23 de junho de 2020

COMO PODEMOS MUDAR A SOCIEDADE?

Grande parte da criação e educação das nossas crianças tem o objectivo de tornar a vida gerenciável e fazer com que as pessoas se adaptem a um sistema social já firmemente estabelecido.
Este tipo de criação e educação confunde as crianças, porque nelas ainda vive um fluxo espontâneo e intuitivo, que é intensamente conectado com suas emoções, as quais geralmente ainda são bem directas e rudes.
E isto assusta os adultos.
À medida que vai crescendo, a criança acaba se tornando cautelosa em relação às suas emoções, ao poder que elas possuem, à paixão que elas contêm, e à sua falta de limites.
Mas será que as emoções realmente não têm limites?
Não, as emoções têm sua própria dinâmica.
Se deixarmos que sigam seu curso, com o tempo elas encontrarão o equilíbrio natural, por si mesmas.
Quando se permite que uma criança desabafe quando está com raiva – porque se sente tratada injustamente, por exemplo – com o tempo ela voltará naturalmente a um estado de silêncio, de reflexão.
Às vezes é necessário ajudar a criança a fazer isto, mas o que acontecia muito no passado, e ainda está acontecendo hoje, é que esse tipo de emoção é suprimida e impedida de se manifestar.
Quando se faz isto desde muito cedo com uma criança, sua vida emocional natural fica reprimida.
Nós somos tão pressionados a nos tornarmos um adulto controlado, não acostumado a confiar em nossas emoções espontâneas, em nossos desejos, cuidados ou paixões, que acabamos nos tornando alienados das nossas motivações mais profundas.
Elas são empurradas para um canto escuro, por assim dizer, onde não ousamos ir.
No entanto, mais cedo ou mais tarde, o que estava escondido vai querer vir à tona.
A voz do nosso coração, da nossa alma, não será negada para sempre.
Parece que, neste momento, neste dia e época, essa voz da alma está despertando simultaneamente em muitas pessoas.
Pode-se dizer que está ocorrendo uma espécie de revolta.
As pessoas querem viver, não apenas sobreviver, e não somente organizar a vida, mas participar plenamente dela.
Existe a necessidade de uma experiência real, intensa, e isto pode dar origem a grandes oscilações em nossa vida emocional.
Nós estamos no processo de retorno ao nosso centro, à nossa essência, que é tanto celestial quanto terrena.
Nós carregamos dentro de nós uma alma imortal, que é infinita, e isto não é algo que possa ser compreendido intelectualmente.
Existe esta luz em nós que é infinita, que não está limitada por tempo nem espaço, que não está presa a este corpo.
Entretanto, esta centelha infinita de luz optou por entrar numa dança com o corpo, com a Terra, e com a natureza.
E por que isto?
A alma desce ao corpo para vivenciar algo especial, que não pode ser experimentado nos reinos celestiais.
A luz quer tomar forma e assumir um corpo para experimentar a vida e a criatividade na forma material e crescer com isto.
Ao tomar uma forma, nos tornamos visíveis para os outros e aparecemos para eles como um ser individual.
Passamos a existir, então, nós e os outros, e também a comunicação entre os seres vivos, além de interacção, necessidade de compreensão e possibilidade de divertimento.
O facto da alma se manifestar na Terra torna possível a criação com sua incrível diversidade que torna a vida realmente interessante e emocionante – uma aventura!
O propósito do encontro entre o Céu e a Terra, da fusão da alma com o corpo, e o objectivo da humanidade é criar e vivenciar a magia desta aventura.
Nós podemos perguntar agora, como é possível que a vida humana na Terra se tenha tornado um exemplo de controlo da vida, de manipulação da vida, causando o sofrimento de muitas pessoas – e da natureza também – sob uma energia repressiva e julgadora.
O que aconteceu com aquela magia original, aquela aventura que podíamos sentir tão claramente quando criança, e que pertence à criança?
O sofrimento da humanidade e da natureza nos deixa tristes.
Há tanto anseio, tanta dor, tanta emoção reprimida nas pessoas aqui!
No entanto, existe esperança.
Há mudanças acontecendo.
Nós somos os pioneiros.
