26 de julho de 2021

O LIVRO DA LUZ - SETE

Vou-lhe contar um segredo.

Você acredita que Cristo não tinha fé?

- Não, não posso crer nisto!

- Mas é verdade.

Cristo superou a fé e chegou ao nível mais alto de comunhão com Deus.

A fé o homem só tem quando é testado ou quando se vê diante dela por imposição da vida.

Cristo não vivia falando a ninguém se tinha ou não tinha fé.

Ele sempre repetia: “O Homem que tem Deus tudo vencerá, tudo terá”.

Ele sempre disse: “Eu tenho o Pai e o Pai tem a mim. Eu sou o Pai e o Pai sou eu”.

Mas quando Ele dizia isso Ele não estava afirmando ser Deus, o Um.

Ele estava tentando explicar que todo ser que atinge a consciência da Verdade divina está acima do bem e do mal, acima dos preconceitos e dos julgamentos, pois é um ser livre e por ser livre também liberta e o próprio Cristo explicou isto com um belo exemplo.

Ao dizer que tinha Deus Cristo revelou à Terra o mais alto nível de evolução dela ou o nível possível a que esta um dia deverá chegar.

Cristo deixou claro para as pessoas que ter Deus era ter um pai todos os dias, em todas as horas.

Ter Deus era o mesmo que ter o criador da fé, o criador de tudo.

Portanto ter Deus era superior a ter fé, mas para chegar a ter Deus o ser humano tinha que se permitir ultrapassar a fé, pois a fé era algo destinado somente a um deus, visto apenas como Deus, e isto ainda não era o ideal.

- Ter Deus tornava o homem mais próximo de seu legítimo e único Pai.

Ter Deus era como dizer: “Eu tenho um Pai que tudo pode, pois tudo criou”.

Essas palavras transmitem mais segurança aos homens e os tornam mais íntimos de seu Pai, algo que há muito Deus procurava ensinar a seus filhos e eles não compreendiam.

Deus, muito antes de ser Deus, foi e é nosso Pai, nosso Criador, porém muitos ensinamentos e conceitos foram se formando ao passar de longos anos e muitos deles foram ditando regras ou rituais rigorosíssimos para fazer o homem se aproximar de Deus, quando na verdade Deus jamais se afastou de seus filhos.

Por isso, meu bom menino, quando Cristo dizia ter Deus ou ser Deus Ele não estava mentindo.

Ele estava afirmando o que sentia e um dia a humanidade também afirmará a mesma coisa.

- Senhor Rabi, como a gente faz para ouvir a Deus?

- Essa é a coisa mais simples de todas, porém a mais difícil de ser compreendida por alguns seres, justamente pela incapacidade que eles têm de fazer isto.

Acredito que para você isso não seja algo tão difícil assim, pois você ainda carrega a virtude (inocência) que lhe facilita esse diálogo.

Preste bem atenção no que vou-lhe dizer e você descobrirá o segredo de falar com Deus.

Nós temos duas bocas que vivem falando o tempo todo.

Até mesmo os mudos têm essas duas bocas, só que neles somente uma vive a falar.

A outra vive em silêncio.

A boca que expressa o som, que bebe e come é a segunda boca, pois ela só existe se a primeira existir.

A primeira boca é a boca da nossa mente, a boca do pensamento, que só se cala quando estamos dormindo.

Essa é a boca mais importante e a mais difícil de calar, pois estamos o tempo todo pensando, ocupando nossa mente e esta, por sua vez, ocupa nossa segunda boca.

Para falar com Deus devemos calar nossa boca da mente, calar nossos pensamentos, ficar em total silêncio e profunda harmonia e paz e assim, com nossas duas bocas caladas, abrimos nossos ouvidos para nosso coração ou nossa intuição, palavras que alguns sábios dão para os sentimentos.

Quando nossos ouvidos estão ocupados ouvindo o som da nossa própria voz ou prestando atenção nos próprios pensamentos não conseguem ouvir a Deus.

