11 de junho de 2020

A NOITE ESCURA DA ALMA

Maria Madalena, também trilhou o caminho do ser humano na Terra, conheceu e explorou suas profundezas e foi tocada por uma Luz vivida e brilhante que a inspirou e tomou conta dela, fazendo-a lembrar, sonhar e ansiar por um mundo mais bonito e melhor na Terra.
Conheceu os dois extremos; tanto a Luz quanto a escuridão.
Esses extremos são pólos que devem estar juntos; poderíamos dizer que são a força motriz um do outro.
A vida parece ser feita de opostos: Luz e escuridão.
Os sentimentos que eles provocam parecem ser opostos, entretanto existe uma ligação oculta entre eles: um não pode funcionar sem o outro.
A experiência da Luz só é possível quando se vivência a ausência dela e através do contraste com seu oposto, a escuridão.
A Luz nunca é tão visível quanto quando surge da escuridão.
Pensemos nos primeiros raios do Sol ao raiar do dia; a luz quente da manhã que banha o mundo.
E como essa luz pode tocar-nos profundamente, especialmente se estivermos emergindo de uma noite fria e escura.
Contraste cria dinâmica – vida, movimento, crescimento, mudança – então a escuridão tem uma função em nossa vida.
Entretanto, os seres humanos geralmente vivenciam a escuridão como a antítese da Luz; não como uma motivação para mudança e crescimento, mas como uma armadilha ou poço onde são capturados e de onde não conseguem mais sair.
Desse poço profundo parece que nós perdemos contacto com a Luz, como se ela tivesse sido cortada de nós.
Cada um de nós conhece esse estado mental de ser cortado da Luz, de ser privado do senso de significado e propósito da vida.
Isto, na realidade, é estar morto.
A única maneira possível de morrer não é a morte física, mas a cessação de qualquer movimento em nosso coração, nossos sentimentos e nossa mente.
Na realidade, a morte não existe; a nossa alma é eterna e continua vivendo.
Tudo que é mortal em nós é apenas forma; a nossa essência é eterna e não pode morrer.
Entretanto, nós podemos perdê-la de vista temporariamente, a tal ponto que nos tornamos rígidos internamente e paramos de nos mover.
Nós estamos mortos por dentro e sentimos-mos profundamente deprimidos.
Este é um estado extremamente doloroso!
Descemos para esse estado deprimido e investiguemos-lo com a mente aberta.
O que acontece quando alguém perde toda esperança, se recolhe e se sente impotente diante de todos os sentimentos que brotam de dentro de si?
Geralmente essa reacção é provocada por acontecimentos externos que são perturbadores; acontecimentos que a pessoa não consegue localizar em seu quadro de referência, e que faz com que tudo na vida dela se torne incerto.
Pode ser algo grande, como a morte de um ente querido, uma doença, a perda do emprego, o fim de um relacionamento…
Estes são acontecimentos que afectam profundamente a pessoa e podem levá-la à beira do abismo.
Entretanto, às vezes a escuridão pode se revelar a partir do nosso próprio interior sem uma causa externa clara.
Cargas emocionais antigas, que foram gravadas na memória da nossa alma, vêm à superfície; experiências dolorosas, possivelmente originadas em vidas anteriores, brotam das profundezas do nosso ser e temos que lidar com sentimentos sombrios, medos e dúvidas.
Experiências intensas de carência, solidão e fracasso podem entrar na nossa psique sem razão e podem fazer-nos perder o equilíbrio tanto quanto qualquer evento externo que nos aconteça.
Quando se é apanhado numa depressão, na Noite Escura da Alma, ela sempre vem com a experiência de termos sido tragados e sermos incapazes de lidarmos com todas as emoções que se apresentam.
O fluxo de emoções pesadas e dolorosas é vivenciado como algo grande demais para se suportar.
Nós somos dominados por elas… ou assim nos parece… e nos fechamos com uma profunda sensação de impotência.
No momento em que voltamos as costas às emoções e nos recusamos a encará-las, nós ficamos paralisados.
