28 de junho de 2020

VIVENDO A ENERGIA DE BUDA

Nós estamos muito preocupados connosco mesmos o tempo todo.
Vivemos nos perguntando se estamos fazendo a coisa certa, se temos o conhecimento certo; entretanto tudo o que precisamos para encontrar o nosso caminho na vida está dentro de nós mesmos.
Nós possuímos um radar no interior do nosso próprio ser; este guia interior está dentro do nosso abdome.
Falamos sobre a importância de nos conectarmos com o nosso abdome e tornarmos-mos realmente presentes nesse nível.
É triste que muitas mulheres não se sintam confortáveis em seu próprio abdome, que, no corpo, é a sede das emoções.
O abdome é também a sede da intimidade e sexualidade, e é onde os bebés são concebidos e se desenvolvem.
Portanto, a área do abdome está profundamente interligada com a vida na Terra.
Às mulheres é dito que é importante doar e abrir o coração para as necessidades das outras pessoas.
De facto, grande parte da espiritualidade está centrada no despertar do coração.
Mas vemos várias pessoas, especialmente mulheres, sofrendo justamente por terem o coração aberto demais, e não fechado.
O coração delas está muito aberto e facilmente estendem as mãos para seres e energias ao seu redor, mas o abdome está relativamente fechado.
No abdome reside um grande poder; é o poder de dar à luz, o poder de se conectar verdadeira e profundamente com a Mãe Terra e os grandes ritmos da vida.
As pessoas em geral – e nós como cultura – tornamos-nos temerosos destas grandes forças da vida, porque elas ultrapassam o controlo da mente e da vontade.
As mulheres instintivamente sabem como lidar com estas forças, mas se alienaram da capacidade de sintonizar-se com o seu próprio poder.
Pedimos, então, a cada um de nós – a cada homem e a cada mulher – que se conecte mais profundamente com o centro do seu abdome.
Simplesmente consciencializemos-nos dessa área e da nossa respiração descendo até lá a cada inspiração.
Nosso abdome é uma âncora, energeticamente falando.
Ele nos dá as raízes que nos enraízam em nós mesmos.
Desçamos mentalmente ao nosso abdome e poderemos sentir as nossas pernas tornarem-se mais aterradas e pesadas.
Agora imaginemos que dentro do nosso abdome há um grande “olho”.
Este “olho” observa tudo com muita calma e clareza.
Em comparação com as energias do nosso coração e da nossa mente, a energia desse “olho” no centro do nosso abdome é muito calma e silenciosa, muito sólida e estável.
Pensemos nos ritmos da natureza e como eles ocorrem com facilidade e regularidade.
As Estações vêm e vão e todas fluem naturalmente por si mesmas.
Nós fazemos parte deste ritmo da natureza, então conectemos-nos com a consciência feminina em nosso abdome.
Agora, voltemos esse “olho” do nosso abdome para cima e olhemos para a área do nosso coração.
Como o nosso coração se sente?
Conseguimos realmente amar a nós mesmos, dar atenção a nós mesmos e cuidar de nós mesmos?
Dentro do nosso abdome, sabemos que precisa haver um equilíbrio entre dar e receber porque esta é a lei da natureza.
O nosso abdome sabe que de nada adianta doar demais, e que isto não respeita o equilíbrio natural de energia.
Imaginemos que estamos numa situação do nosso quotidiano, na qual sentimos a nossa energia sendo drenada ou esgotando-se.
Imaginemos-nos nessa situação e, então, olhemos para ela com o olho do nosso abdome, enquanto nos mantemos presentes em nosso abdome.
A partir daí podemos observar essa situação de um modo muito impessoal e calmo.
De certa forma, isto é realmente engraçado, porque geralmente se considera que a parte inferior do corpo, os centros inferiores de energia, estão conectados com o ego.
Na verdade, o nosso abdome tem uma sabedoria que vai além do ego.
Ele pode-nos ensinar a estarmos realmente disponíveis para nós mesmos e proteger-nos quando necessário.
Sintamos como o nosso abdome deseja cuidar de nós.
As mulheres não são muito boas para cuidar de si próprias.
E os homens que possuem um lado feminino forte, um lado sensível, podem ter este mesmo problema.
Para nos esclarecer e nos ajudar com esta questão de sensibilidade e de perda de energia para forças externas, invocamos uma imagem que é familiar para a nossa cultura – a imagem e energia de Buda.