Porém quando estão a ouvir um silêncio muito grande, como se nada ouvissem, algo divino os penetra.

Respostas, palavras que fogem ao seu conhecimento, mas que a mente identifica como de inspiração divina, pois ela não as pensou, já que estava em silêncio.

Outra maneira de falarmos com Deus é a meditação da oração.

Quando o ser humano se entrega à oração meditando profundamente cada palavra dela, Ele traz luz para sua mente quando esta se encontra nublada.

- Rabi, eu sei que as pessoas dizem que Deus fala através dos anjos, espíritos da natureza, etc., mas eu quero saber se algum ser humano já ouviu de verdade a voz de Deus.

- Sim, meu querido, muitos seres já ouviram a voz de Deus.

Também é facto que na maioria das vezes Deus se faz presente através de anjos, espíritos e outros, porém existem seres de uma iluminação grandiosa que conseguem ouvir a voz de Deus.

Geralmente esses seres são vistos como iluminados, porém jamais o admitem, pois sabem que isso é uma vaidade humana.

Alguns desses seres de facto chegam a ser famosos, porém não precisam fazer propaganda para isso.

Em geral alcançam a fama pelos actos e acções.

Esses seres não se deixam aprisionar pela fama e não dão muita importância ao glamour que ela causa.

Costumam agir sempre da mesma maneira simples e verdadeira.

Não se permitem corromper ou rotular.

- E por que esses seres se tornam famosos, Rabi?

- Justamente porque terminam por atrair um número muito grande de pessoas em busca da sabedoria que possuem.

Assim também foi com Jesus, que com toda sua simplicidade e luz atraía um número muito grande de pessoas.

Ele jamais vestiu roupas pomposas ou caras, jamais andou com dinheiro no bolso, jamais ergueu um templo ou casa.

Muitas vezes andava descalço, com vestes simples de carpinteiro.

Poucas foram as sandálias que vestiram seus sagrados pés.

Cristo não se orgulhava nem se envaidecia de sua superior sabedoria, jamais humilhou um irmão, jamais sentiu rejeição ou preconceito por qualquer ser vivo, porém, sua Verdade ofendeu muitos seres vaidosos e cheios de preconceito e estes passaram a caçar Cristo como um animal.

Na verdade, eles sabiam quem Cristo realmente era e também sabiam que se permitissem que Ele continuasse a ensinar a Verdade ao povo Ele não seria mais dominado por ninguém.

Houve uma época em que o Cristo passou a ser visto como o próprio Deus que se havia feito encarnar para nos ensinar.

A sabedoria de Cristo chegou a ser testada por várias vezes e em todas elas Ele surpreendeu as pessoas que O testavam, mas Cristo não podia ser admitido como Deus, pois Deus não seria um ser tão simples e humilde.

A ideia que algumas pessoas tinham de Deus era de templos luxuosos, vestes de beleza grandiosa e um ser de poderes extraordinários, que num estalar de dedos colocaria o mundo a seus pés.

Cristo veio justamente para mudar essa imagem errónea de Deus e mostrar o Deus verdadeiro que poucos conheciam.

Ele veio para clarear as nuvens de mistérios que colocaram em torno de Deus, porém não foi possível dar tão grande conhecimento a todos.

Como já lhe disse antes, Cristo escolheu poucos seres que estavam aptos a entender essa Verdade e a revelou a eles para que esses também tivessem seus escolhidos e assim por diante.

Dessa forma a Verdade jamais seria esquecida.

Para o povo Cristo ensinou o básico, suficiente para que desejassem continuar a evoluir.

- A partir de agora vou dividir em duas partes os ensinamentos de Cristo: aquele que Ele deu ao povo e aquele que Ele deu a seus poucos escolhidos e tu, meu pequeno, vai-me dizer qual desejas que eu te conte primeiro.

- Eu gostaria que o senhor me contasse primeiro o que Cristo ensinou aos escolhidos.

