nossa sociedade, a energia masculina tornou-se restrita, mesquinha e unilateral; uma energia determinante, estruturadora, hostil em relação à energia fluida feminina.
Houve uma falsa separação entre ambas.
A energia masculina tornou-se alienada do seu centro original, dissociada da alma, do Um.
Foi como se a energia masculina tivesse definhado, como se não fosse mais alimentada por uma fonte viva de luz.
Todos nós, tanto homens quanto mulheres, tivemos que lidar com essa herança.
Neste dia, em que estamos falando da transformação da energia masculina, pedimos a cada um de nós que observe o que esse passado fez com esse menino em nós, nosso menino interior.
Geralmente, toda a atenção é voltada para a energia feminina e como ela foi vitimada, como sofreu nas mãos de uma energia masculina dominadora.
Mas agora, observemos o que aconteceu com o nosso menino interior, a energia masculina original, em sua forma pura, inocente…
O que aconteceu em muitas pessoas – tanto homens quanto mulheres – foi que elas rejeitaram internamente a energia masculina em si mesmas, porque esta ficou associada ao abuso ilegítimo do poder, à manipulação e violência.
O que ocorre internamente, em especial o que ocorre no caminho espiritual, quando os nossos sentimentos se abrem e se interiorizam, é que a nossa energia feminina aumenta e nós ficamos mais sensíveis para perceber outras energias, inclusive para captar as emoções e humores de outras pessoas.
E esta sensibilidade não tem limites.
Isto faz com que oscilemos, porque nos conectamos muito facilmente com a energia dos outros.
Nosso coração se abre, nossa energia feminina se desenvolve, mas a energia masculina ainda é imprecisa e empurrada para um canto esquecido.
Ela é impedida de se manifestar devido às conotações negativas a ela associadas.
Isto acontece também com homens sensíveis, que têm medo de mostrar sua força, sua visão, seu fogo, pois temem ser agressivos e voltar a cair na velha energia masculina.
Observemos isto em nós mesmos, por um instante; percebamos como é isto em nosso interior.
O menino pode realmente mostrar sua força, seu espírito aventureiro, sua visão para nós?…
A energia masculina original tem algo de muito criativo, pode gerar mudanças, quer criar e construir coisas, deseja fazer uma diferença.
A energia masculina no nosso interior é a que nos permite atrever-se a se destacar em um grupo, ou libertar-se de uma ligação; ela nos dá a coragem de dizer “Eu” e fazer tudo o que podemos fazer através da nossa conexão com a nossa alma, com nosso coração.
É isto que muitos precisam aprender a vivenciar de novo: que é possível ser grande e poderoso e, ao mesmo tempo, estar conectado com a alma.
Peçamos à nossa energia masculina para retornar a nós através do animal que visualizamos agora, ou através do nosso menino interior, o menino que veio viver connosco.
Peçamos muito clara e explicitamente para recebermos esta energia em nós.
Esta energia masculina, que é equilibrada e pura, faz parte da nossa essência; ela nos dá o poder de realmente firmarmos-nos como a pessoa inigualável que somos.
Ninguém mais é igual a nós.
Façamos a diferença!
Foi para isto que nós viemos à Terra. 
Sintamos o nosso poder masculino a partir de dentro, e percebamos como esse nosso poder é amistoso com a nossa força feminina.
Nosso poder masculino respeita o feminino; quer estar connosco, servir-nos, cooperar com ele.
Assumamos a nossa força masculina!
Sintamos-la fluir pela nossa coluna vertebral.
Endireitemos a nossa coluna e sintamos essa força fluindo de cima para baixo.
Sintamos o poder da energia masculina em nossos braços e pernas, nas nossas mãos e pés.
Sintamos também como esse poder nos dá espaço ao criarmos limites em torno da nossa sensibilidade.
Uma nova era está chegando à Terra.
O início dessa era já está acontecendo e é notável.
Este novo tempo precisa de nós, de pessoas com um coração pulsante, conectadas ao Um e, a partir daí, capazes de usar tanto os elementos masculinos quanto os femininos que trazemos dentro de nós – o poder da conexão, da compreensão, da ternura, aliados ao poder de nos defendermos sozinhos, de ocupar um espaço, de discernir, de ousar dizer “não” quando preciso.
É extremamente necessário que haja uma conexão entre esse poder masculino e a energia feminina.
Sintamos-nos livres!
Deixemos a nossa luz brilhar!
Isto é o que se pretende na nossa vida.
Deixemos que a vida seja uma dança.
Permitamos novamente que a dualidade seja uma fonte de alegria, curiosidade, descoberta e aventura.
Nós podemos conseguir isto em nossa própria vida sentindo o poder primordial em nós mesmos.

Gratidão,
Luís Barros