Maria Madalena, também trilhou o caminho
do ser humano na Terra, conheceu e explorou suas profundezas e foi tocada por
uma Luz vivida e brilhante que a inspirou e tomou conta dela, fazendo-a
lembrar, sonhar e ansiar por um mundo mais bonito e melhor na Terra.
Conheceu os dois extremos; tanto a Luz
quanto a escuridão.
Esses extremos são pólos que devem estar
juntos; poderíamos dizer que são a força motriz um do outro.
A vida parece ser feita de opostos: Luz
e escuridão.
Os sentimentos que eles provocam parecem
ser opostos, entretanto existe uma ligação oculta entre eles: um não pode
funcionar sem o outro.
A experiência da Luz só é possível
quando se vivência a ausência dela e através do contraste com seu oposto, a
escuridão.
A Luz nunca é tão visível quanto quando
surge da escuridão.
Pensemos nos primeiros raios do Sol ao
raiar do dia; a luz quente da manhã que banha o mundo.
E como essa luz pode tocar-nos
profundamente, especialmente se estivermos emergindo de uma noite fria e
escura.
Contraste cria dinâmica – vida,
movimento, crescimento, mudança – então a escuridão tem uma função em nossa
vida.
Entretanto, os seres humanos geralmente
vivenciam a escuridão como a antítese da Luz; não como uma motivação para
mudança e crescimento, mas como uma armadilha ou poço onde são capturados e de
onde não conseguem mais sair.
Desse poço profundo parece que nós perdemos
contacto com a Luz, como se ela tivesse sido cortada de nós.
Cada um de nós conhece esse estado
mental de ser cortado da Luz, de ser privado do senso de significado e
propósito da vida.
Isto, na realidade, é estar morto.
A única maneira possível de morrer não é
a morte física, mas a cessação de qualquer movimento em nosso coração, nossos
sentimentos e nossa mente.
Na realidade, a morte não existe; a
nossa alma é eterna e continua vivendo.
Tudo que é mortal em nós é apenas forma;
a nossa essência é eterna e não pode morrer.
Entretanto, nós podemos perdê-la de
vista temporariamente, a tal ponto que nos tornamos rígidos internamente e paramos
de nos mover.
Nós estamos mortos por dentro e sentimos-mos
profundamente deprimidos.
Este é um estado extremamente doloroso!
Descemos para esse estado deprimido e
investiguemos-lo com a mente aberta.
O que acontece quando alguém perde toda
esperança, se recolhe e se sente impotente diante de todos os sentimentos que
brotam de dentro de si?
Geralmente essa reacção é provocada por
acontecimentos externos que são perturbadores; acontecimentos que a pessoa não
consegue localizar em seu quadro de referência, e que faz com que tudo na vida
dela se torne incerto.
Pode ser algo grande, como a morte de um
ente querido, uma doença, a perda do emprego, o fim de um relacionamento…
Estes são acontecimentos que afectam
profundamente a pessoa e podem levá-la à beira do abismo.
Entretanto, às vezes a escuridão pode se
revelar a partir do nosso próprio interior sem uma causa externa clara.
Cargas emocionais antigas, que foram
gravadas na memória da nossa alma, vêm à superfície; experiências dolorosas,
possivelmente originadas em vidas anteriores, brotam das profundezas do nosso
ser e temos que lidar com sentimentos sombrios, medos e dúvidas.
Experiências intensas de carência,
solidão e fracasso podem entrar na nossa psique sem razão e podem fazer-nos perder
o equilíbrio tanto quanto qualquer evento externo que nos aconteça.
Quando se é apanhado numa depressão, na
Noite Escura da Alma, ela sempre vem com a experiência de termos sido tragados
e sermos incapazes de lidarmos com todas as emoções que se apresentam.
O fluxo de emoções pesadas e dolorosas é
vivenciado como algo grande demais para se suportar.
Nós somos dominados por elas… ou assim nos
parece… e nos fechamos com uma profunda sensação de impotência.
No momento em que voltamos as costas às
emoções e nos recusamos a encará-las, nós ficamos paralisados.