- Já que escolhestes essa parte tenho por obrigação te dizer que este ensinamento é um segredo sagrado, que em nossa época deve permanecer escondido e guardado.

Ele deve ser revelado apenas para seres muito especiais, que estejam prontos para isso.

- Mas como vou saber se uma pessoa está pronta para isso, senhor Rabi?

- Isso, meu bom garoto, vai ser a coisa mais fácil depois que tu adquirires o conhecimento da Verdade, pois esta revela para ti o que se esconde por trás do mais denso véu, mas tu não te deves revelar sabedor desta Verdade, se sábio fores de verdade.

Em primeiro lugar atenta para o nome que vou-te dizer.

Este nome tu não deves esquecer jamais, porém não deves viver a pronunciá-lo, pois já vi muitas pessoas serem castigadas por falá-lo.

- Yahweh ou Sheva, esses são os nomes primitivos de Deus ou os nomes que revelam a chave dos mistérios divinos.

Durante muitos anos apenas um grupo minúsculo de seres era conhecedor desses nomes e dos mistérios que havia por trás deles.

Por interesses puramente machistas alguns sábios retiraram as vogais do nome de Deus dizendo que elas tornavam o nome divino poderoso demais, capaz de destruir uma casa se fosse pronunciado ou escrito na íntegra.

Na verdade, isso foi criado apenas para manter o povo sob rédeas curtas e doutrinados de acordo com a vontade daqueles que se julgavam saber mais.

Desta forma eles criaram um Deus apenas masculino, que chamavam de O Grande Homem e até hoje Deus é visto como homem.

Por isso o homem se sente no direito de colocar a mulher em segundo plano para Deus e ele obviamente é o primeiro.

Portanto o homem é mais importante, tem mais força, mais direitos e é dono de tudo, inclusive da mulher, que é tão-somente uma aquisição sua e dessa maneira muitos anos se passaram e ainda hão-de passar até o homem ter em si o domínio de quase tudo que julgar importante para ele.

Muito distante da tua e da minha imaginação o princípio de tudo começou a ser escrito.

Isso se deu quando Deus ainda era um grande vazio.

- Tu te lembras como se fez a vida?

- Sim, Rabi, o senhor me contou.

- Muito bem, meu garoto, então preste muita atenção no que vou-te falar.

A primeira Trindade de Deus começou quando Ele ainda era o vazio.

Logo que Deus se criou se tornou o segundo corpo.

O vazio era o primeiro corpo.

O grito de Deus seria então o terceiro corpo.

Agora vou explicar a você cada um desses corpos que forma a primeira Trindade.

O vazio era o corpo mais importante de Deus, pois o vazio em sua infinidade manifestou-se criador e completo, porém nem Deus nem o vazio sabiam disso, afinal ambos eram um só, porém o que Deus não tinha consciência era que o vazio era tão-somente seu próprio espírito, pois o vazio era e é aquilo que não se vê, não se toca, não se sabe onde ou porque.

É como uma tela em branco, uma mente sem imaginação, audição e visão.

É como um sono sem sonhos ou lembranças.

O espírito de Deus gerou seu corpo físico e assim deixou de ser vazio.

O corpo físico de Deus continuaria a ser vazio e o próprio vazio não teria progresso algum se existisse tão-somente o corpo físico.

O que Ele saberia e o que sentiria se não existissem as emoções?

O corpo físico de Deus não teria motivo de existir se fosse apenas uma tela em branco.

- A função do corpo físico de Deus era dar ao espírito (vazio) sabedoria e aprendizado.

Para isso o grito de Deus se fez.

No momento em que o corpo de Deus soltou sua primeira emoção o espírito recebeu sua primeira emoção intuitiva e os seres que nasceram a partir desse grito trouxeram a Deus inúmeras outras emoções até então desconhecidas pelo vazio (espírito) e esse aos poucos começou a ser preenchido.

