10 de junho de 2020

O PORTAL

Nós somos movidos pelo mesmo desejo que tomou conta de Maria Madalena, durante a sua vida na Terra; um anseio pela verdade, pelo que é real, pela essência.
O desejo de viver a partir da alma, da inspiração, da nossa essência – isto é o que importa para cada um de nós.
Viver dessa maneira pode machucar, pode levar-nos às nossas partes mais sombrias, porque viver a partir do nosso âmago significa que tudo deve ser visto.
A Luz precisa brilhar em tudo, para que possamos tornarmos-nos um ser completo em nós mesmos.
Muitas pessoas estão envolvidas numa luta consigo mesmas, e isto é triste de se observar.
As pessoas geralmente vivem de imagens, figuras e conjuntos de regras a respeito de como tornar-se um ser humano bem-sucedido, reconhecido e respeitado pelo mundo.
Então, sem que percebamos, somos levados pelas opiniões e exigências predominantes na sociedade; sentimos que precisamos nos ajustar ao modo de pensar da maioria das pessoas para parecermos atraentes e bons aos olhos do mundo.
Isto nos afasta da nossa essência e, deste modo, desconecta-nos de nós mesmos.
Mas ainda permanece uma voz que nos diz: “volte-se para dentro, descubra quem você é”.
Nesse espaço aberto, onde não há julgamento, nós podemos descobrir quem somos: nossas partes luminosas e sombrias e tudo que já passamos – nossos sentimentos, emoções e reacções.
Amar a nós mesmos é admitir esse espaço dentro de nós e estar connosco mesmos, observando o que existe ali.
Entretanto, a voz que vem de fora volta a falar e, geralmente, ela é a voz do medo, que diz: “seja bom, seja obediente, ajuste-se às normas, não pareça diferente nem estranho aos olhos de outras pessoas”, e mais uma vez perdemos o nosso diálogo interno e aquele espaço aberto.
Nós nos prendemos em grilhões; nós julgamos de acordo com os padrões do mundo exterior, da sociedade e, assim fazendo, ferimos a nós próprios.
Então, somos empurrados para a frente e para trás, entre os chamados do mundo – que muito frequentemente são a voz do medo – e os clamores da nossa alma, que nos levariam para o nosso interior, para a essência de quem somos.
E como podemos lidar com essa batalha, esse cabo-de-guerra entre interior e exterior, entre a essência e o que vem de fora?
Ouçamos a voz do nosso coração.
Optemos por nós mesmos, escolhamos o caminho que queremos seguir nesta vida.
Decidamos fazer isso com toda a nossa força, incondicionalmente!
Mergulhemos nas profundezas, onde o amor real prevalece.
Mas saibamos que esse espaço profundo não tem fundo e pode parecer que estamos dando um salto para dentro do abismo, no vazio.
Nós não seremos mais sustentados pela aprovação, elogios e reconhecimento dos outros; nós nos manteremos sozinhos.
Sintamos, por um instante, o imenso espaço no centro do nosso coração, onde não existe nenhum julgamento, e nenhuma imagem idealizada de onde deveríamos estar.
A única presença aí é a do Ser, do Ser puro.
Nós conseguimos suportar tamanha liberdade, ou preferimos mantermos-mos sob as rédeas das normas e valores determinados pelos outros?
Nós conseguimos dar esse mergulho nas profundezas?
Conseguimos viver verdadeiramente?
A vida nos desafia a dar um salto no desconhecido, e isto é amedrontador.
Entretanto, restringirmos-nos ao caminho estreito do que nos é conhecido e não viver plenamente é pior.
Assim nós nos tornamos escravos dos impulsos que vêm de fora, perdemos o nosso “eu” e não mais nos sentimos felizes.
Nós só podemos encontrar a verdadeira satisfação na vida seguindo o curso do nosso coração; nosso batimento cardíaco sozinho, que é único no universo, conhece o caminho.
Às vezes, quando nos perdemos, precisa haver um período sombrio, para trazermos-nos de volta a nós mesmos, para ajudar a lembrarmos-mos de quem somos no nosso âmago.
Todas as certezas externas caem por terra, enquanto estivermos vivendo de acordo com padrões e ideais externos; nós temos a impressão de que tudo está perdido, que caímos num buraco negro e profundo – e isto é uma sensação horrível!
É chamada “A Noite Escura da Alma”… entretanto, é apenas uma passagem. 
Nós estamos sendo levados para um Portal, um Portal que se abre para algo além, algo maior, uma vista que a nossa visão usual, condicionada pelo medo e ideias antigas, não pode nem imaginar.
Imaginemos que estamos num túnel escuro.
Nós não podemos sequer ver as paredes desse túnel e sentimos-nos rodeados pelo nada.
Não há nada de errado com o nada.
Ele é a essência; o nada não é nem bom nem mal; é abertura absoluta sem quaisquer preposições ou expectativas com as quais possamos contar.
