28 de julho de 2020

A ÂNCORA

Nós temos que ter a coragem, dia após dia, de partir em busca da nossa própria essência, o nosso “Eu” e o que “Eu Sou”.
Estaremos procurando a âncora dentro de nós.
No fundo do nosso ser, sabemos que não podemos viver verdadeiramente na Terra, a menos que tenhamos descoberto esse centro de “Eu mesmo”, e a paz que lá existe, para que encontremos tranquilamente o nosso caminho na vida.
Encontrar e experimentar essa âncora em “Eu mesmo” é, talvez, o passo mais importante que devemos dar na vida, como alma na Terra.
Se conseguirmos encontrar nosso “Eu” aqui, em meio às energias agitadas e confusas da Terra, e vivenciar o silêncio em nosso coração, ouvir nossa alma falar, então viveremos aqui a partir da nossa força interior.
Assim, a luz da nossa alma viverá no nosso corpo terreno e seremos literalmente animados por ela.
Ao invés de vivermos de fora para dentro, sempre reagindo aos estímulos externos, começaremos a viver de dentro para fora, a partir da nossa verdade, que é encontrada repetidas vezes no silêncio.
Como havemos de nos conectar com essa verdade em nosso interior?
Acabamos de mencionar os estímulos externos, que nos afastam da nossa verdade, da nossa âncora, do nosso ponto de descanso interior.
Esses estímulos não vêm apenas do mundo e das pessoas ao nosso redor, mas vêm também de partes nossas que interiorizam esses estímulos, os quais passaram a se localizar dentro de nós mesmos: na nossa cabeça, em nossos pensamentos, em nossos padrões de comportamento.
Nós temos ideias compulsivas a respeito de nós mesmos.
Acreditamos, por exemplo, que deveríamos nos comportar de uma certa maneira de modo a sermos uma “boa pessoa”.
Nós temos imagens ideais e achamos que devemos viver à altura delas, mas isto acaba criando muita pressão sobre nós.
A maioria das pessoas faz isto continuamente, como resultado de anseios que não vêm da própria alma, nem do mundo externo.
Estes anseios se estabelecem como mensagens subliminares em nosso campo energético.
Eles são os mais difíceis de serem libertados, no caminho para a tranquilidade e paz interiores.
Esses estímulos internos, essas exigências e imagens ideais que assumimos e realmente acreditamos que se aplicam a nós… são eles que nos mantêm afastados de nós mesmos e da voz da nossa alma.
Criemos um espaço em nosso campo energético, que é composto por esses padrões de pensamentos, hábitos, comportamentos e padrões reactivos automáticos.
Mas não façamos isto a partir da nossa mente e pensamentos, e sim começando por nos conectarmos com o solo sob os nossos pés e o batimento cardíaco da Mãe Terra.
Tomemos consciência dos nossos pés e do campo de força que vive dentro e ao redor deles.
Percebamos que independentemente do que nós pensamos ou façamos, e de nossas eventuais preocupações, nós estamos sendo sustentados pela energia da Mãe Terra, o tempo todo.
Percebamos como isto acontece por si só e permitamos-nos ser sustentados por ela.
Sintamos como o fluxo da Terra se conecta connosco, penetrando lentamente pelos nossos pés, fluindo por nossas pernas, joelhos, coxas, quadris e pélvis.
Sintamos o poder tranquilo e estável dessa energia.
Esta energia da Terra é silenciosa e, ao mesmo tempo, muito específica, pois flui exactamente para aquelas nossas partes  que podem utilizar estabilidade e segurança extras.
Nós conseguimos nos permitir ser abraçados pela Terra, por sua força e sabedoria?
Sintamos como esse poder acalma os pensamentos agitados da nossa mente, o desejo de conduzir e controlar a vida.
Quando estamos conectados com o fluxo da Terra, nós abandonamos esse desejo e começamos a pensar com o nosso coração e não mais com a nossa cabeça.
Experimentemos!
Sintamos-nos carregados por uma corrente terrena silenciosa e estável, que envolve as nossas pernas, os nossos quadris e toda a região do nosso abdome.