Como já disse antes, Deus de tudo provou: morte, frio, medo, fome, tristeza, dor, alegria, paz, euforia, insanidade, lucidez, raiva, ira, perdão, bondade, enfim, inúmeras emoções.

Assim se fez a primeira Trindade de Deus: o vazio (espírito inconsciente), corpo e os filhos do grito, a primeira acção e reacção de Deus.

Na segunda Trindade Deus absorveu para si todas as emoções.

Assim Ele voltou a ser Um.

O vazio (espírito) de Deus estava confuso, cheio, perturbado pelas próprias emoções.

Por essa razão preferiu ser Um.

Assim colocou para dentro de seu corpo aquelas emoções e passou a repensá-las e compreendê-las.

O espírito confuso penetrou no corpo de Deus e absorveu o aprendizado que cada emoção Lhe ensinara.

Dessa forma chegou a um alto nível de consciência e evolução.

Deus e o espírito agora eram um só, preenchido de emoções.

Nesse estágio Deus soltou ao seu redor dois tipos de energias diferentes, energias essas que as pessoas chamam de Bem e Mal.

Deus as criou de acordo com as reacções de suas emoções.

Das inúmeras emoções Ele criou apenas duas energias.

Essas energias seriam suficientes para identificar se uma emoção era boa ou ruim.

Assim o Deus consciente se tornou três mais uma vez: o Deus consciente e as duas energias, positiva e negativa, bem e mal (a segunda Trindade de Deus).

Mas não vamos esquecer que Deus, por ter chegado à consciência, dava igual importância a estas duas energias e justamente por ter compreendido que elas eram a raiz principal de suas emoções que Ele as criou como guias ou professores de emoções.

Mas há algo muito importante em tudo isso e que você não deve esquecer, meu pequeno.

É que Deus liberou o bem e o mal como professores, porém Deus não liberou a consciência e isso Ele fez por dois motivos simples.

Primeiro não há evolução sem aprendizado e não há aprendizado sem emoção e essas são frutos da inconsciência.

- Então como as pessoas vão chegar a ter consciência, Rabi?

- Calma, meu querido, eu já te explico.

Outro motivo pelo qual Deus não liberou a consciência é o mais óbvio e também o mais simples.

Quando um ser humano aprende que o fogo queima suas mãos ele tem consciência do perigo que o fogo representa e assim procura não ultrapassar os seus limites.

Este é apenas um exemplo mínimo de consciência e em nada se assemelha à consciência divina, porém é neste exemplo mínimo que tentarei explicar o motivo pelo qual Deus não liberou a consciência.

Como o homem que aprende as coisas aqui na Terra e não pode se livrar do que aprendeu Deus também não podia se libertar, ou melhor, se separar de sua consciência.

O homem pode até não usar um aprendizado, mas sua mente não o joga fora, apenas o guarda ou o esconde quando este aprendizado não é muito agradável às lembranças do homem, porém quando uso a palavra consciência me refiro ao nível maior, onde essa é superior ao bem e ao mal.

Um bom exemplo desta consciência são as palavras de Jesus Cristo quando foi colocado diante dele uma mulher que, pelos seus pecados, deveria ser apedrejada.

Cristo não a julgou, mas deu a ela e a todos que ali estavam a justiça verdadeira dizendo:

“Atire a primeira pedra aquele que não tiver pecados”.

A consciência permite que você enxergue a solução de um problema sem prejudicar ninguém.

Por isso está sempre acima do bem e do mal.

Deus ultrapassou a barreira do bem e do mal quando alcançou sua consciência.

Por isso também jamais ignora um filho seu por pior que ele seja.

Mas além de todas essas verdades a maior de todas é também a mais bela.

Eis ela: Nenhum homem pode alcançar a verdadeira consciência sem antes chegar a Deus, pois Ele é a única e verdadeira consciência universal.

Assim como a Matemática ensina que os números são infinitos Deus também é infinito em consciência e em saber, afinal a Matemática foi Ele que criou.