A energia de Buda é muito serena e calma, muito ancorada e conectada com a Terra também.
A sabedoria de Buda pode ser facilmente acedida a partir do abdome.
Simplesmente imaginemos como seria se fossemos como Buda, se tivéssemos aquele tipo de presença, aquele tipo de serenidade, de tranquilidade.
Conseguimos sentir a paz brotando do interior do nosso abdome?
Buda tinha um coração aberto; seu coração estava cheio de compaixão pelos outros seres vivos.
Mas, embora se preocupasse com o sofrimento deles e desejasse ajudá-los a amenizá-lo, ele se mantinha centrado em seu próprio ser.
Permitamos que este poder, esta energia, flua através de nós; ela faz parte da nossa cultura.
Se conectarmos o nosso coração com o nosso abdome, toda a questão da sensibilidade será diferente para nós.
Muitas vezes, ao estendermos as mãos para outras pessoas a fim de ajudá-las, absorvemos a energia delas e pensamos que podemos oferecer-lhes a solução para os seus problemas.
Nunca nos ocorreu que é muita presunção assumir que nós temos a solução?
Pode ser que não saibamos qual é a solução correcta para elas.
Talvez estejamos apenas ansiosos para restabelecermos a harmonia, para ver um sorriso em suas faces, ou para recebermos a aprovação delas.
Abandonemos essa ansiedade, esse desejo.
Não resolvamos o problema dos outros.
Quando nos conectarmos com o “olho” no nosso abdome, veremos coisas e sentiremos compaixão, mas não nos sentiremos tão inclinados a resolver os problemas dos outros.
A chave para a verdadeira compaixão por outras pessoas é sentir empatia por elas e, ao mesmo tempo, manter a confiança no facto de que elas possuem a solução para os seus próprios problemas.
Ao nos convencermos da força que elas possuem, nós teremos paz de espírito.
Perceberemos, a partir do nível do abdome, que os processos de crescimento levam tempo, e que nós mesmos nos encontramos num processo de crescimento.
Muitas vezes, a nossa necessidade de ajudar, de doar, de sermos úteis para os outros está relacionada com a nossa própria insegurança… um medo de não sermos suficientemente bons e, por isto, termos que fazer alguma coisa ou sermos alguém para outra pessoa.
Na verdade, nós somos mais úteis para os outros quando nos conectamos com essa natureza Búdica dentro de nós mesmos.
A serenidade, a tranquilidade que irradiamos, então, os confortará.
E isto tem um significado para nós também; significa que somos suficientemente bons, mesmo quando não estamos fazendo nada, nem ajudando alguém, e mesmo quando não significamos nada de especial para qualquer outra pessoa.
Nós somos bons do jeito que somos, porque somos uma parte da natureza.
Assim como uma árvore, ou uma flor, ou uma montanha, nós temos o direito de ser, simplesmente porque fazemos parte do todo.
Nós não precisamos provar que somos nós mesmos.
Um animal ou uma flor não sentem necessidade de se defenderem para poderem ser.
Eles estão simplesmente lá; nós estamos simplesmente aí.
Nós somos uma extensão do espírito, da unidade, e isto basta!
Curiosamente, embora isto devesse ser tranquilizador para nós, é um tanto chocante para o nosso ego.
Nossa parte ego quer ser alguém, quer ser útil, quer fazer uma diferença.
Mas é isto que a nossa alma realmente deseja de nós? Não.
Porque a nossa alma está em paz consigo mesma.
Sim, ela procura expressar-se no mundo exterior, deseja compartilhar a si mesma como uma flor compartilha sua beleza, mas ela não precisa provar nada nem justificar sua própria existência.
Compreendamos apenas que não há tanta coisa a conquistar na nossa vida como pensamos.
Nós realmente podemos relaxar um pouco mais.
Nós somos uma parte do todo, e nada pode mudar isto.
Descansemos neste sentimento natural que permeia toda a natureza.
No nosso dia-a-dia, sempre que nos preocuparmos com questões a resolver, problemas a solucionar, formas de lidar com outras pessoas, inspiremos profundamente de vez em quando, e conectemos-nos com o nosso abdome.
Nosso corpo é um portal para muita sabedoria.
Sempre que nos sentirmos esgotados ou tensos, encontremos formas de relaxar o nosso corpo, porque isto nos levará mais facilmente de volta à nossa âncora, à nossa fundação.

Gratidão,
Luís Barros