Nós estamos muito preocupados connosco
mesmos o tempo todo.
Vivemos nos perguntando se estamos
fazendo a coisa certa, se temos o conhecimento certo; entretanto tudo o que
precisamos para encontrar o nosso caminho na vida está dentro de nós mesmos.
Nós possuímos um radar no interior do nosso
próprio ser; este guia interior está dentro do nosso abdome.
Falamos sobre a importância de nos
conectarmos com o nosso abdome e tornarmos-mos realmente presentes nesse nível.
É triste que muitas mulheres não se
sintam confortáveis em seu próprio abdome, que, no corpo, é a sede das emoções.
O abdome é também a sede da intimidade e
sexualidade, e é onde os bebés são concebidos e se desenvolvem.
Portanto, a área do abdome está
profundamente interligada com a vida na Terra.
Às mulheres é dito que é importante doar
e abrir o coração para as necessidades das outras pessoas.
De facto, grande parte da espiritualidade
está centrada no despertar do coração.
Mas vemos várias pessoas, especialmente
mulheres, sofrendo justamente por terem o coração aberto demais, e não fechado.
O coração delas está muito aberto e
facilmente estendem as mãos para seres e energias ao seu redor, mas o abdome
está relativamente fechado.
No abdome reside um grande poder; é o
poder de dar à luz, o poder de se conectar verdadeira e profundamente com a Mãe
Terra e os grandes ritmos da vida.
As pessoas em geral – e nós como cultura
– tornamos-nos temerosos destas grandes forças da vida, porque elas ultrapassam
o controlo da mente e da vontade.
As mulheres instintivamente sabem como
lidar com estas forças, mas se alienaram da capacidade de sintonizar-se com o
seu próprio poder.
Pedimos, então, a cada um de nós – a
cada homem e a cada mulher – que se conecte mais profundamente com o centro do
seu abdome.
Simplesmente consciencializemos-nos dessa
área e da nossa respiração descendo até lá a cada inspiração.
Nosso abdome é uma âncora,
energeticamente falando.
Ele nos dá as raízes que nos enraízam em
nós mesmos.
Desçamos mentalmente ao nosso abdome e
poderemos sentir as nossas pernas tornarem-se mais aterradas e pesadas.
Agora imaginemos que dentro do nosso
abdome há um grande “olho”.
Este “olho” observa tudo com muita calma
e clareza.
Em comparação com as energias do nosso
coração e da nossa mente, a energia desse “olho” no centro do nosso abdome é
muito calma e silenciosa, muito sólida e estável.
Pensemos nos ritmos da natureza e como
eles ocorrem com facilidade e regularidade.
As Estações vêm e vão e todas fluem
naturalmente por si mesmas.
Nós fazemos parte deste ritmo da
natureza, então conectemos-nos com a consciência feminina em nosso abdome.
Agora, voltemos esse “olho” do nosso
abdome para cima e olhemos para a área do nosso coração.
Como o nosso coração se sente?
Conseguimos realmente amar a nós mesmos,
dar atenção a nós mesmos e cuidar de nós mesmos?
Dentro do nosso abdome, sabemos que
precisa haver um equilíbrio entre dar e receber porque esta é a lei da
natureza.
O nosso abdome sabe que de nada adianta
doar demais, e que isto não respeita o equilíbrio natural de energia.
Imaginemos que estamos numa situação do nosso
quotidiano, na qual sentimos a nossa energia sendo drenada ou esgotando-se.
Imaginemos-nos nessa situação e, então,
olhemos para ela com o olho do nosso abdome, enquanto nos mantemos presentes em
nosso abdome.
A partir daí podemos observar essa
situação de um modo muito impessoal e calmo.
De certa forma, isto é realmente
engraçado, porque geralmente se considera que a parte inferior do corpo, os
centros inferiores de energia, estão conectados com o ego.
Na verdade, o nosso abdome tem uma
sabedoria que vai além do ego.
Ele pode-nos ensinar a estarmos
realmente disponíveis para nós mesmos e proteger-nos quando necessário.
Sintamos como o nosso abdome deseja
cuidar de nós.
As mulheres não são muito boas para
cuidar de si próprias.
E os homens que possuem um lado feminino
forte, um lado sensível, podem ter este mesmo problema.
Para nos esclarecer e nos ajudar com
esta questão de sensibilidade e de perda de energia para forças externas,
invocamos uma imagem que é familiar para a nossa cultura – a imagem e energia
de Buda.
A energia de Buda é muito serena e
calma, muito ancorada e conectada com a Terra também.