Essas emoções desejam fluir; é essencial
que as emoções continuem seguindo adiante como uma grande onda que arrebenta e
corre em direcção à praia.
Mas nós ficamos com medo de permitir
isso, então nos recusamos a acompanhar esse movimento e fugimos dessas emoções
que nos inundam.
Nós construímos uma barragem e dizemos:
“Não consigo lidar com isso. Eu não quero isso. Quero por um fim nisso.”
A nossa reacção – geralmente resultado
de absoluta impotência – cria depressão, que é um estado de dormência e de
estarmos fechados para a vida.
Com o tempo, essa situação se torna
insustentável e nós não queremos mais viver.
Do ponto de vista terreno, nós queremos
morrer porque a vida está intolerável.
Mas, do ponto de vista da alma, nós estamos
mortos e esta é uma experiência tão insuportável, que queremos fazer tudo o que
podemos para por um fim a essa situação.
O desejo de morrer é essencialmente um
desejo de mudar, um desejo de voltar a viver.
As pessoas que desejam cometer suicídio
têm um profundo desejo de vida, não de morte.
É justamente este sentimento de estar
morto por dentro que as conduz ao desespero extremo.
Sua ânsia de viver é que as leva a dar
um fim às suas vidas físicas.
Quando vivenciamos uma depressão, há em nós
uma combinação de profunda resistência e extrema vulnerabilidade.
A depressão é uma forma de nos defendermos
contra o enorme poder das emoções que ameaçam tragar-nos.
Nós pensamos que elas nos destruirão e,
assim, em nossa impotência, construímos uma concha ao nosso redor, envolvemos-nos
num casulo que nos impeça de sentirmos qualquer coisa.
Nós não queremos mais permanecer aqui.
Assim como a avestruz que enterra sua
cabeça na areia, nós estamos nos sufocando na areia, no entanto essa nos parece
a única saída.
E, depois de certo tempo, nós não somos mais
capazes de tirar a nossa cabeça da areia da depressão.
Nós nos fechamos tanto para a vida e
para quaisquer sentimentos, que não somos mais capazes de reverter a situação e
efectuar a mudança; a oportunidade de dizer “sim” às emoções parece
encontrar-se além da nossa capacidade.
A depressão atingiu o clímax.
Por um lado, nós não conseguimos aceitar
as nossas emoções de medo, desespero, tristeza e solidão, nem as compartilhar
com outras pessoas.
Por outro lado, sabemos e sentimos que é
agonizante e doloroso viver sem emoções; que isto é uma forma de morte, a
negação total da nossa essência viva.
Passado um tempo, nós desejamos voltar a
sentir.
A dor de não sentir é maior do que a de
sentirmos as nossas emoções.
Esta é a nossa salvação e este é o ponto
de virada.
A recusa para sentir e o pensamento
“não, eu não posso, eu não quero isto, quero estar morto, quero desaparecer…”
tornam-no tão oco, tão vazio por dentro, que não conseguimos mais sustentar
essa situação.
Do ponto de vista da alma, o que
acontece então é que a vida começa a ficar mais forte; ela não pode ser
refreada indefinidamente.
Quando a força vital é reprimida
intensamente durante muito tempo, ela cria uma força oposta que acaba
irrompendo.
A força da onda gigante que quer correr
para a praia não pode ser retida para sempre.
Num certo momento, emerge um “sim” do nosso
interior, mesmo que não o percebamos conscientemente.
Nada é estático na vida; a ânsia pela
vida é impossível de ser detida.
Quando o clímax foi atingido, nós criamos
acontecimentos na nossa vida que provocam mudança; isto cria um rompimento na
barragem.
Às vezes isto ocorre sob a forma de uma
tentativa de suicídio.
Se falhar, poderá ocorrer uma espiral
ascendente, porque o nosso sofrimento se torna muito visível para o mundo
exterior.
Quando descobrimos o quanto os outros se
preocupam connosco, podemos abrirmos-nos para mais Luz e para recebermos
compreensão e simpatia.
Entretanto, também pode acontecer que
não nos abrimos e permaneçamos deprimidos.