- Agora vamos à última Trindade de Deus.

A terceira é também a que chamamos de “A Perfeição e Glória do Divino”.

Esta também é a Trindade mais censurada, temida e velada de Deus.

Neste nível superior de evolução o Grande Pai já se sentia completo, mas tudo que Ele sabia e conhecia somente a Ele pertencia.

Não existia ninguém para Ele dividir ou ensinar seus conhecimentos.

Neste estágio Deus ainda preferia manter todos os seus primeiros filhos, os Amorazins, dentro de si.

De alguma forma eles não eram apenas filhos.

Eles eram de facto parte de Deus, que não podiam se separar d’Ele, pois eram suas emoções.

Como as emoções são o caminho para a evolução não é possível ao homem se separar daquilo que já viveu ou sentiu.

É uma maneira de não esquecer o que aprendeu, porém, essas emoções que estavam dentro de Deus se transformaram em sentimento, pois o Criador as compreendeu e a compreensão evoluiu as emoções para o sentimento único chamado Amor Único ou Universal.

- Esse sentimento inexplicável cresceu imensamente dentro de Deus até que o Pai transbordou para fora de si um pouquinho desse Amor e logo que se viu livre este Amor, que já era vida, transformou-se em um ser que em tudo era semelhante a Deus, porém havia algumas pequenas diferenças.

Este ser nascera da perfeição do Pai, não sentia rancor ou dor, mas os conhecia, afinal seu código espiritual era idêntico ao do Pai.

Tudo que o Pai sabia este ser sabia.

- Rabi, esta história está muito mal contada.

O senhor me disse que a chama gémea de Deus teve que evoluir separada d’Ele.

Agora o senhor diz que ela já nasceu sabendo tudo.

Afinal qual é a verdade?

- Você é um excelente observador, meu pequeno aprendiz, mas preste atenção no significado das palavras.

Sabedoria não é evolução.

De facto, ela sabia tudo, mas ainda não havia colocado nada em prática, como Deus.

Como todos os seres que o Pai criou eram livres e independentes, justamente para colocar em prática a sabedoria, sua chama gémea não fugiu à regra.

A diferença dela para os Amorazins era apenas que ela já havia sido criada com sabedoria.

Os Amorazins foram criados para dar e receber sabedoria.

Eles nasceram num estágio primitivo de Deus.

Sua chama gémea nasceu num nível muito superior ao dos Amorazins, porém quando ela nasceu os Amorazins já se encontravam no mesmo nível que ela, mas eles ainda permaneciam dentro de Deus.

No entanto a chama gémea de Deus, que agora estava livre, procurou evoluir, afinal tudo que ela tinha era a teoria.

Ela então procurou uma maneira de aprender e fez o mesmo que o Pai, com uma diferença bem clara.

O Pai criou seus primeiros filhos sem consciência de fazê-los, nem mesmo sabedoria.

Ela usou a sabedoria e criou um mundo muito semelhante ao primeiro mundo que o Pai havia criado, porém era um mundo totalmente feminino, delicado e cheio de beleza, mas também cheio de vaidade, luxúria, capricho e sedução.

Deus, que tudo observava sem se deixar observar, percebeu naquele ser os pequenos detalhes que lhe faltavam e também notou como ela usava sua fragilidade para conquistar ou adquirir certas coisas.

Devo esclarecer que a chama gémea de Deus também criou criaturas (os Evins) e as manipulou.

Como Deus, também as amou e as protegeu.

Em suma, mesmo com sabedoria, este ser cometeu tantos erros quanto Deus.

Suas emoções também eram seus filhos e também os ensinou como Deus.

Também sofreu como Ele.

O tempo que Deus os observou foi suficiente para perceber a diferença de comportamento.

O primeiro mundo, criado por Deus, não tinha muito colorido nem tanta beleza, afinal Ele estava em seu primeiro estágio de evolução e não tinha sabedoria alguma.

