18 de junho de 2020

DOIS TIPOS DE ESCURIDÃO

Jeshua, é um velho amigo que está muito feliz por compartilhar este momento connosco, simplesmente estando juntos na energia do amor e unidade.
Isto é uma coisa que desejamos tanto, porque frequentemente nos sentimos desorientados e perdidos nesta vida na Terra.
Jeshua, está aqui para lembrar-nos da verdade que vive no nosso interior, na nossa alma.
Ela não é observável a olho nu e muitas vezes nós perdemos contacto com essa verdade, quando estamos ocupados e envolvidos nas nossas diversas actividades, deveres e responsabilidades.
Por favor, tomemos um momento para ficarmos tranquilos e deixarmos todas essas pressões externas desaparecerem.
Sintamos o silêncio nas profundezas do nosso ser.
O silêncio em nosso coração não é um vazio, mas uma presença integral, que só pode ser percebida se nos afastarmos da agitação do dia-a-dia.
Estamos aqui hoje para dar esse passo, de modo que nos lembremos de quem somos, e para nos revitalizarmos com a plenitude do silêncio em nosso coração.
Isto nos capacitará a começar a viver de novo, só que agora, com mais tranquilidade e alegria.
Às vezes, a vida parece uma batalha, mas não é assim que ela deveria ser.
Essencialmente, nós estamos aqui para experimentar a nós mesmos, para nos lembrarmos da nossa força e da nossa beleza como anjos radiantes de luz, e para compartilharmos essa luz com os outros.
Fazendo isto, nós nos sentiremos em casa na Terra.
A vida tornar-se-à simples, fácil e alegre novamente.
Então, voltemos-nos para dentro de nós, junto com  Jeshua, e lembremos-mos da fonte da qual viemos: a Luz imperecível, eterna, que está sempre se movendo e se modificando, tomando novas formas, e, ainda assim, é sempre indivisível e Uma só.
Nós fazemos parte desse fluxo e, na verdade, nada pode nos acontecer.
Nós estamos seguros e inteiros, mesmo agora, enquanto vivemos no nosso corpo terreno.
Nós estamos seguros, mesmo neste mundo, que parece tão dominado pela luta e conflito.
Vamos falar sobre Luz e escuridão, e sobre levar a Luz para a escuridão.
E o que é a escuridão?
É algo que evoca resistência em nós, enquanto ser humano.
Ninguém quer experimentar a escuridão, ninguém quer sofrer de dor, tristeza ou medo.
No entanto, ela faz parte da nossa vida.
Então, por que essa escuridão existe?
As pessoas vêm se perguntando isto há séculos.
Agora, para começar, muito depende de como fazemos a pergunta.
Nós perguntamos com uma atitude de abertura: “Por que existe escuridão? Por que isto está acontecendo comigo? O que eu deveria fazer com isto?”
Ou colocamos a questão a partir do medo, raiva e resistência: “Por quê, meu Deus, esta escuridão está presente na minha vida? Como posso livrar-me dela ou evitá-la?”.
Sintamos o desespero e a resistência que esta última forma de questionar expressa, e reconheçamos essas emoções em nós mesmos, porque são reacções humanas de resistência a tudo o que parece sombrio, nocivo ou difícil.
Nosso maior desafio, enquanto ser humano, é dizer “sim” para situações que inicialmente nos recusamos a aceitar; dizer “sim” para aquilo que queremos evitar a qualquer custo!
Dizer “sim” para o que vem à nossa vida em forma de escuridão requer uma grande força interior.
Se não conseguimos encontrar essa força – o que é compreensível – e dizemos “não”, nós nos endurecemos em relação ao que aconteceu, e a escuridão torna-se mais profunda, e o desespero aumenta.
Na verdade, existem dois tipos de escuridão na vida.
A primeira é alguma coisa externa que nos acontece em nossa jornada na vida.