Essas emoções desejam fluir; é essencial que as emoções continuem seguindo adiante como uma grande onda que arrebenta e corre em direcção à praia.
Mas nós ficamos com medo de permitir isso, então nos recusamos a acompanhar esse movimento e fugimos dessas emoções que nos inundam.
Nós construímos uma barragem e dizemos: “Não consigo lidar com isso. Eu não quero isso. Quero por um fim nisso.”
A nossa reacção – geralmente resultado de absoluta impotência – cria depressão, que é um estado de dormência e de estarmos fechados para a vida.
Com o tempo, essa situação se torna insustentável e nós não queremos mais viver.
Do ponto de vista terreno, nós queremos morrer porque a vida está intolerável.
Mas, do ponto de vista da alma, nós estamos mortos e esta é uma experiência tão insuportável, que queremos fazer tudo o que podemos para por um fim a essa situação.
O desejo de morrer é essencialmente um desejo de mudar, um desejo de voltar a viver.
As pessoas que desejam cometer suicídio têm um profundo desejo de vida, não de morte.
É justamente este sentimento de estar morto por dentro que as conduz ao desespero extremo.
Sua ânsia de viver é que as leva a dar um fim às suas vidas físicas.
Quando vivenciamos uma depressão, há em nós uma combinação de profunda resistência e extrema vulnerabilidade.
A depressão é uma forma de nos defendermos contra o enorme poder das emoções que ameaçam tragar-nos.
Nós pensamos que elas nos destruirão e, assim, em nossa impotência, construímos uma concha ao nosso redor, envolvemos-nos num casulo que nos impeça de sentirmos qualquer coisa.
Nós não queremos mais permanecer aqui.
Assim como a avestruz que enterra sua cabeça na areia, nós estamos nos sufocando na areia, no entanto essa nos parece a única saída.
E, depois de certo tempo, nós não somos mais capazes de tirar a nossa cabeça da areia da depressão.
Nós nos fechamos tanto para a vida e para quaisquer sentimentos, que não somos mais capazes de reverter a situação e efectuar a mudança; a oportunidade de dizer “sim” às emoções parece encontrar-se além da nossa capacidade.
A depressão atingiu o clímax.
Por um lado, nós não conseguimos aceitar as nossas emoções de medo, desespero, tristeza e solidão, nem as compartilhar com outras pessoas.
Por outro lado, sabemos e sentimos que é agonizante e doloroso viver sem emoções; que isto é uma forma de morte, a negação total da nossa essência viva.
Passado um tempo, nós desejamos voltar a sentir.
A dor de não sentir é maior do que a de sentirmos as nossas emoções.
Esta é a nossa salvação e este é o ponto de virada.
A recusa para sentir e o pensamento “não, eu não posso, eu não quero isto, quero estar morto, quero desaparecer…” tornam-no tão oco, tão vazio por dentro, que não conseguimos mais sustentar essa situação.
Do ponto de vista da alma, o que acontece então é que a vida começa a ficar mais forte; ela não pode ser refreada indefinidamente.
Quando a força vital é reprimida intensamente durante muito tempo, ela cria uma força oposta que acaba irrompendo.
A força da onda gigante que quer correr para a praia não pode ser retida para sempre.
Num certo momento, emerge um “sim” do nosso interior, mesmo que não o percebamos conscientemente.
Nada é estático na vida; a ânsia pela vida é impossível de ser detida.
Quando o clímax foi atingido, nós criamos acontecimentos na nossa vida que provocam mudança; isto cria um rompimento na barragem. 
Às vezes isto ocorre sob a forma de uma tentativa de suicídio.
Se falhar, poderá ocorrer uma espiral ascendente, porque o nosso sofrimento se torna muito visível para o mundo exterior.
Quando descobrimos o quanto os outros se preocupam connosco, podemos abrirmos-nos para mais Luz e para recebermos compreensão e simpatia.
Entretanto, também pode acontecer que não nos abrimos e permaneçamos deprimidos.