Entretanto o nada evoca o medo em nós, como se ele fosse destruir-nos.
O que o nada realmente destrói são as velhas identidades que pensávamos que faziam parte de nós.
Mas saibamos que o que realmente somos não pode ser destruído, não pode desaparecer; é eterno e tão ilimitado quanto o espaço no nosso coração do qual falamos há pouco.
Esse espaço está lá sempre.
Imaginemos que aceitamos o nada e a falta de certezas e, ao mesmo tempo, sentimos a nossa força e independência.
Então, nós não estamos mais presos a este mundo; nós estamos livres nas profundezas do nosso ser!
Continuemos imaginando que estamos passando por um túnel escuro e, de repente, aparece um Portal à nossa frente.
Observemos o que essa imagem provoca em nós… ficamos com medo do Portal?
Ou temos vontade de atravessá-lo?
Ele tem portas pesadas e fechadas ou está totalmente aberto, deixando passar a Luz que vem do outro lado?
Aceitemos-lo apenas; não precisamos fazer nada.
Imaginemos agora que estamos diante do Portal e coloquemos a nossa mão na frente dele.
Permitamos que a energia do Portal flua através de nós.
O Portal é o limiar além do qual nos encontramos no novo, aquilo que a nossa alma deseja-nos mostrar… quando estivermos prontos para vê-lo.
Ao colocarmos a nossa mão no Portal, nós nos familiarizamos com o novo, e com aquilo que desejamos fluir para dentro da nossa vida… num ritmo que nos seja adequado.
Observemos se podemos receber isso – a energia do novo, a energia do Lar e da nossa alma.
Permitamos que ela flua através da nossa mão por todo o nosso corpo, de um modo que nos seja agradável – nem muito pouco nem demais.
A energia flui pela nossa cabeça, nossos ombros, nosso coração; e vai mais fundo, para o nosso estômago, nossa pélvis, nosso cóccix, nossas pernas e pés.
Se estivermos na Noite Escura da Alma, percebamos que existe algo novo esperando por nós além do Portal, embora ainda não possa ser visto com os olhos que temos agora.
Com novos olhos, poderemos ver essa realidade do outro lado do Portal.
E nós desenvolveremos esses novos olhos desapegando-nos do nosso antigo modo de vida, quando deixamos de nos agarrarmos às certezas e padrões de sobrevivência aos quais nos apegávamos antes.
Como saberemos quando estamos prontos para abandonar o velho?
Geralmente isso se dá através de sentimentos de descontentamento, raiva, insatisfação, ou de desespero e desesperança, que indicam que nós não queremos mais que as coisas sejam do jeito que têm sido.
Nós poderemos estar pensando “Não quero mais estar aqui; não quero mais viver na Terra”, mas na verdade, o que estamos dizendo é: “Não quero mais o velho modo de vida, não quero mais as coisas do jeito que elas têm sido”.
Entretanto, pode ser que a nossa mente, por ser formada pelo passado, ainda não consiga imaginar que existam outros modos de ser, e assim a Noite Escura da Alma torna-se desesperada e intensa.
Enquanto o velho se dissolve e o novo ainda não chegou, o facto de estarmos no nosso limite e dentro do túnel força-nos a fazer uma escolha.
Ou continuamos seguindo a voz do nosso coração e nos mantemos fieis a nós mesmos, ou recuamos, voltando a dar ouvido ás vozes do exterior – as do medo, do familiar, do passado.
Imploramos: se estivermos vivenciando a Noite Escura da Alma na nossa vida, fiquemos com ela, continuemos indo para dentro de nós mesmos e sintamos o que existe lá.
Se existe medo, incerteza, tristeza ou desespero, não nos julguemos; fiquemos com eles, não lhes demos as costas.
Nossa Luz é mais forte do que todas essas emoções, que não são o ponto final, mas um lugar de parada no caminho.
Vejamos o Portal à distância; ele já está lá!
Conectemos-nos com a energia do novo, por meio do Portal.
E um dia as portas do Portal se abrirão totalmente – vejamos isto à nossa frente.
Talvez seja demais sentir tudo isto agora, mas observemos-lo por uns instantes à distância.
Como será quando o Portal se abrir inteiramente e caminharmos através dele?
O que nos espera do outro lado?
Que sentimentos isso provoca em nós?
Não precisamos atravessar o Portal ainda; esse momento chegará – tudo chegará no momento certo.
Mas sintamos a promessa dele agora; percebamos a beleza da Luz que existe lá; o prazer, a alegria e o conforto de estar lá.
Sintamos a serenidade da vida lá e rejubilemos-nos, porque esta estrada por onde estamos caminhando agora – esta que agora parece uma noite escura que aumenta os nossos medos – leva-nos para lá!
Mantenhamos essa perspectiva diante dos nossos olhos, e o nosso caminho se tornará mais fácil.

Gratidão,
Luís Barros