7 de junho de 2020

O TERCEIRO CAMINHO

Jeshua   está aqui connosco!
Através das barreiras do espaço e do tempo, está aqui ao nosso lado; sintamos-lo em nosso coração.
Ele está tão familiarizado com a condição humana – com seus altos e baixos. 
Explorou toda a área dos sentimentos humanos, e dentro desse mundo de extremos, acabou encontrando uma saída; uma passagem para um modo diferente de olhar para as coisas, através do qual toda a experiência de ser um humano se apresenta numa luz diferente – um modo que cria tranquilidade e paz no nosso coração.
É sobre esta saída, esta passagem, que falamos.
É bem provável que nos encontremos num dilema, numa luta connosco mesmos. 
Há uma ideia viva em nossa mente que deveríamos ser melhores do que somos hoje; que deveríamos ser mais altamente desenvolvidos, mais santos, mais capazes de seguir determinadas regras, um ideal mais elevado que temos para nós mesmos – mas este é um ideal falso.
Todo o trabalho que temos vindo fazendo em nós mesmos está baseado na ideia de que nós não somos bons do jeito que somos; de que temos o poder de mudar a nós próprios; de que nós temos controlo sobre o facto de sermos humanos.
Esta é uma ideia antiga, que nós já vivenciamos plenamente numa era muito antiga.
Esta ideia existiu, em parte, na Atlântida, onde nós desenvolvemos o terceiro olho, e vivenciamos-lo como o centro de observação da nossa cabeça.
A partir desse terceiro olho, nós podíamos perceber as coisas, e a partir daí também, nós queríamos intervir para moldar a vida aos nossos desejos.
Havia uma certa tendência à dominação em nós, mas essa tendência também era inspirada pelo nosso conceito de verdade.
Nós tínhamos ideia de que agíamos com base em princípios elevados, então o que fazíamos era “bom” – e é assim que sempre acontece.
O poder é sempre velado por ideias que são tidas como boas.
Toda uma ideologia, então, é construída em torno de tais ideias, transformando-as numa cosmovisão que dá a impressão de aspirar ao bem, quando, em essência, estamos tentando controlar a vida – tanto em nós mesmos quanto nos outros.
O poder corrompe – ele nos afasta do fluxo natural da vida que está presente em todo ser humano.
O poder nos dá um conceito de maleabilidade que, de facto, está baseado na ilusão.
A vida, como nós a conhecemos, não é flexível dessa maneira, e não é determinada pela razão, nem pela vontade, nem pelo terceiro olho.
A vida não se ajusta a uma cosmovisão nem a um sistema, e não pode ser organizada com base em processos mentais.
Por um longo tempo, nós nos mantivemos numa batalha com a nossa humanidade – a nossa condição humana.
Muitos caminhos espirituais baseiam-se na ideia de que nós devemos nos esforçar para nos elevarmos, e que precisamos nos impor um plano de acção que nos conduza a uma situação ideal.
Mas isto cria muito conflito interno.
Se começarmos com a ideia de um ideal desejado, imporemos normas a nós mesmos que, no fundo, sabemos que não vamos cumprir – e assim falhamos logo de saída.
Agora, sintamos a energia desse modo de pensar… o que estamos fazendo connosco mesmos?
Que energia vem da necessidade de impor, da busca de auto-aprimoramento e do desejo de organizar a vida, nossas emoções e nossos pensamentos?
Sintamos a energia de querer controlar as coisas.
É uma energia amorosa?
Geralmente essa energia se apresenta como amor, como o bem e a verdade, mas o poder sempre se oculta desta forma, para que seja mais fácil de as pessoas o aceitarem.
O poder não mostra sua face abertamente; o poder seduz através do pensamento. 
É por isto que é melhor não pensar nessa questão, mas sentir o que o desejo de controlar a vida está fazendo connosco.
Observemos a nós mesmos na nossa vida quotidiana, no presente, na nossa vida actual.
Quantas vezes ainda lutamos connosco mesmos, condenando o que surge do nosso interior, o que brota naturalmente em nós e deseja fluir?
Neste estado de julgamento encontra-se uma energia crítica, uma frieza: “isto não pode ser, isto é errado, isto precisa ir embora.”
Sintamos esta energia… ela nos ajuda?
Vamos um modo diferente de olharmos para nós próprios; um lugar onde a mudança pode ocorrer, mas sem luta, sem exercer uma pressão ditatorial sobre nós mesmos.
Imaginemos algo que aconteça na nossa vida e nos desperte um sentimento de raiva ou irritação – seja o que for.
Agora, nós podemos reagir a essa raiva de formas diferentes.
Se não estivermos acostumados a reflectir sobre as nossas emoções, e as nossas reacções forem muito primárias, então não há nada aí além da raiva – nós estamos com raiva, ponto final.
Nós estamos envolvidos nela e nos identificamos com ela.
Nesse caso, geralmente acontece que pomos a culpa da nossa raiva do lado de fora de nós – projectamos a culpa em outra pessoa.