Não existe uma receita pronta de como
pode acontecer tal rompimento.
No entanto, a vida tem uma força
propulsora e impulsora que não permite que alguém se mantenha indefinidamente
num estado estático de consciência.
Mesmo que a nossa vida terrena realmente
termine em suicídio, nós imediatamente teremos que nos defrontar com novas
escolhas do outro lado, porque ainda teremos que experimentar os nossos
sentimentos lá.
A tristeza que existia enquanto estávamos
vivos, com nossos sentimentos de dor e ansiedade, agora tem a capacidade de se
apresentar ainda mais agudamente, de um modo menos velado.
Às vezes o plano astral, para onde nós
vamos depois da morte, nos confronta directamente com as emoções que reprimimos
e, deste modo, elas começam a fluir novamente.
Por exemplo, uma pessoa pode sentir-se
desesperada e horrorizada quando morre e descobre que a vida realmente não
terminou.
Ou vê as emoções da sua família na
Terra, seu sofrimento e tristeza, e fica muito afectada por isso.
O facto de ela ser tão tocada pode gerar
um novo movimento na alma que acabou de desencarnar.
Isto pode levar a um avanço, fazendo com
que essa alma se abra para a ajuda dos guias que estão sempre ao seu lado,
tanto na Terra quanto no Céu.
A ajuda está sempre disponível, desde
que se esteja aberto para isso.
Não importa para que lado nós nos viramos,
a vida é mais poderosa do que qualquer desejo de morte.
A vida sempre reassume nosso direito de
ser; nós não podemos matá-la.
Portanto, sempre existe uma esperança.
Fiquemos com isto para nós mesmos, mas
também para outros que vemos sofrer.
As coisas podem parecer tão desprovidas
de esperança às vezes, mas sempre existe uma outra perspectiva, embora a nossa
mente não consiga imaginar como pode ser isso e nem como a mudança ocorrerá.
A vida é sempre mais forte que a morte,
a Luz é mais forte do que a escuridão.
A água pode romper uma barragem, porque
tem o poder de se movimentar: ela empurra, ela está viva!
O poder da água é mais forte do que a
força de resistência que deseja represá-la.
Sintamos a força impulsionadora da vida
no nosso interior por um instante.
Às vezes nós temos algumas partes
bloqueadas, padrões que se repetem infinitamente, como dúvidas a respeito de nós
mesmos, sentimentos de inferioridade, incerteza, desconfiança, raiva,
resistência… Agora imaginemos que esses bloqueios simplesmente estão aí, e que
a vida continua a fluir ao redor deles, ao mesmo tempo.
A água continua a correr e, embora ainda
existam pedras no riacho que parece tão fixo e sem movimento, elas vão sendo
desgastadas pelo movimento e pressão da água que passa por elas.
Leva tempo, mas não nos esqueçamos de
quem somos: nós somos a água que vive!
Quanto mais nos lembrarmos disto, mais
podemos resgatar a energia dessas pedras e pedregulhos que estão no riacho.
Há dores do passado que continuam ali.
Nós não precisamos subestimá-los nem os
tornar irrelevantes, mas também não precisamos carregá-los para fora do rio.
Só precisamos lembrar-nos que nós somos
a água!
Algumas vezes isto pode ser difícil
porque, em parte, nós acabamos nos identificando com as pedras que bloqueiam a
nossa energia: “Sou uma pessoa que não está bem ancorada na Terra; tenho
dificuldade para me sentir à vontade aqui; trago tristezas e traumas do
passado…”
Tudo isto é verdade, mas imaginemos, por
um instante, que essas ideias são como pedras e pedregulhos dentro de um rio
grande e largo – uma enorme correnteza de água.
Porque é isto que nós somos; esta é a nossa
força vital verdadeira.
É a nossa alma que flui e flui, sempre
ao longo do caminho – viva, borbulhante, correndo e rugindo, explorando e
descobrindo.
Esse fluxo não faz nenhum tipo de
julgamento sobre as pedras que encontra; ele as engole. Nós temos escolha!
É claro que de vez em quando ficamos
presos com a nossa consciência nesses bloqueios, quando começamos a nos
identificar com eles durante muito tempo.