A sabedoria de Buda pode ser facilmente
acedida a partir do abdome.
Simplesmente imaginemos como seria se
fossemos como Buda, se tivéssemos aquele tipo de presença, aquele tipo de
serenidade, de tranquilidade.
Conseguimos sentir a paz brotando do
interior do nosso abdome?
Buda tinha um coração aberto; seu
coração estava cheio de compaixão pelos outros seres vivos.
Mas, embora se preocupasse com o
sofrimento deles e desejasse ajudá-los a amenizá-lo, ele se mantinha centrado
em seu próprio ser.
Permitamos que este poder, esta energia,
flua através de nós; ela faz parte da nossa cultura.
Se conectarmos o nosso coração com o
nosso abdome, toda a questão da sensibilidade será diferente para nós.
Muitas vezes, ao estendermos as mãos
para outras pessoas a fim de ajudá-las, absorvemos a energia delas e pensamos
que podemos oferecer-lhes a solução para os seus problemas.
Nunca nos ocorreu que é muita presunção
assumir que nós temos a solução?
Pode ser que não saibamos qual é a solução
correcta para elas.
Talvez estejamos apenas ansiosos para
restabelecermos a harmonia, para ver um sorriso em suas faces, ou para
recebermos a aprovação delas.
Abandonemos essa ansiedade, esse desejo.
Não resolvamos o problema dos outros.
Quando nos conectarmos com o “olho” no nosso
abdome, veremos coisas e sentiremos compaixão, mas não nos sentiremos tão
inclinados a resolver os problemas dos outros.
A chave para a verdadeira compaixão por
outras pessoas é sentir empatia por elas e, ao mesmo tempo, manter a confiança
no facto de que elas possuem a solução para os seus próprios problemas.
Ao nos convencermos da força que elas
possuem, nós teremos paz de espírito.
Perceberemos, a partir do nível do
abdome, que os processos de crescimento levam tempo, e que nós mesmos nos
encontramos num processo de crescimento.
Muitas vezes, a nossa necessidade de
ajudar, de doar, de sermos úteis para os outros está relacionada com a nossa
própria insegurança… um medo de não sermos suficientemente bons e, por isto,
termos que fazer alguma coisa ou sermos alguém para outra pessoa.
Na verdade, nós somos mais úteis para os
outros quando nos conectamos com essa natureza Búdica dentro de nós mesmos.
A serenidade, a tranquilidade que
irradiamos, então, os confortará.
E isto tem um significado para nós
também; significa que somos suficientemente bons, mesmo quando não estamos
fazendo nada, nem ajudando alguém, e mesmo quando não significamos nada de
especial para qualquer outra pessoa.
Nós somos bons do jeito que somos,
porque somos uma parte da natureza.
Assim como uma árvore, ou uma flor, ou
uma montanha, nós temos o direito de ser, simplesmente porque fazemos parte do
todo.
Nós não precisamos provar que somos nós mesmos.
Um animal ou uma flor não sentem
necessidade de se defenderem para poderem ser.
Eles estão simplesmente lá; nós estamos
simplesmente aí.
Nós somos uma extensão do espírito, da
unidade, e isto basta!
Curiosamente, embora isto devesse ser
tranquilizador para nós, é um tanto chocante para o nosso ego.
Nossa parte ego quer ser alguém, quer
ser útil, quer fazer uma diferença.
Mas é isto que a nossa alma realmente
deseja de nós? Não.
Porque a nossa alma está em paz consigo
mesma.
Sim, ela procura expressar-se no mundo
exterior, deseja compartilhar a si mesma como uma flor compartilha sua beleza,
mas ela não precisa provar nada nem justificar sua própria existência.
Compreendamos apenas que não há tanta
coisa a conquistar na nossa vida como pensamos.
Nós realmente podemos relaxar um pouco
mais.
Nós somos uma parte do todo, e nada pode
mudar isto.
Descansemos neste sentimento natural que
permeia toda a natureza.
No nosso dia-a-dia, sempre que nos
preocuparmos com questões a resolver, problemas a solucionar, formas de lidar
com outras pessoas, inspiremos profundamente de vez em quando, e conectemos-nos
com o nosso abdome.
Nosso corpo é um portal para muita
sabedoria.
Sempre que nos sentirmos esgotados ou
tensos, encontremos formas de relaxar o nosso corpo, porque isto nos levará
mais facilmente de volta à nossa âncora, à nossa fundação.
Gratidão,
Luís Barros