O primeiro mundo que a chama gémea de Deus criou era como um lindo jardim cheio de beleza e esplendor, mas cheio de fragilidades também.

Foi como se Deus se visse no espelho, mas de uma nova maneira, é claro.

- Não demorou muito e esse ser maravilhoso também mostrou as suas garras.

Era impiedosa, às vezes piedosa.

Era odiosa e às vezes amorosa.

Enfim, suas emoções variavam como as de Deus.

Era um ser apaixonante que Deus pacientemente esperou evoluir.

Ela tomou a mesma atitude que Deus havia tomado e resolveu devolver para dentro de si suas emoções que tanto a perturbavam e durante um longo período as analisou até as compreender uma a uma.

Foi então que se sentiu imensa e cheia de amor.

Quando se igualou a Deus o amor de ambos os atraiu e eles se uniram para nunca mais se separar.

- Essa é a segunda parte da trindade perfeita de Deus e após a conclusão dessa união Deus, já único e absoluto, em consciência suprema, libertou de si um corpo puro, imortal como Ele, um corpo com profunda sabedoria, porém não devemos nos esquecer de um pequeno detalhe.

Tudo que Deus criou tinha sabedoria, mas faltava a ele a prática, afinal tal feito somente o Pai havia alcançado, pois toda sua evolução foi feita de prática, onde tudo Ele provara pela primeira vez.

Este grande corpo era a mistura perfeita dos seus primogénitos e dos primogénitos de Eva.

Esclarecendo melhor, eram apenas a mistura e não de facto os primogénitos.

- Este corpo celeste que nasceu da fusão de Deus e Eva na verdade eram os primeiros filhos do Deus Magnus, do Deus consciente e completo.

Volto a lembrá-lo do facto de Deus ter preservado os seus primogénitos, pois agora vou-te mostrar, meu menino, onde Deus guardou esses primogénitos.

Logo que Ele compôs a terceira parte de sua perfeita e última Trindade Ele deu um lugar muito especial a estes primeiros filhos no grande corpo.

Os Amorazins eram o coração desse corpo e os Evins eram o cérebro.

Compreender o motivo dessa escolha é muito fácil.

Os Amorazins foram as primeiras emoções de Deus.

Eram puras.

Cada uma delas era distinta, jamais se repetiram.

Eram emoções da incoerência do Divino.

Nasceram dos impulsos naturais do Pai.

Nada antes delas jamais havia existido.

Eram as primeiras emoções e por essa razão se mantiveram juntas, reunidas em um único lugar nesse corpo que o Pai acabara de criar, mas agora o Pai as devolvia ao universo perfeitas e elas deixaram de ser emoções para ser um só sentimento, o Amor Absoluto Universal.

Os primogénitos de Eva já nasceram da mãe semiconsciente, afinal Eva, quando saiu do Pai, já tinha sabedoria, mas faltava-lhe a prática, coisa que ela só poderia ter se tivesse como aprender o que isso era de facto.

Para isso Deus permitiu que Eva criasse seres a cada emoção que sentisse.

Assim nasceram as emoções racionais, aquelas que já nasceram com propósito e para servirem a um propósito.

Então de certa forma essas emoções não eram puras ou totalmente inconscientes como as primeiras de Deus, pois já haviam nascido de um ser que tinha sabedoria e só não tinha a prática da mesma, mas antes que você me pergunte vou-lhe responder algo que provavelmente está confundindo sua mente.

Quando Deus criou Eva ela nasceu perfeita e sábia, porém o mais importante em todo ser criado pelo Pai é a liberdade.

Cada ser pode ter sabedoria, mas a prática é o sentir e isso cada ser deve viver, cada ser tem que ter suas próprias emoções, senti-las uma a uma, pois esta é a única maneira de se alcançar a evolução que leva a Deus.

Deus, Eva e o primeiro filho de ambos forma a última Trindade Divina, mas é aí que tudo começa para os espíritos que nasceram desta Trindade.