Mas podemos nos desligar deles
simplesmente experimentando ser como a água corrente.
Lembremos-mos que somos uma
alma-consciência viva, sempre se movendo e fluindo, e que não estamos presos a
esses bloqueios… nós somos livres!
Quanto mais afastamos a nossa
consciência desses bloqueios – das pedras que se encontram aí – mais facilmente
eles se rendem ao fluxo.
Eles se rendem mais cedo porque nós nos
desapegamos deles e nos identificamos com a água corrente.
A água é a nossa alma, e não pode ser
detida.
Sintamos-la fluindo, movendo-se e
cintilando.
Imaginemos que ela nos está lavando, e
sintamos a força borbulhante, a Luz que brilha nela.
Sintamos como, no fundo da nossa alma,
ela não é ameaçada pela escuridão que vivenciamos; por aquelas pedras que
parecem tão sólidas e inflexíveis.
A nossa alma não é perturbada de maneira
nenhuma pelo que se encontra ali, porque sabemos que as pedras pertencem a esse
lugar; elas fazem parte da paisagem da vida.
Quando estivermos presos numa dessas
“pedras”, tentemos ouvir a água passando.
Lembremos-mos da água e da tranquilidade
com que ela flui.
Nós não temos que fazer tudo sozinhos.
A vida nos proporciona infinitas
oportunidades e possibilidades.
Às vezes ela pode levar-nos a vales
profundos e escuros, mas ela também nos impulsiona de volta para cima, para a
Luz.
Mesmo quando nós temos a sensação de que
não somos mais capazes de lutar, e não conseguimos ver como as coisas poderiam
se resolver satisfatoriamente, a vida ainda nos impulsiona.
A arte de viver é preservar a confiança,
mesmo quando parece não restar nada em que se possa confiar, e tudo que era
certo para nós desapareceu da nossa vida.
Neste momento na Terra, muitas pessoas
estão envolvidas no processo de lidar com a antiga escuridão; partes da alma
estão vindo à Luz agora e desejam ser vistas.
E por que está acontecendo isto?
Porque o ser humano está dando um salto
à frente.
É realmente um salto na evolução da
consciência da humanidade.
Este salto não pode ser dado sem que
entremos em contacto com os lugares mais sombrios da nossa consciência, aqueles
que estão cheios de medo, falta de confiança ou de uma profunda tristeza em relação
a tudo o que vivenciamos na Terra.
Não tenhamos medo dessa escuridão –
acolhamos-la!
Quando nós dizemos “sim” para a
escuridão, ela começa a se libertar e fluir, e essa é a arte de viver esta
vida.
E quando nós sentirmos “eu realmente não
consigo dizer sim para isto”, lembre-se que existe alguma coisa em nós que
ainda diz “sim”.
É isto que vai salvar-nos e levar-nos
adiante – confiemos na vida.
Maria Madalena nos ama a todos; nós
somos-lhe muito queridos.
Talvez pensemos “Como pode ser isso?
Você não pode conhecer a todos nós pessoalmente”.
Mas nós, como seres humanos, não sabemos
o quanto a rede de almas é abrangente.
Quando nos conectamos com outra pessoa a
partir da alma, estabelece-se uma conexão permanente.
Uma ligação assim forjada não se separa
com o passar do tempo, porque na outra dimensão não existe tempo.
Existe uma rede viva conectando-nos como
almas.
Nós compartilhamos uma determinada
história, um determinado desejo, uma chama que um dia foi acesa em nossas
consciências.
Com essa chama a Terra está gradualmente
se iluminando.
A consciência despertada em todas as
pessoas nos une e cria uma nova fundação, sobre a qual o salto em consciência
realmente ocorrerá.
Nós não precisamos reflectir sobre isto.
Que cada um se mantenha em seu próprio
processo, no seu próprio caminho – isto é suficiente.
Sintamos o poderoso impulso da vida, não
apenas em nós mesmos, mas em muitos outros, através dos quais a onda de
consciência está inundando a Terra.
Gratidão,
Luís Barros