Quem somos” nós” em relação à nossa
alma?
Fazemos esta pergunta porque geralmente
essa relação não é compreendida com clareza.
Talvez imaginemos a alma como algo fora
de nós, muito longe e acima de nós; e assim, sentimos-nos como um ser
insignificante, que deseja todo tipo de coisas, e pensa que a nossa alma é um
poder externo que pode intervir por nós em determinadas ocasiões.
Logo, sentimos também que estamos mais ou
menos à mercê da nossa alma.
Mas nós não estamos fora da nossa alma e
nossa alma não está fora de nós.
A alma – a nossa alma – está dentro de nós,
neste lugar, assim como em qualquer lugar onde quer que vamos.
Nós fazemos parte da nossa alma.
E embora a nossa alma também seja uma
parte de nós, “nós” não é a nossa alma inteira; “nós” não é equivalente à nossa
alma.
Existe uma parte da nossa alma que está
encarnada em nós, que vive e se move em nós.
Mas há também uma parte dela que não “se
encaixa” muito bem aqui, por assim dizer; uma parte que permanece atrás… ou,
expressando esse conceito de um ponto de vista terreno, uma parte ampla demais
para estar contida em um corpo e personalidade humanos.
Então, existe uma interacção entre nós e a
nossa alma, e ao mesmo tempo, nós somos uma coisa só.
Nós somos feitos da mesma essência e não
somos separados um do outro.
A interacção entre nós e a nossa alma
tem a ver com o quanto da energia da nossa alma nós permitimos que entre na nossa
vida na Terra.
Ela é uma faísca de inspiração
ocasional, que nos dá um gosto de consciência expandida?
Ou nós permitimos que a nossa alma
penetre mais profunda e completamente e dê forma à nossa existência terrena, de
um modo radical e imediato?
É neste processo que nós nos encontramos
agora – indo cada vez mais fundo – o processo de fusão com a nossa alma através de
uma entrega completa ao nosso fluxo.
E quem nos forçará a fazermos isto seremos
nós mesmos e mais ninguém.
É uma escolha que fazemos: a de nos
permitirmos agir de acordo com o que a nossa alma nos pede que façamos ou sejamos.
E quando decidimos fazer isto?
Nós tomamos esta decisão no momento em
que percebemos que é absolutamente necessário fazê-lo, que este é o único
caminho possível para nós.
Geralmente isto é precedido por um
período no qual nós quase não damos ouvidos à voz da nossa alma.
Nós tentamos fazer tudo por conta
própria, pela nossa cabeça, baseando-nos nas ideias que nos vêm à mente a
partir de fora, das pressões externas e do medo.
Há diversas razões para não ouvirmos a
nossa alma, que fazem com que fiquemos alienados dessa voz.
E assim, ela se torna uma estranha para nós.
Isto é o que a maioria de nós tem
associado com a condição de ser um humano na Terra; estar alienado das nossas
raízes, da nossa origem cósmica, da nossa alma.
Deste modo, o processo de encarnação
torna-se muito estressante e doloroso.
Neste caso, descer e entrar num corpo
significa dizer adeus a quem somos, à nossa origem – essencialmente, deixar o nosso
Lar.
Esta é uma tarefa quase impossível e é
natural que ansiamos pela volta ao Lar e desejemos ir embora do mundo onde não nos
sentimos em Casa.
Existe um único caminho para todos na
Terra, mas todo mundo passa pela experiência de estar isolado da voz de sua
alma, durante um longo tempo, até perceber: - “Não posso mais continuar
deste jeito. Estou totalmente preso. Quando vivo apenas a partir da minha
cabeça, do medo, daquilo que ‘deveria ser’ e ‘deve ser’, sinto-me morto por
dentro.”
Só quando começamos a sentir este dilema
com muita intensidade, é que nos abrimos para uma voz diferente, uma lembrança
de quem realmente somos.
Então, num determinado nível, temos que
ceder aos impulsos da nossa alma.
A arte de fazermos isto se resume em nos
abrirmos para o novo e libertarmos as velhas noções de segurança.
E isto geralmente é muito difícil para
um ser humano.
Nós associamos isso com desistir, com
estarmos num beco sem saída e com sentimentos de decepção, amargura e depressão.
Mas esse momento de desespero final, de
não sermos mais capazes de continuar no antigo caminho, pode ser visto como uma
porta entreabrindo-se para uma nova possibilidade.
E então, podemos tirar vantagem dessa
crise interna e abrirmos essa porta para outra realidade.
Isto requer força interior, porque
justamente nesse momento de desânimo total, somos solicitados a olhar para trás
e confiar em algo novo, que ainda não sabemos o que é, algo do qual não temos
nenhum conhecimento.
