20 de abril de 2021

SEBENTA – 41

VIVER SEM TENSÃO

Nós somos Jó

O Livro de Jó é na verdade um clássico aclamado universalmente, porque retracta (como o Bhagavad-Gita Hindu) a luta travada continuamente no campo do seu consciente (visível e invisível).

É na verdade a sua história, que lhe ajuda a ter uma visão objectiva de si mesmo.

Jó perdeu a orientação de Deus e da Sabedoria Divina, que o protegia automaticamente em sua juventude. 

Os amigos de Jó são: a tradição, o dogma, a doutrina (costumes, religião e opiniões) e em sua mente eles concordam que ele seja um pecador porque está quase morto e pronto para ser sepultado.

Jó na verdade é atormentado e perseguido por seus próprios temores, dúvidas, autocrítica e autocondenarão, que reflectem as opiniões do mundo em vez da percepção da Verdade que o libertaria.

Aqui Jó está adormecido para a sabedoria e clama por uma explicação.

O credo e dogma de nada adiantam a Jó em seu sofrimento; ele não tem resposta.

Os que semeiam o mal colhem o mesmo.

Essas palavras não são consolo para um homem cujo corpo está martirizado de dor.

Os preceitos morais não bastam.

O enredo de Jó é uma prova para ver se o homem realmente conhece a Deus, ou se quando a adversidade e a tragédia o atingirem ele denunciará e rejeitará o conceito de Deus.

Na verdade, é disso que trata a história.

O homem pode ser muito religioso, do ponto de vista mundano; pode ser um bom católico, protestante, judeu ou budista, ou de qualquer outra crença religiosa, pode cumprir todos os rituais, ritos, cerimónias e ser frequentador assíduo ou comungante em determinada igreja, e, no entanto, pode sofrer as torturas dos condenados.

Tal como Jó nós fazemos as mesmas perguntas.

Estamos distorcidos por uma emoção vingativa e maldosa, e obstinados em nossa recusa do perdão; invocamos imprecações e maldiçoes sobre aquele que queremos atingir.

Esse estado de consciência é a nossa verdadeira religião; os nossos pensamentos, sentimentos e crenças íntimas representam a nossa religião ou relacionamento com a vida, que é sempre perfeita e íntegra.

É-nos feito conforme a nossa crença.

A lei da vida é a lei da crença, e a crença é um pensamento em nossa mente.

Os pensamentos que nós temos sobre o outro se são de ódio, despeito e vingança, geram uma emoção destruidora em nossa mente subconsciente, onde essa emoção se emaranha, e, como essas emoções de ódio, ciúmes e vingança têm de ter uma saída, aparecem-nos como uma doença do corpo.

O motivo por que algumas pessoas são doentes e outras têm saúde é a diferença na crença delas.

As nossas verdadeiras crenças íntimas e subjectivas é que se manifestam.

A nossa verdadeira religião foi explicada há milhares de anos.

Como o homem pensa em seu coração, assim ele é.

Como se pode por uma etiqueta sectária à paz, amor, alegria, sabedoria, compreensão, paciência, bondade, boa vontade, justiça, esclarecimento, sabedoria divina e compaixão?

São qualidades, atributos e potencialidades de Deus e pertencem a todos os homens.

Quando começamos a exprimir essas qualidades de Deus, estamos começando a construir o Reino de Deus na terra.

A nossa ligação extrema a uma determinada igreja, grupo ou organização religiosa é o modo como nos sentimos em nosso coração.

Se somos amigos de Deus, se amamos a verdade, se somos leais para com Deus, se irradiamos o amor e boa vontade para com os outros, se somos felizes, alegres e livres, e vivemos na expectativa alegre do melhor, temos uma religião maravilhosa, independentemente do facto de pertencer ou não a alguma igreja.

Seguimos o nosso caminho, e como temos acreditado assim nos será feito.

Em que acreditaríamos?

Dizem-nos para crer que Deus é Maravilhoso, o Deus Poderoso, o Pai Eterno, o Conselheiro, o Príncipe da Paz; e, portanto, devemos começar agora a acreditar que Deus é o nosso Pai extremoso, que nos vigia, nos orienta e dirige, nos sustem e fortalece, e que o Seu Amor nos enche a alma.

Acreditemos que Deus é uma lâmpada para os nossos pés e uma Luz em nosso caminho.

Acreditemos na vida abundante e que a vontade de Deus para nós é uma coisa que transcende os nossos mais caros sonhos.

A Bíblia não manda que acreditemos em credos, dogmas, tradições, igrejas ou uma determinada teologia; ao contrário, as verdades da Bíblia existiam antes de existir qualquer igreja, ou antes, que qualquer homem caminhasse pela terra.

Os princípios básicos do radio, televisão e radar sempre existiram.

Moisés e Jesus poderiam ter usado alto-falantes e aviões a jacto em suas viagens.

As verdades eternas, as qualidades de Deus e Sua Lei são as mesmas ontem, hoje e para sempre.

Deus e Sua Lei não mudam, o homem é variável e inconstante.