O grande corpo celeste que o Pai tirou de si era sua alma e a alma de sua chama gémea Eva, que unidos originaram os primeiros filhos.

Esses filhos foram divididos em três partes: o coração, que são os Amorazins, também chamados de raiz ou aqueles que nasceram da semente única; o cérebro, que são os Evins, aqueles que nasceram da sabedoria, também chamados de filhos dos galhos (chamados de galhos porque Eva foi considerada como sendo os galhos da Grande Árvore.

Quando Deus se tornou a Árvore da Sabedoria ela foi considerada seus galhos, pois foi a expansão do sentimento de Deus consciente) e os Infinins, aqueles que eram os frutos da Árvore da Sabedoria quando esta se transformou em Árvore da Evolução da Vida.

Em suma, a terceira e última Trindade de Deus e o Pai, sua chama gémea e os filhos dessa união.

- Rabi, tudo isso é muito confuso e estranho, mas gostaria de saber se entendi tudo.

No princípio Deus era a semente que se gerou do seu espírito inconsciente e logo criou raízes, que na verdade são a expansão da sua consciência reflectida nos Amorazins.

Depois Deus voltou a ser um e dividiu suas emoções em duas máximas, bem e mal.

Depois voltou a ser dois quando criou Eva e ela, já tendo sabedoria, seguiu o mesmo destino que Deus, criou seres, os Evins, que mais tarde colocou dentro de si como Deus fez com os Amorazins.

Depois ela voltou para Deus e ambos se uniram e, além dos seres que já haviam criado, criaram um número ainda maior de seres que se juntaram aos primogénitos deles e só a partir de então, oficialmente, os espíritos nasceram e começaram a evoluir.

É isso ou ainda não compreendi nada, Rabi?

- Não se preocupe, meu pequeno aprendiz, você compreendeu tudo direitinho, faltando apenas alguns pequenos detalhes.

O facto de todos os espíritos terem nascido juntos não significa que todos tenham a mesma idade, afinal os Amorazins e os Evins nasceram uma segunda vez, pois o facto deles terem sido as emoções de seus criadores conta como uma primeira encarnação.

- Não seria uma primeira vida do espírito, Rabi?

- Não, meu garoto, os Amorazins, como os Evins, provaram da vida e da morte.

Eles tiveram um corpo perecível, não igual ao nosso, é claro, mas muito mais grotesco e inexplicável.

Deus matava um Amorazim, mas não apagava de sua lembrança a existência desse ser, o que criava um espírito imortal, pois era justamente a lembrança que mantinha vida dentro de Deus.

Então, meu querido, tanto Amorazins como Evins foram criados primeiro e sem dúvida alguma têm mais evolução que os Infinins, pois já nasceram tendo obtido a teoria e a prática.

Os Infinins nasceram apenas com a teoria.

Falta a eles a prática e é justamente essa a função dos Amorazins e Evins: dar prática aos Infinins de acordo com a livre vontade deles, é claro.

- Existem seres em um grau de evolução inferior aos Infinins?

- Sim, meu querido, existe, mas agora preste muita atenção para entender a explicação que vou dar, pois essa é uma revelação que chocaria a humanidade se ela viesse ao conhecimento público.

- De acordo com os níveis de evolução os Amorazins são os que estão mais próximos de Deus.

Isso lhes dá um extraordinário poder e sabedoria e como todo ser copia o caminho do Pai os Amorazins não poderiam fugir a essa regra.

Eles são como as raízes daquela semente única (Deus), porém quando essas raízes se aprofundam para se firmar e expandir seu território uma hora voltam a surgir na superfície e terminam por germinar um broto.

Este pequeno broto cresce, torna-se uma árvore e quando está pronta dá frutos e sementes.

Falando agora claramente, quando um Amorazim evolui o suficiente é dado a ele o mesmo direito que Deus tem em si de ser pai.

Com amor e profunda gratidão,

Luís Barros