Alguém fez algo de errado e é por culpa dele ou dela que estamos com raiva.
Esta é a reacção mais primária – estamos identificados com a nossa raiva, estamos com raiva.
Outra possibilidade é o que chamamos de segundo modo de reagir.
Ficamos com raiva e imediatamente uma voz na nossa cabeça nos diz: “isto não deveria acontecer; isto está errado; não é bom que fique com raiva; preciso reprimir isto.”
Pode ser que tenhamos sido ensinados a reprimir a raiva pela nossa educação religiosa ou por uma perspectiva da sociedade.
Por exemplo: é melhor, mais bonito, mais moralmente correcto não mostrar a nossa raiva para os outros.
Principalmente se formos mulher, não é apropriado expressar a nossa raiva abertamente – isto não é feminino.
Existem vários tipos de ideias que nos foram incutidas e que nos levam a julgar a nossa própria raiva.
O que acontece então?
Nós sentimos raiva e imediatamente surge uma opinião a respeito dela: “isto não é permitido, isto é errado.”
Então, a nossa raiva se transforma no nosso lado sombra porque, literalmente, ela não pode vir à Luz – ela não deve ser vista!
O que acontece com a raiva, quando é reprimida deste jeito?
Ela não desaparece, ela vai para trás de nós para afectar-nos de outros modos; pode, por exemplo, fazer com que nos tornemos assustados e ansiosos.
Nós não podemos utilizar o poder que reside na raiva, porque não nos permitimos usá-lo.
Nós podemos mostrar o nosso lado doce, agradável, prestativo, mas não esse nosso lado exaltado, irritado – nosso lado rebelde.
E assim, a raiva fica trancada, e nós pensamos que somos diferentes das outras pessoas porque temos esses sentimentos, e podemos até começar a nos afastarmos dos outros.
Em qualquer caso, isto cria um conflito amargo no nosso interior e, aparentemente, entre dois eus – um eu Luz e um eu Sombra.
Enquanto isso, nós ficamos presos nesse jogo doloroso, e isto nos machuca internamente, porque não podemos nos expressar.
É este julgamento que nos limita.
Nós realmente nos tornamos pessoas melhores por causa dessa reacção?
A repressão das nossas próprias emoções vai levar-nos ao ideal de um ser humano pacífico e amoroso?
Quando descrevemos tudo isto, nós podemos ver claramente que este tipo de reacção não funciona – ela não conduz à verdadeira paz, ao verdadeiro equilíbrio interior.
Entretanto, nós fazemos tudo isto connosco mesmos.
Com muita frequência, silenciamos as nossas emoções, porque não são boas de acordo com a moral que nós mantemos, e nós não reflectimos sobre esses conceitos morais – de onde eles vêm, e quem ou o que nos transmitiu a nós.
Então, é isto que é recomendado que façamos: não pensemos sobre ela, mas sintamos-la; sintamos essa energia que vive nos julgamentos que lançamos sobre nós próprios, com nossas imagens do que é ideal e do que “deveríamos fazer”, que às vezes parecem vir de motivos aparentemente muito elevados – deixemos estar.
Nós não nos tornamos iluminados travando as nossas emoções e suprimindo-as sistematicamente.
Existe um terceiro caminho – um terceiro modo de vivenciar as nossas próprias emoções humanas.
O primeiro modo era identificarmos-nos totalmente com a nossa raiva.
O segundo modo, era ocultá-la, suprimi-la e condená-la.
O terceiro modo é permiti-la, deixá-la ser e transcendê-la.
É isto que a consciência faz.
A consciência da qual falamos não julga – é um estado de ser.
É uma forma de observação que, ao mesmo tempo, é criativa.
Agora, muitas tradições espirituais têm dito: “consciencialize-se de si mesmo, isto é o suficiente”.
Mas então, ficamos nos perguntando, como pode ser isso: “Como pode a simples consciencialização de mim dar origem a mudanças no fluxo das minhas emoções?”
É preciso compreender que consciência é algo muito poderoso.
É muito mais do que o registo passivo de uma emoção – consciência é uma força criativa intensa.
Agora imaginemos de novo que alguma coisa no mundo exterior evoque uma emoção poderosa em nós – por exemplo, raiva.
Ao lidarmos com ela conscientemente, nós a observamos totalmente em nós mesmos.
Nós não fazemos nada a respeito, enquanto, ao mesmo tempo, continuamos observando e assistindo.
Nós não nos identificamos mais com a raiva, nós não nos perdemos nela, simplesmente permitimos que a raiva seja o que é.
Este é um estado de desprendimento, mas um desprendimento que exige muita força, porque tudo o que aprendemos nos seduz a nos deixarmos arrastar pelo nosso humor para o interior da nossa emoção de raiva ou medo.
E para tornar tudo mais complicado, também somos atraídos para o julgamento a respeito dessa raiva ou medo.
Então, somos atraídos em duas direcções e afastados da consciência – da saída da qual falamos no começo; a saída que é o caminho para a paz interior.