Pode ser a separação de alguém que amamos, uma doença, um acidente, uma crise, uma fatalidade… qualquer coisa que nos angustie profundamente.
Vamos chamar isto de “escuridão um”.
E depois, há a nossa reacção a isso, a nossa resposta emocional.
Todo ser humano tem a tendência a resistir ao destino, inicialmente, a protestar contra a escuridão.
Mas se mantemos a nossa resistência, nos fechamos e continuamos dizendo “não”, fazendo julgamentos sobre o que está acontecendo na nossa vida, então forma-se uma camada adicional de escuridão, um segundo tipo de escuridão, que chamaremos de “escuridão dois”.
Ela envolve a “escuridão um”.
A “escuridão um” leva-nos a um nível de emoções intensas e profundas.
Acontece alguma coisa na nossa vida que nos traz muita tristeza, medo e dor.
E enquanto vivenciamos essas emoções, estamos bem vivos.
A vida flui através de nós como uma onda gigantesca.
Nós podemos permitir que isto aconteça?
Cargas emocionais profundas nos aniquilam – elas chocam-nos – e então se transformam numa questão de sabermos se temos força para confiar que existe algo nessa experiência que nos levará a algum lugar; confiar que a vida tem sentido, mesmo que nós, seres humanos, muitas vezes não consigamos compreender esse sentido.
Colocando isto em termos mais fortes ainda… para aceitar que a nossa alma pode ter escolhido viver essa experiência, talvez para trazer à tona algo que estava oculto, e curar alguma coisa que não sabíamos que precisavam de cura.
Há, então, um momento de escolha, no qual somos confrontados com opções fortes: aceitar e nos entregarmos ou resistirmos e nos fecharmos.
É mais humano querer dizer “não”.
Não diremos que isto é errado, mas agindo assim, estamos colocando uma camada extra de escuridão sobre aquela já presente, um segundo tipo de escuridão, a “escuridão dois”, como a denominemos.
Esta escuridão vem de dentro de nós – é a nossa reacção à “escuridão um”.
Se persistirmos em dizer “não”, o fluxo de nossas emoções será reprimido, interrompido, e ficaremos imobilizados.
“Não, eu não quero vivenciar isto; eu me recuso; eu não posso aceitar isto!”
Se persistir, seremos preenchidos com ressentimento, raiva e amargura.
Estes sentimentos não são realmente emoções, mas julgamentos que congelam o fluxo natural de emoções no nosso interior.
A “escuridão dois” impede que a vida flua através de nós, porque nós mesmos construímos muros e defesas.
No fim, isto poder-nos-à atrair formas graves de escuridão, como desespero profundo, alienação e depressão.
Quando estamos em depressão, o fluxo de vida está quase parado.
Nós nos sentimos mortos por dentro.
A vida está sempre sujeita a mudanças.
A vida, por natureza, contém a possibilidade de crescimento e cura para um novo nascimento, se confiarmos nela, num nível básico.
Mas, se persistirmos em dizer “não”, fechamos essa possibilidade; continuamos insistindo que a vida não é como deveria ser e, ao julgarmos a vida deste modo, nós nos desconectamos dela.
Assim, chegamos à escuridão mais profunda que um ser humano pode vivenciar.
Não é a “escuridão um” (situações externas) que leva as pessoas aos níveis mais profundos de escuridão, mas a recusa persistente em aceitar as emoções que emergem da “escuridão um”.
E isto é a “escuridão dois” – um endurecimento interior, um fechamento da nossa natureza emocional.
Como se pode levar Luz a este tipo de escuridão?
Se uma pessoa entra no primeiro tipo de escuridão e fica muito triste, ansiosa e angustiada, ainda podemos chegar até ela, pois ela ainda está viva, em contacto com as emoções que percorrem seu corpo e psique, e procura activamente o sentido por trás do que lhe está acontecendo.