Deus e Sua Verdade são imutáveis, eternos e sem idade.

O Amor, a Sabedoria são imutáveis, eternos e sem idade.

O Amor, a Sabedoria, a Alegria, a Beleza, a Inteligência, a Harmonia, a Ordem Divina, nunca nasceram e nunca morrerão.

A única verdadeira religião no mundo é exprimir a verdade sobre Deus.

O que é verdade de Deus é verdade do homem pois o homem e Deus são um só.

Só existe Um Ser e o homem é esse Ser expresso; as qualidades e poderes do Pai devem estar no filho, e, portanto, devemos reivindicar a nossa filiação agora e libertar o esplendor aprisionado que está no interior.

Quando alguém nos perguntar qual é a nossa crença, devemos responder que temos fé na bondade infinita de Deus, em Seu Amor envolvente, na Vida Eterna, na saúde perfeita, na fartura e suprimento infalível de Deus.

Declaremos que temos uma fé implícita na lei de Deus que sempre reage à natureza do nosso pensamento (o nosso pedido).

Nós temos fé de que quando pedimos pão, Deus, o nosso Pai amantíssimo, não nos dará uma pedra; nós sabemos em nosso íntimo que quando pedimos um peixe, Ele, o nosso Pai dedicado e bondoso, não nos dará uma serpente.

Nós temos fé no bem, pois Deus é infinitamente bom e perfeito.

Que essa resposta baste.

Adoptemos o espírito do perdão e invoquemos as bênçãos do Todo-Poderoso para os outros e para nós próprios.

Durante uns minutos falemos, em voz alta: “O Amor de Deus enche minha mente e o meu corpo.”

Realiza-se uma notável modificação mental e física e estamos certos de que experimentaremos a graça de Deus e uma cura perfeita.

O amor no coração leva o amor para todas as células do corpo, então só Deus mora ali, e Deus é o Amor.

O Amor dentro, o Amor fora, a Paz dentro, a Paz fora.

Compreendamos que todo o sofrimento se deve a uma reacção da mente subconsciente, ao nosso pensamento negativo ou o nosso fracasso em pensar construtivamente, pois se não conseguimos dar padrões harmoniosos e construtivos à nossa mente profunda, e se deixamos de alimentar a nossa mente com premissas que sejam verdadeiras, detendo-nos em tudo o que for belo e de bom nome, teremos de sofrer por isso.

Se não escolhermos e seleccionamos os nossos pensamentos, ideias e imagens mentais, a mente racial, os jornais ou as outras pessoas controlarão o nosso pensamento e o nosso estado de espírito.

Escolhamos as nossas próprias emoções e pensamentos, do contrário o mundo, com sua vanglória, temores, dúvidas, ódios e invejas, intrigas e confusão, nos empurrará e seremos escravos e não senhores.

A ignorância domina quando a Sabedoria se ausenta, e a ignorância é Satanás, que é o desolador de nossa alma.

Vã e inútil é a voz do medo quando clama pela paz.

O amor reage ao chamado do amor, pois o profundo chama o profundo.

Aqui Jó acende um fogo espiritual ao dizer: “Não encontro socorro em mim, a esperança de salvação me foi tirada.”

Começa a lhe surgir o pensamento de que Deus está dentro dele.

O conceito tradicional de um ser antropomórfico, acredita num Deus no céu ou em algum lugar fora.

Naturalmente, Deus está em a toda parte, dentro e fora, pois a Vida é Deus omnipresente.

Quando eramos pequenos, estudando o catecismo, diziam-nos que um ateu era um homem que não acreditava em Deus, mas quando perguntamos onde ficava Deus, disseram-nos que Ele estava num trono no céu e que se fossemos bonzinhos e não cometêssemos pecados mortais um dia poderíamos ir lá e vê-lo tocando harpa.

Alguns de nós deveríamos ser ateus, quando eramos meninos, pois não acreditamos na resposta, mas sabíamos que um dia teríamos as respostas.

Descobrimos que o professor de catecismo não parecia saber de nada que valesse a pena, e que ninguém sabia de nada.

Tinham palavras sem significado, orações sem compreensão, religião sem ciência, crenças sem conhecimento, fé sem sentimentos, Deus com um demónio, e céu com o inferno.

Dizem-nos que o motivo por que estamos doentes é que somos um pobre pecador, ou Deus nos está castigando, ou nos está pondo à prova, e essa explicação nos faz sentir pior do que antes.

Perguntamos a alguém por que o seu filho morreu e ele lhe diz: “É a vontade de Deus”.

Isso achamos difícil de entender e talvez tenhamos amaldiçoado a Deus, abandonado a igreja e nos tornado ateus.

A Vida não pode desejar a morte.

Deus é a Vida e a Vida gosta de manifestar como ventura, harmonia, alegria, beleza, amor, paz, ordem e simetria.

A vontade de Deus é a natureza de Deus, e a Sua vontade para nós deve necessariamente ser algo de maravilhoso, milagroso, glorioso e extático.