Não existe uma receita pronta de como pode acontecer tal rompimento.
No entanto, a vida tem uma força propulsora e impulsora que não permite que alguém se mantenha indefinidamente num estado estático de consciência.
Mesmo que a nossa vida terrena realmente termine em suicídio, nós imediatamente teremos que nos defrontar com novas escolhas do outro lado, porque ainda teremos que experimentar os nossos sentimentos lá.
A tristeza que existia enquanto estávamos vivos, com nossos sentimentos de dor e ansiedade, agora tem a capacidade de se apresentar ainda mais agudamente, de um modo menos velado.
Às vezes o plano astral, para onde nós vamos depois da morte, nos confronta directamente com as emoções que reprimimos e, deste modo, elas começam a fluir novamente.
Por exemplo, uma pessoa pode sentir-se desesperada e horrorizada quando morre e descobre que a vida realmente não terminou.
Ou vê as emoções da sua família na Terra, seu sofrimento e tristeza, e fica muito afectada por isso.
O facto de ela ser tão tocada pode gerar um novo movimento na alma que acabou de desencarnar.
Isto pode levar a um avanço, fazendo com que essa alma se abra para a ajuda dos guias que estão sempre ao seu lado, tanto na Terra quanto no Céu.
A ajuda está sempre disponível, desde que se esteja aberto para isso.
Não importa para que lado nós nos viramos, a vida é mais poderosa do que qualquer desejo de morte.
A vida sempre reassume nosso direito de ser; nós não podemos matá-la.
Portanto, sempre existe uma esperança.
Fiquemos com isto para nós mesmos, mas também para outros que vemos sofrer.
As coisas podem parecer tão desprovidas de esperança às vezes, mas sempre existe uma outra perspectiva, embora a nossa mente não consiga imaginar como pode ser isso e nem como a mudança ocorrerá.
A vida é sempre mais forte que a morte, a Luz é mais forte do que a escuridão.
A água pode romper uma barragem, porque tem o poder de se movimentar: ela empurra, ela está viva!
O poder da água é mais forte do que a força de resistência que deseja represá-la.
Sintamos a força impulsionadora da vida no nosso interior por um instante.
Às vezes nós temos algumas partes bloqueadas, padrões que se repetem infinitamente, como dúvidas a respeito de nós mesmos, sentimentos de inferioridade, incerteza, desconfiança, raiva, resistência… Agora imaginemos que esses bloqueios simplesmente estão aí, e que a vida continua a fluir ao redor deles, ao mesmo tempo.
A água continua a correr e, embora ainda existam pedras no riacho que parece tão fixo e sem movimento, elas vão sendo desgastadas pelo movimento e pressão da água que passa por elas.
Leva tempo, mas não nos esqueçamos de quem somos: nós somos a água que vive!
Quanto mais nos lembrarmos disto, mais podemos resgatar a energia dessas pedras e pedregulhos que estão no riacho.
Há dores do passado que continuam ali.
Nós não precisamos subestimá-los nem os tornar irrelevantes, mas também não precisamos carregá-los para fora do rio.
Só precisamos lembrar-nos que nós somos a água!
Algumas vezes isto pode ser difícil porque, em parte, nós acabamos nos identificando com as pedras que bloqueiam a nossa energia: “Sou uma pessoa que não está bem ancorada na Terra; tenho dificuldade para me sentir à vontade aqui; trago tristezas e traumas do passado…”
Tudo isto é verdade, mas imaginemos, por um instante, que essas ideias são como pedras e pedregulhos dentro de um rio grande e largo – uma enorme correnteza de água.
Porque é isto que nós somos; esta é a nossa força vital verdadeira.
É a nossa alma que flui e flui, sempre ao longo do caminho – viva, borbulhante, correndo e rugindo, explorando e descobrindo.
Esse fluxo não faz nenhum tipo de julgamento sobre as pedras que encontra; ele as engole. Nós temos escolha!