É como ter uma confusão à nossa frente e
uma porta atrás, ligeiramente entreaberta, através da qual passa um filete de
Luz.
Se permanecermos sentados de costas para
a porta e ficarmos olhando para a confusão, aumentarão nossos sentimentos de
tristeza, desespero e desesperança.
Mas como podemos ter certeza de que essa
porta atrás de nós pode-nos oferecer a possibilidade de algo diferente, de algo
novo?
Nós começamos a sentir a certeza de que
essa porta pode ser aberta quando nos conectamos com a nossa alma.
Nós podemos atravessar momentos de dor e
desespero na vida de duas maneiras muito diferentes.
Uma é sendo totalmente absorvido por
eles, e isto significa que toda a nossa energia, tudo o que é consciente em nós
é carregado nas ondas de medo, amargura e até mesmo ódio.
Nossos pensamentos são tingidos por tudo
isso, e assim, nossas emoções e nosso corpo também acabam sendo afectados a
longo prazo.
Mas há outro caminho, uma força
contrária.
Nesses momentos, nós podemos tomar
consciência do que está acontecendo no nosso interior e sairmos da corrente
descendente.
Existe algo dentro de nós que observa
tudo isso de perto, sem julgamento, a partir de uma consciência que é maior do
que a nossa vontade terrena, nossas ideias terrenas, nossa educação, nossos medos,
e tudo de antigo que conhecemos do nosso passado.
Então a nossa alma entra no nosso campo
terreno.
Falando francamente, muitas vezes
precisa surgir uma confusão na nossa vida, antes que nos sintamos impelidos a
entrar numa nova forma de consciência.
É justamente em momentos de crise que
pode ocorrer uma mudança na nossa percepção de modo que consigamos olhar para nós
mesmos de uma perspectiva mais ampla.
Então, a consciência dentro de nós
torna-se muito silenciosa e quieta.
Sintamos esse silêncio por um momento,
olhemos para alguma questão na nossa vida, para a qual não temos nenhuma
resposta, algo que já examinamos inúmeras vezes, de todos os ângulos, e
experimentamos todas as emoções que isso envolve.
Agora coloquemos-nos num ponto tranquilo,
de onde observamos a situação sem querer uma resposta.
Percebamos como uma certa paz
imediatamente se faz presente.
É isto que significa “desistir da luta”,
o que não quer dizer que tudo permanece o mesmo e nada muda.
Significa que criamos espaço para o
novo, não raciocinando sobre o que já é conhecido e procurando respostas e
soluções no passado e no que está atrás de nós.
Só se pode entrar no
desconhecido, no novo, no fresco, por meio do silêncio, por meio daquilo que
não é conhecido e entregando-se ao silêncio.
Deixemos que o silêncio que nos envolve
flua através do nosso corpo.
Ficando quietos deste jeito, libertamos
velhas certezas, velhas ideias de como as coisas deveriam acontecer na nossa vida,
de convicções às quais nos agarramos.
Permitamos que tudo isso se desvaneça
como as folhas mortas que caem das árvores no outono, enquanto a energia da nossa
alma sopra como uma brisa suave através da nossa aura.
Imaginemos que tudo que é velho, tudo
que não precisamos mais, tudo que já foi vivido e digerido é levado suavemente
pelo vento.
O momento em que já não sabemos mais é
justamente quando nos desapegamos com mais facilidade.
Deste modo, uma nova força se concentra
dentro de nós.
Quanto mais vazio e sem preocupações
estiver o nosso campo energético, mais ele pode ser preenchido pela nossa alma.
E de dentro do silêncio, surgem novas
ideias que não são alimentadas pela nossa cabeça nem por nossa vontade.
As novas ideias chegam a nós como se
viessem de fora.
Algo brota de repente, mas isto não
precisa acontecer imediatamente.
O que ocorre neste processo é que
inspirações e intuições emergem livre e naturalmente e nos alimentam com novos
impulsos.
Neste ponto, daremos algumas explicações
sobre os níveis nos quais podemos sentir e vivenciar a nossa alma, pois existe
mais de um nível no qual podemos sentir e sintonizarmos-nos com ela.
Acabamos de falar sobre como a alma pode
se revelar por meio do silêncio, por meio da percepção pura.
Essa experiência também é uma sensação
muito profunda de estarmos em casa, baseada numa capacidade de nos mantermos
enraizados, de estarmos completamente no presente e não sermos levados por todo
tipo de distracções causadas por pensamentos e emoções.
Este é um dos níveis mais profundos, nos
quais se pode ter uma conexão com a alma, sentindo sua Presença pura.