Nós sentimos que mudanças estão chegando e que, quando elas se manifestarem através de muitos indivíduos, algo de novo poderá surgir na Terra.
Vivemos esse sentimento dentro de nós mesmos.
Vamos para dentro do nosso próprio ser e sigamos com a nossa respiração até o abdome.
Conectemos-nos com a energia brincalhona da criança que existe em nós.
Essa criança entende de magia e aventura; essa criança confia nas forças maiores; essa criança não precisa dominar e supervisionar tudo com a mente; e essa criança ainda está aí dentro de nós – viva – e nós não podemos matá-la. 
Imaginemos, por um momento, que vemos essa criança e a cumprimentamos!
Sintamos como essa nossa criança está conectada com a Terra.
Sintamos quanto essa criança sabe que quer estar na Terra e ser uma ponte humana entre o Céu e a Terra.
Redescubramos a magia e tragamos-la de volta à nossa vida.
O que podemos fazer na nossa vida diária para criar uma sensação de magia e aventura?
Perguntemos à nossa criança interior o que ela precisa para vir participar da nossa vida.
Pode ser algo muito simples, portanto não o transformemos numa coisa grande, mantenhamos-lo divertido e pequeno.
Nossa mente geralmente pensa que tem que acontecer alguma coisa grande para mudar a consciência da humanidade na Terra.
Mas dizemos: voltemos ao que é simples – à magia da criança que existe em nós – esta é a resposta.
Aí se encontra a nossa conexão com os maiores poderes, celestiais e terrenos.
É assim que nós damos a nós mesmos algo que é maior do que nós mesmos. 
Infelizmente, nós perdemos a fé nessa possibilidade, mas ela pode ser muito tangível em nossa vida.
Muitas pessoas estão lutando para estarem presentes na Terra, especialmente na realidade social.
Mas a maneira que essa realidade está actualmente estabelecida, estruturada e determinada por leis e regras, expectativas e exigências, muitas vezes reprime e restringe a nossa criatividade.
Essa realidade é o oposto da magia e do espírito aventureiro, e geralmente nos oprime.
Alguns se sentem tão alienados da sociedade, que duvidam se de facto pertencem à Terra.
É precisamente para cada uma destas pessoas que dizemos: nós estamos em nosso Lar aqui, na Terra e com Gaia.
Gaia é a alma da Terra e nós a amamos.
Façamos a distinção entre a realidade social, com seus conceitos e regras humanos, e a energia da natureza em seu estado selvagem – a energia das florestas, mares, pássaros e flores.
Esta é a energia original da Terra, e é aí que está o nosso Lar.
Nós entendemos essa energia e gostamos dela.
Não briguemos com a sociedade, porque no momento em que entramos numa batalha, nós queremos agir, estruturar, organizar, e geralmente forçar algo a mudar.
Mas muito do que prevalece hoje na sociedade, por meio de controlo, de velhos julgamentos e coerção, só pode entrar em colapso através de uma crise.
Às vezes, alguma coisa precisa morrer completamente antes que possa ocorrer uma verdadeira mudança.
No nosso dia-a-dia, nós podemos sustentar a mudança de consciência na Terra, voltando para a nossa fonte, para a criança que existe dentro de nós – para a nossa originalidade.
Ousemos vivenciar as nossas emoções e trabalhemos junto com elas; ousemos sonhar novamente; atrevamos-nos a ser passionais, a acreditar nas possibilidades que a vida oferece, mesmo que a sociedade nos diga que isto não é possível, que isto não é viável.
Tanta coisa é possível quando vivemos a partir do nosso coração, quando ousamos confiar incondicionalmente em nossos sentimentos.
Isto não quer dizer que devamos agir de acordo com cada impulso que se apresente, mas que sejamos sensíveis àquilo que nos afecta e emociona; que nos voltemos para dentro de nós mesmos e olhemos para a nossa criança interior, não apenas quando ela está brava, ansiosa ou triste, mas também quando está entusiasmada e apaixonada; que trabalhemos com essa criança e realmente nos atrevamos a viver de acordo com os nossos ideais e motivações mais profundos.
Tudo isto acabará mudando a sociedade – não através da luta contra alguma coisa, mas através do retorno à nossa própria verdade, ao nosso ser original.
Gratidão,
Luís Barros