É claro que de vez em quando ficamos presos com a nossa consciência nesses bloqueios, quando começamos a nos identificar com eles durante muito tempo.
Mas podemos nos desligar deles simplesmente experimentando ser como a água corrente.
Lembremos-mos que somos uma alma-consciência viva, sempre se movendo e fluindo, e que não estamos presos a esses bloqueios… nós somos livres!
Quanto mais afastamos a nossa consciência desses bloqueios – das pedras que se encontram aí – mais facilmente eles se rendem ao fluxo.
Eles se rendem mais cedo porque nós nos desapegamos deles e nos identificamos com a água corrente.
A água é a nossa alma, e não pode ser detida.
Sintamos-la fluindo, movendo-se e cintilando.
Imaginemos que ela nos está lavando, e sintamos a força borbulhante, a Luz que brilha nela.
Sintamos como, no fundo da nossa alma, ela não é ameaçada pela escuridão que vivenciamos; por aquelas pedras que parecem tão sólidas e inflexíveis.
A nossa alma não é perturbada de maneira nenhuma pelo que se encontra ali, porque sabemos que as pedras pertencem a esse lugar; elas fazem parte da paisagem da vida.
Quando estivermos presos numa dessas “pedras”, tentemos ouvir a água passando.
Lembremos-mos da água e da tranquilidade com que ela flui.
Nós não temos que fazer tudo sozinhos.
A vida nos proporciona infinitas oportunidades e possibilidades.
Às vezes ela pode levar-nos a vales profundos e escuros, mas ela também nos impulsiona de volta para cima, para a Luz.
Mesmo quando nós temos a sensação de que não somos mais capazes de lutar, e não conseguimos ver como as coisas poderiam se resolver satisfatoriamente, a vida ainda nos impulsiona.
A arte de viver é preservar a confiança, mesmo quando parece não restar nada em que se possa confiar, e tudo que era certo para nós desapareceu da nossa vida.
Neste momento na Terra, muitas pessoas estão envolvidas no processo de lidar com a antiga escuridão; partes da alma estão vindo à Luz agora e desejam ser vistas.
E por que está acontecendo isto?
Porque o ser humano está dando um salto à frente.
É realmente um salto na evolução da consciência da humanidade.
Este salto não pode ser dado sem que entremos em contacto com os lugares mais sombrios da nossa consciência, aqueles que estão cheios de medo, falta de confiança ou de uma profunda tristeza em relação a tudo o que vivenciamos na Terra.
Não tenhamos medo dessa escuridão – acolhamos-la!
Quando nós dizemos “sim” para a escuridão, ela começa a se libertar e fluir, e essa é a arte de viver esta vida.
E quando nós sentirmos “eu realmente não consigo dizer sim para isto”, lembre-se que existe alguma coisa em nós que ainda diz “sim”.
É isto que vai salvar-nos e levar-nos adiante – confiemos na vida.
Maria Madalena nos ama a todos; nós somos-lhe muito queridos.
Talvez pensemos “Como pode ser isso? Você não pode conhecer a todos nós pessoalmente”.
Mas nós, como seres humanos, não sabemos o quanto a rede de almas é abrangente.
Quando nos conectamos com outra pessoa a partir da alma, estabelece-se uma conexão permanente.
Uma ligação assim forjada não se separa com o passar do tempo, porque na outra dimensão não existe tempo.
Existe uma rede viva conectando-nos como almas.
Nós compartilhamos uma determinada história, um determinado desejo, uma chama que um dia foi acesa em nossas consciências.
Com essa chama a Terra está gradualmente se iluminando.
A consciência despertada em todas as pessoas nos une e cria uma nova fundação, sobre a qual o salto em consciência realmente ocorrerá.
Nós não precisamos reflectir sobre isto.
Que cada um se mantenha em seu próprio processo, no seu próprio caminho – isto é suficiente.
Sintamos o poderoso impulso da vida, não apenas em nós mesmos, mas em muitos outros, através dos quais a onda de consciência está inundando a Terra.

Gratidão,
Luís Barros