Esta pessoa ainda está inteira e saudável, do ponto de vista psicológico, mesmo que esteja enfrentando uma situação muito grave.
Uma pessoa que esteja lidando com a “escuridão um” tem necessidade de conforto e compaixão, e é capaz de receber e apreciar um gesto amoroso de outra – ela ainda está bem viva.
Mas aquela que persiste na sua recusa para aceitar, que continua dizendo “não”, esta pessoa se fecha ao recebimento do amor.
Ela se fecha, não só para sua própria Luz interior, mas também para a Luz exterior, que quer vir a ela através dos outros.
Isto é solidão, isto é estar perdido – isto é o inferno na Terra.
E dizemos que todo ser humano conhece esse inferno de dentro.
Talvez não estejamos totalmente conscientes disso, mas para a maioria das pessoas, esse processo de se fechar começou já na infância.
Sabemos como uma criança se coloca de modo espontâneo e desinibido no mundo, e como suas emoções fluem com facilidade.
Suas emoções geralmente passam rapidamente pelo seu ser, porque não existem barreiras estabelecidas, nenhuma porta fechada.
Geralmente, a vida flui livremente através de uma criança.
É claro que existem excepções, pois algumas crianças carregam pesos da sua primeira infância ou de vidas passadas.
Ser criança é estar num estado de relativa abertura.
Uma criança é viva e espontânea porque não consegue ser de outro jeito, ela ainda não aprendeu a controlar-se como os adultos fazem.
Mas, à medida que vamos crescendo, começamos a experimentar emoções com as quais não sabemos ligar.
As pessoas são treinadas pela sociedade a se afastarem das emoções difíceis.
Assim, os adultos ao nosso redor muitas vezes não nos ajudam a entender essas emoções e evitam falar sobre elas.
A maioria das pessoas fica confusa quando criança.
Começam a pensar que são estranhas e diferentes.
Talvez, enquanto criança, estivéssemos cheios de inspirações, entusiasmo, amor, sonhos… mas estes sonhos deram de encontro com a dureza da realidade.
Nós começamos a colocar barreiras contra a nossa natureza sentimental, como reacção aos medos e preconceitos que existem em nosso ambiente familiar, ou mais tarde, na escola e nas pessoas que passamos a conhecer.
Portas se fecham e isto geralmente acontece subconscientemente, mas talvez estejamos entre os que se lembram disso como uma tristeza antiga.
Vejamos se conseguimos encontrar a criança dentro de nós mesmos, o símbolo da nossa espontaneidade; uma criança extrovertida desinibida, viva, e que diz “sim” a tudo que se lhe apresenta como experiência.
Conseguimos ver esse ser que diz “sim” para a alegria, o prazer e satisfação, bem como para a tristeza, o medo e a raiva?
Imaginemos que essa criança queira vir a nós.
Ela ainda está aí; espaço e tempo são ilusões.
Na realidade interior, nada se perde nunca.
Nosso fluxo original de vida está preservado e ainda deseja se unir a nós.
Imaginemos, por um momento, que uma criança sorridente está vindo a nós, com uma atitude de abertura.
Em nossa imaginação, ouçamos-la dizer: “Você se lembra quem eu sou?”
Olhemos para a criança e perguntemos-lhe o que podemos fazer por ela.
Há um desejo do coração que a criança gostaria que fosse realizado, algo que talvez tenhamos posto de lado há muito tempo.
Deixemos a criança falar por um momento.
A criança representa o “sim” em nós, a nossa parte que deseja viver, então deixemos-la falar.
Uma criança ainda possui confiança.
Como adulto nós absorvemos ideias cheias de medo e desconfiança, as quais alimentam nossa persistência em dizer “não” à vida e contribuem para que haja a “escuridão dois” em nós – o segundo tipo de escuridão.
Tentemos agora dar forma, na nossa imaginação, à “escuridão dois”, aquela parte de nós que se opõe à vida, que não deseja mais vivenciar dor, e que de facto deseja escapar desta vida.