Nossa forma habitual de lidarmos com emoções afasta-nos do nosso ponto central, por assim dizer… afasta-nos daquela consciência.
No entanto, esta é a única saída.
A única maneira de não nos tornarmos inconscientes é observarmos silenciosamente a extensão completa da emoção, mantendo-nos, assim, inteiramente presentes.
Nós não nos deixamos envolver – nem pela emoção, nem pelo julgamento da emoção.
Nós observamos-la em total consciência e com um sentimento de suavidade: “É assim que acontece em mim. Vejo a raiva surgir em mim; sinto-a percorrer meu corpo. Meu estômago reage… ou meu coração. Meus pensamentos estão correndo para justificar minha emoção. Meus pensamentos me dizem que estou certo e não a outra pessoa.”
Tudo isto nós podemos ver acontecendo enquanto nos observamos, mas nós não vamos junto.
Nós não mergulhamos nisso, não nos afogamos.
Isto é consciência – isto é clareza de mente.
E, deste modo, nós pomos para descansar todos os “demónios” da nossa vida: o medo, a raiva, a desconfiança.
Nós lhes damos força quando nos identifica com eles, ou quando os combatemos com julgamento – das duas formas, nós os alimentamos.
O único modo de transcendê-los é nos elevarmos acima deles, por assim dizer, com a nossa consciência – não lutar contra eles, mas simplesmente deixá-los ser o que são.
O que acontece connosco então?
A consciência não é algo estático; as coisas não se mantém como são.
Nós perceberemos que, se não alimentarmos as energias da emoção ou do nosso julgamento a respeito dela, elas se dissiparão gradualmente.
Em outras palavras, nosso equilíbrio torna-se mais forte; nossos sentimentos básicos passam a ser os de paz e de alegria.
Porque, se não há mais batalha no nosso coração e na nossa alma, a alegria vem borbulhando para cima.
Nós vemos a vida com um olhar mais brando.
Nós vemos o movimento das emoções no nosso corpo e o observamos.
E observamos também os pensamentos que começam a correr pela nossa cabeça, com um olhar suave e brando.
Saibamos que a capacidade de observar e não ser engolido é algo muito poderoso e forte.
Esta é a saída!
Experimentemos o poder da nossa própria consciência – o puro ser – e a libertação, através dela, que nos permite sentir que não há nada que precisa mudar em nós.
Sintamos a tranquilidade e a claridade desta consciência: isto é o que realmente somos.
Ponhamos de lado os falsos julgamentos.
Deixemos as emoções fluírem e não as reprimamos – elas fazem parte de nós e algumas delas têm uma mensagem.
Perguntemos a nós mesmos se temos uma emoção que tememos, que nos incomoda, que lutamos contra ela.
Talvez seja uma emoção que tenha se tornado tabu para nós.
Permitamos agora que ela venha à tona na forma de uma criança ou animal – para se apresentar, para se mostrar.
Essa criança pode se expressar completamente, ou pode até se comportar mal.
O que quer que aconteça, devemos permitir que ela faça o que deseja fazer e nos diga o que sente.
Nós somos a consciência que observa e diz: “Sim, quero ver você; quero ouvir sua história; expresse-a. Conte-me sua história, porque é a sua verdade. Poderá não ser a Verdade, mas quero ouvir sua história.”
Vivenciemos as nossas emoções deste modo e não as condenemos.
Deixemos que elas falem connosco.
Tratemos-las com a brandura de uma pessoa idosa e sábia, e observemos o que essa criança ou animal nos traz.
Muitas vezes, escondida numa emoção negativa, existe uma força vital pura que deseja emergir, mas que foi sufocada até a morte por todos os preconceitos do julgamento.
Deixemos a criança ou animal vir pulando em nossa direcção.
Talvez ela mude de aparência agora – recebamos-la com acolhimento amoroso.
A consciencialização transforma – é o principal instrumento de mudança e, ao mesmo tempo, não quer mudar nada.
A consciencialização diz, “Sim – sim para o que é!”
Ela é receptiva e aceitadora de tudo que está aí, e isto muda tudo, porque ela nos liberta.
Nós agora estamos livres – não mais à mercê das nossas emoções ou dos nossos julgamentos sobre elas.
Ao permitirmos que sejam, elas perdem o controlo sobre nós.
É claro que ocasionalmente ainda pode acontecer que nos deixemos dominar pelas nossas emoções e preconceitos – isto é ser humano.
Tentemos não ficar presos aí e não nos castigarmos por isso: “Ai, eu não alcancei a Consciência Clara – devo estar fazendo alguma coisa errada!”
Se fizermos isto, faremos com que a bola do julgamento comece a rolar de novo.
Nós podemos voltar sempre para a saída, voltar à paz, não lutando connosco mesmo.
Observemos o que está aí, e não nos enganemos: não sermos arrastados para dentro é uma grande força.
Este é o poder da verdadeira espiritualidade.
Verdadeira espiritualidade não é moralidade – é um modo de ser.

Gratidão,
Luís Barros