Sintamos como conseguimos desapegarmos-nos de tudo o mais, e que estamos sendo sustentados por essa corrente.
Observemos o que acontece com a energia na nossa cabeça e como esta fica muito mais tranquila.
Imaginemos que todos esses pensamentos, ponderações e ideias que nós ficamos remoendo jorram para fora de nós, como a água de um dique.
A nossa cabeça torna-se menos activa e mais quieta e tranquila.
Nós podemos perceber, no centro da nossa cabeça, um ponto que observamos sem pensar.
É simplesmente uma presença, uma consciência, que não raciocina, mas observamos.
Sintamos o quanto é agradável simplesmente estar aí, não tendo que fazer nada: nós estamos simplesmente presentes e alertas.
Agora, movamos a nossa atenção desse ponto silencioso, no centro da nossa cabeça, para a área do nosso coração, do sentimento.
Com o “olho” da nossa cabeça, procuremos cuidadosamente a área do nosso coração, as energias subtis, refinadas, que lá residem.
Não tenhamos nenhuma expectativa nem julgamentos sobre o que nós vemos.
Talvez nós tenhamos uma sensação de calor no coração… ou talvez o sintamos como algo trancado.
Talvez o nosso coração esteja com medo de se abrir, e isto é muito compreensível, porque nós carregamos inúmeros medos e convicções em nosso interior, que fazem com que seja difícil o nosso coração manter-se aberto.
Agora, enquanto nos sentimos amparados pela Mãe Terra, e um lugar tranquilo é criado em nossa cabeça, vamos olhar para esses velhos medos ou pensamentos negativos que nos impedem de abrir o nosso coração novamente.
O mais importante é observar a partir de dentro de nós mesmos, e não de influências externas, ou de formas pensamentos, ou de julgamentos do tipo “deveria ser”, mas com um olhar aberto e puro.
Sintamos esse espaço no nosso coração por um momento… um espaço que está cheio de beleza eterna, que pertence a nós, à nossa alma.
Vejamos aí a luz que nós somos e desenvolvemos ao longo de muitas vidas que já tivemos na Terra e em outros lugares.
Não precisamos saber exactamente onde nem como, mas compreendamos que nós somos um ser desenvolvido através de inúmeras experiências e vidas, nas quais descobrimos e exploramos vários aspectos de nós mesmos e os trouxemos à consciência.
Sintamos, por um instante, a riqueza em nosso coração; percebamos o requinte e as nuances com que nós podemos pensar e sentir.
Talvez nós vejamos cores e imagens da natureza, tais como flores, etc…embora não importe o que nós vejamos.
Apenas saibamos que a riqueza está aí, mesmo que existam partes nossas que ainda são mantidas a sete chaves, porque nós temos medo de deixar essa riqueza ser vista por nós mesmos e pelo mundo.
Embora às vezes nos possa parecer mais seguro trancar essas nossas partes, percebamos por um momento o que isto nos faz.  
Sintamos a luz, a alegria, o entusiasmo, que naturalmente desejamos fluir, desejam ser vistos e se conectar com o mundo.
Sintamos a inspiração que vive no fundo do nosso ser.
Agora, vamos abrir uma porta, através da qual algo será libertado em nós, pois chegou o momento para que assim seja.
Isso agora poderá fluir e manifestar-se de um modo bom e belo em nossa vida.
Visualizemos, por um momento, na área do nosso coração, uma porta antiga, enferrujada, que abre com dificuldade.
Sintamos a energia dessa porta, que nós mesmos colocamos aí para podermos sobreviver emocionalmente, ou até fisicamente.
Existem todos os tipos de motivos em nosso passado, em nossa infância, ou até mesmo em outras vidas, para nós termos colocado essa porta aí e termo-nos sentido seguros ao fazê-lo.
Mas agora, ela fere mais do que ajuda – está na hora de abrir essa porta.
Imaginemos que agora nós nos voltamos para essa porta.
Sintamos a quietude em nossa cabeça e saibamos que nós vamos simplesmente observar o que foi mantido oculto por tanto tempo.
Nós abrimos a porta lentamente, enquanto ainda sentimos, em nossos pés, o poder e a firmeza que a Terra nos dá, e então sabemos que estamos sendo amparados.