Conseguimos sentir esse elemento de endurecimento e contracção dentro de nós? 
Podemos senti-lo fisicamente, ou talvez ver uma cor associada a ele?
Há uma parte em nós que está muito cansada e não quer mais viver porque já viu e vivenciou muita dor e luta.
Sintamos o peso dessa parte.
Conseguimos dizer “sim” para ela?
Não tentemos modificá-la imediatamente; tentemos entender como isso surgiu.
Ninguém se fecha deliberadamente por causa de uma falta de vontade de viver.
Isto é um acto de desespero, que nos leva a essa outra maneira de viver que nos impele a nos fecharmos, a retroceder, a dizer “não”.
Não pedimos para dizer “sim” apenas à “escuridão um” na nossa vida: aos acontecimentos difíceis, doença, dor, sofrimento ou o que for.
Pedimos que também digamos “sim” à “escuridão dois”, a esse algo dentro de nós que se fecha para a vida como resultado de acontecimentos dolorosos; a essa parte em nós que não quer mais viver a vida e recusa-a.
E para alcançar essa nossa parte, precisamos ser muito delicados, porque a insistência e a coerção não funcionam lá.
Isso é a essência da Luz, a Luz que pode fluir para dentro da escuridão.
Essa Luz pode alcançar todos os recantos, porque não carrega nenhum julgamento.
Ela não diz: “Ah! Isto é muito ruim! Precisamos derrubar essa barreira ou bloqueio, porque a vida precisa fluir novamente!”
Ela nunca diz isso.
A Luz simplesmente diz: “Eu compreendo.”
A Luz diz: “Tem sido muito difícil para você, posso ver isto. Posso ver como você se contraiu, como você se fechou, e como essa contracção acabou tornando-o cansado e vazio.”
A Luz é delicada e fluida.
Ela pode penetrar a mais profunda dor e sofrimento e a alma humana mais endurecida.
Pedimos para nos abrirmos novamente para essa Luz.
Se não conseguirmos encontrar essa vontade dentro de nós mesmos, se não sentirmos a abertura para nos desapegarmos do “não”, então deixemos que assim seja também, porque a Luz está sempre presente.
Ela está connosco, mesmo nos momentos de desespero tão intenso que nos fazem pensar que não existe mais nenhuma Luz no nosso interior.
Ela está aí nesses momentos, e nessas situações em que perdemos totalmente o contacto com ela e não esperávamos vê-la nunca mais.
O facto é que a Luz não é nossa, ela pertence a Tudo Que Existe.
O Universo inteiro, toda a Criação é Luz.
Tudo está imbuído de Luz.
Saibamos que ela está aí e confiemos na vida.
No momento em que permitirmos uma pequena abertura – por menor que seja – para a confiança e nos rendermos à entrada dela em nossa vida, nós estaremos abrindo uma fresta da porta.
Nós sabemos que, mesmo durante a noite mais escura, a nossa alma está sempre perto de nós, estendendo-nos a mão com Luz e consolação.
Embora essa porta esteja aberta apenas um pouquinho, a Luz encontrará essa abertura.
Nós não precisamos fazer nada além de permitir que isso aconteça.
A Luz está connosco, a vida está connosco.
Em última análise, nosso “não” para a vida não conseguirá se manter.
Pedimos que nos rendamos à Luz, sendo que Luz significa dizer “sim”, não só para as dificuldades da nossa vida, mas também aos nossos problemas para dizer “sim”, à resistência que colocamos contra emoções profundas, que nos fazem sentirmos-mos nus e vulneráveis.
Sejamos como uma criança outra vez.
Vivamos!
Digamos “sim” a tudo.
Envolvamos-nos em compaixão e entendimento.
Ao fazermos isto, trazemos um fluxo para a nossa vida.
  
Gratidão,
Luís Barros