Jó diz: “ensinai-me”, o que significa que é uma discussão entre o seu ser inferior e o superior, ou entre nós e o nosso desejo.

Nós somos Jó querendo resolver o problema do sofrimento, doença e realizar o desejo do nosso coração.

Nós devemos raciocinar com clareza de percepção e com a espada da percepção espiritual, expulsando todas as falsas teorias, crenças e doutrinas nos mantendo firmes sobre o rochedo do Poder Espiritual Único – o nosso próprio consciente, que é senhor e dono do nosso mundo.

Queimemos, crememos e consumamos decisivamente todos os pensamentos, temores e dúvidas negativas, qualquer coisa e tudo que desafie a realização do nosso desejo.

Compreendamos que a omnipotência se move a nosso favor e nada poderá deter o seu poder, e, portanto, esperamos com alegria, paciência e entusiasmo para a oração ser atendida.

Jó chega às profundezas.

É o momento de levantar os olhos para Deus e as coisas que são de Deus, isto é, dedicar os nossos pensamentos, desejos, planos a Deus e declarar que a ordem divina, a harmonia e o amor fluem em nós.

Ao fazer isso, o Espírito nos leva avante para a vitória, liberdade e a realização.

Recusemos o tipo de mente que crê que estamos sendo castigados por Deus pelos nossos pecados, conforme explanado em muitas teorias ortodoxas eclesiásticas.

Nós não somos castigados por nossos pecados, e sim os nossos pecados nos castigam, o que é uma reacção automática do nosso subconsciente ao nosso pensamento costumeiro.

A palavra pecado significa errar o alvo ou o fracasso em conseguir que nossa oração seja atendida.

O nosso pecado é o nosso fracasso em levar uma vida plena e feliz.

Quando erramos o alvo mental ou a meta que se impôs na vida, pecamos, ou erramos o alvo.

Identifiquemos-mos mentalmente e emocionalmente com o nosso ideal, enalteçamo-lo em nossa mente, cortejemo-lo e exijamo-lo com coragem e o Poder Omnipotente em nós reagirá e fará com que se realize.

Todo o castigo e sofrimento são auto-infligidos consciente ou inconscientemente.

Havia um rapaz de dezasseis anos que nunca conseguia arranjar um emprego - sempre havia alguém antes dele.

Ele errou o alvo (emprego) umas oito ou nove vezes.

Resolveu rezar por isso, e na entrevista seguinte, viu que havia mais 15 rapazes presentes.

Uma ideia surgiu espontaneamente das profundezas de seu subconsciente e ele a escreveu num papel entregando à secretária, que por sua vez o entregou ao gerente.

Este leu o recado, que dizia: “Sou o décimo quinto rapaz na fila, não vá contratar ninguém antes de falar comigo.”

Ele conseguiu o emprego.

Conversamos com pessoas doentes, e que nos dizem: “Ah, é o meu carma. Está acelerado porque estou desenvolvendo-me espiritualmente.”

Alguns se mostram bastante obstinados e agressivos nessas determinadas crenças.

Esse tipo de raciocínio capcioso destina-se a tapear-nos e enganar-nos.

Muitas dessas pessoas têm complexo de mártir e acreditam que Deus os tenha destacado para algum castigo ou por algum motivo inescrutável.

Esse tipo de raciocínio é realmente pouco consolador, e, não obstante é muito comum.

Tudo o que experimentamos é uma reacção do nosso pensamento e crenças habituais, conscientes ou inconscientes.

Não podemos experimentar nada que não seja parte de nosso consciente.

O nosso estado de consciência é o nosso modo de pensar, sentir, crer e aquilo a que dermos o nosso consentimento mental.

Nós estamos submersos na mente inconsciente colectiva, na qual todas as pessoas do mundo despejam os seus pensamentos, crenças, temores, ódios, esperanças e irritações.

Todas as intrigas, ciúmes, e planos injustos e perversos tramados no cérebro fétido do homem também estão sendo enviados para essa mente da massa; nós somos uma estação receptora e transmissora, e, estando na mente racial, devemos mantermos-mos sempre rezando, se não os temores, dúvidas e ansiedades da mente racial encherão a nossa mente e alcançarão um ponto de precipitação, aparecendo como doença, desapontamento e problemas de todo o tipo.

É tão essencial limpar a mente quanto o corpo, do contrário a mente se encherá dos detritos mentais do mundo.

Jó lamenta a sua sorte e não encontra consolo nem luz nas expressões ortodoxas dos credos formais que a ele não parecem mais que um soporífico adormecendo as pessoas para a verdade, que Deus vive nele e toda a Sua Sabedoria, Poder e Amor podem ser do homem por meio de Seu pensamento e sentimento.

Se reclamamos poderes fora do Poder Único, não somos mais leais para com Deus, não amamos mais a Deus.

Amar é ser fiel, leal, dando a nossa obediência à única Presença e depois o Espírito Santo se moverá em nós como saúde, harmonia, paz, abundância e segurança.

Nós estamos aqui para cantar o cântico do triunfo.

 

Com amor e profunda gratidão,

 

Luís Barros