Está na hora de nos abrirmos para uma parte mais ampla da nossa alma, para quem nós somos.
O que estamos querendo sair por essa porta?
Talvez a primeira coisa que nós vejamos seja uma certa desordem, velhas energias rolando para fora de lá, desejando ser vistas… medos, dúvidas… algo meio sombrio, talvez?
Olhemos para elas com uma tranquilidade equilibrada e acolhamos-las.
Por trás desses medos, ou da confusão, oculta-se algo infinitamente belo que deseja muito ser incluído novamente em nosso coração aberto.
Perguntemos-lhe se quer se apresentar, pois ele tem uma mensagem para nós. 
É uma parte do nosso Eu-Superior, nosso Eu Angélico, que deseja sair e ser recebido em nossa vida.
Dirijamos a nossa luz, amor e compreensão para a porta e a abertura, de modo a criar uma ponte por onde o que está escondido possa sair.
E então atrevamos-nos a fitá-lo.
Atrevamos-nos a ver o quanto somos grandiosos e belos!
Muitas vezes nós temos medo da nossa própria força, sabedoria e beleza.
Nós nos tornamos pequenos em nossa mente e realmente não queremos ver o que está lá; mas deixemos-lo aparecer, e não sejamos modestos demais nem duvidemos do nosso potencial, porque esta é a energia pela qual nós estivemos esperando em nossa vida.
Pode ser mais fácil se nós imaginarmos essa energia na forma de uma pessoa… então vejamos se surge uma figura masculina ou feminina.
Isto pode-nos indicar que tipo de energia deseja fluir em nós agora, e pode ajudar-nos a abrir o nosso coração.
Olhemos para ele ou ela, e ouçamos o que essa figura deseja nos contar.
Deixemos que ela fale e, então, ancoremos a energia dessa pessoa em nosso coração, pois ela é uma parte de nós.
Imaginemos que nós a aceitamos e admitimos completamente dentro do espaço do nosso coração.
Permitamos que ocorra uma renovação na nossa vida.
Nós não podemos prever exactamente o que vai acontecer, mas confiemos e nos entreguemos a este processo.
Uma vez que nos conectemos com o nosso coração e as portas que estavam fechadas se abram, nós faremos a conexão com a nossa alma e sentiremos a nossa orientação interior.
E então encontraremos essa âncora, esse centro dentro de nós que nos é necessário para que possamos sentir onde nós estamos agora e perceber para onde estamos indo.
Agora conectemos cabeça, coração e abdome, uns com os outros.
Sintamos novamente o poder sustentador da Terra e conectemos-nos com ela.
Nós seremos cercados por energias amparadoras na nossa vida, e a Terra é uma delas.
Confiemos nela!
Ela quer criar um caminho para nós; ela quer receber-nos.
Nós somos bem-vindos aqui, e não estamos sozinhos!
Por favor, conectemos-nos novamente com o centro silencioso e tranquilo na nossa cabeça, onde nós não pensamos, mas simplesmente percebemos, estando alerta e presente.
E, finalmente, conectemos-nos mais uma vez com o nosso coração, esse órgão tão sensível, no centro do nosso ser, que é o canal para a nossa alma e carregamos a dor do passado.
Tenhamos compaixão pelo nosso coração, por tudo que ele sofreu, mas também valorizemos o imenso potencial que existe dentro dele; a riqueza acumulada em tantas vidas, a profundidade da nossa vida emocional, da nossa alma.
Apreciemos o nosso próprio coração.
E então, sintamos como estes três centros trabalham juntos e se alinham – cabeça, coração e abdome – e simplesmente deixe que isto aconteça; não precisamos pensar sobre isto.
Sintamos como o fluxo de cima para baixo leva-nos de volta ao nosso centro.
Mas, se percebermos que ainda existe alguma resistência ou discordância, tudo bem, pois é por isto que nós estamos fazendo este exercício.
Este olhar para dentro de nós, ajuda-nos a nos consciencializar de partes nossas que estão fechadas e a abrir portas.
Deixemos que tudo seja como é, naturalmente.

Gratidão,
Luís Barros