Esse estado de silêncio tem um efeito
positivo imediato no nosso corpo, em nossos pensamentos e emoções.
É o poder curativo do silêncio.
Quando estamos lá, a alma não é mais uma
coisa acima e fora de nós, mas é muito tangível fisicamente, na metade inferior
do nosso corpo, no nosso abdome, nas nossas pernas e pés.
Fiquemos atentos às sensações no nosso
corpo quando a nossa alma está totalmente conectada connosco, e estamos
completamente integrados com a nossa alma.
Sintamos a solidez dessa conexão e
também nossa tranquilidade e paz.
Esta experiência de paz e tranquilidade
– essa quietude profunda – é a base de toda conexão com a alma.
Se não houver essa paz e tranquilidade, nossa
conexão com a alma não está completa.
Por que dizemos isto?
Porque existe outro nível a partir do
qual nós podemos nos conectar com a nossa alma, e ele está localizado fisicamente
num ponto mais alto do nosso campo energético.
Muitas pessoas são dotadas de uma
intuição mais apurada e são também clarividentes.
Se este é o nosso caso, nós podemos
captar os humores e pensamentos dos outros por meio do nosso sexto sentido, da nossa
capacidade de perceber tudo ao nosso redor.
Isto pode ocorrer a partir do nosso
terceiro olho, ou podemos sentir os outros a partir do nosso coração.
Quando nos conectamos em nosso coração e
mente com os nossos ideais para a Terra e nossas visões do futuro – eles
geralmente nos elevam acima de nós mesmos.
Depois parece haver uma conexão
intuitiva com a nossa alma, mas ao mesmo tempo, essa conexão não está
totalmente ancorada, nem atingindo totalmente aquele estado de silêncio e
tranquilidade do qual falamos há pouco.
Nós podemos estar tomados pela visão da
nova era, por uma Terra onde predomina uma energia centrada no coração e, ao
mesmo tempo, estarmos muito frustrados porque isso não está acontecendo na nossa
vida tão depressa quanto gostaríamos, e por causa de tanta resistência e
oposição no mundo.
Deste modo, nós nos sentimos em conflito
com a sociedade ao nosso redor e parece que não nos enquadramos neste mundo.
Embora os desejos e sentimentos que temos
– as premonições sobre a nova Terra – nasçam da conexão com a nossa alma, é
importante permitir que essa energia de inspiração desça totalmente para dentro
do nosso campo energético, nosso corpo e nosso abdome.
Se temos algumas ideias sobre o que
desejamos para o futuro, então sintamos essas ideias e a energia do futuro no nosso
coração.
Sintamos também o fogo que vive dentro
de nós e deixemos que esse fogo se eleve para fundir mais solidamente a energia
em nosso interior.
Depois permitamos que essa energia do
futuro fortalecida desça para o nosso abdome, nossas pernas e pés, até se tornar
silenciosa e quieta – até que nos tornemos silencioso e quietos.
Nesse momento, nossa alma e as mensagens
que recebemos dela, tocam a Terra.
E então, um fluxo realista, ancorado na
Terra, pode se por em andamento, e nós ficamos completamente em contacto com a
nossa energia terrena, ao mesmo tempo em que também permanecemos conectado com a nossa
alma.
Nós construímos uma ponte entre ambas.
Muitos Trabalhadores da Luz às vezes
ficam totalmente absorvidos em visões de outro mundo, enquanto, ao mesmo tempo,
perdem sua conexão com este mundo, aqui e agora, que não está só do lado de
fora de nós, mas também em nosso interior.
Nós ficamos divididos e são criadas
dicotomias entre a Luz e a escuridão dentro de nós e entre nós e o mundo
exterior.
Essas dicotomias produzem esforço e
tensão, tanto dentro como fora.
O desafio de cada um de nós agora é
realmente nos desapegarmos do velho para acolhermos o novo nas profundezas do nosso
ser terreno, em todos os níveis: cabeça, coração e abdome.
Nossa alma só pode se enraizar na Terra
se nós permitirmos que ela penetre profundamente o nosso ser, até o nível do
abdome e pélvis, que nos conectam com a Terra.
Sintamos a paz e o silêncio quando
deixarmos para trás nossos pensamentos e emoções (mesmo as impressões
psíquicas).
Apenas estejamos lá, abertos para o novo
e ele se revelará diante de nós, sem que saibamos como.
A chegada da Nova Terra de consciência
centrada no coração depende da presença de muitas pessoas que estejam ancoradas
na Terra e, ao mesmo tempo, sejam espiritualmente evoluídas.
Elas são os canais.
Gratidão,
Luís Barros